Conhecia o João Brochado desde que ele regressou a Portugal das ex-colónias e começou a trabalhar no GAT. Depois convivi com ele por várias vezes durante a realização das Feiras Nacionais de Cerâmica e da Fruta. Mais recentemente contactei mais directamente com ele quando estava a fazer a sua licenciatura de Design de Ambientes, o que me permitiu conhecer muitas das suas apostas e expectativas. Era um homem preocupado com o mundo e com a qualidade da vida de cada um, mas que havia começado na idade madura um novo percurso académico para melhorar a sua performance profissional. Agora estaria a querer ultrapassar uma nova barreira académica frequentando um mestrado na ESAD.
Por isso foi como muito pesar que soube do que lhe aconteceu desde Agosto do ano passado e da fase mais recente ocorrida no mês de Fevereiro no CHO das Caldas da Rainha. Não irei entrar nas questões clínicas nem cirúrgicas, uma vez que para isso me falta capacidade técnica e científica. Mas, por ironia do destino, no mesmo período de Fevereiro passado, fui confrontado também com uma pequena cirurgia no mesmo hospital, que felizmente correu bem, tendo podido verificar in loco algumas das questões que agora se levantam. Mas guardarei para momento posterior abordar este tema, não ignorando que existem neste momento alguns problemas funcionais na unidade hospitalar caldense, mas podendo dizer com inteira segurança que continuo a confiar plenamente – e esta afirmação é importante para os nossos leitores e potenciais utentes – no sistema hospitalar da cidade e nos seus profissionais em geral, mesmo que possam existir algumas disfuncionalidades casuais.
Também tenho consciência que faltam meios compatíveis com algum nível de incerteza na prática médica e hospitalar, como aquela que agora é referida da inexistência de uma Unidade de Cuidados Intensivos, devidamente equipada e providenciada com pessoal competente. Os factos ocorridos nas últimas semanas nas Caldas da Rainha e Chaves exemplificam essa situação, reforçados pelos números divulgados no domingo passado pelo Diário de Notícias, que referem que em Portugal existem atualmente quatro a cinco camas de cuidados intensivos por cada cem mil habitantes quando a média europeia é de 12, colocando o nosso país numa das piores posições a nível europeu neste domínio.
Alemanha, Luxemburgo, Roménia assumem-se como os países com mais oferta de camas para cuidados intensivos na Europa, com respectivamente, 29,2, 24,8 e 21,4 camas por cada cem mil habitantes.
Sobre Unidades de Cuidados Intensivos tenho alguma experiência pois há cerca de duas décadas passei numa delas em Coimbra quase dois meses, na sequência de um acidente rodoviário de que fui vítima, permitindo-me ter a noção muito apurada do papel crucial que estas unidades têm na vida moderna das populações. Provavelmente deveria haver uma distribuição mais equilibrada destas unidades no país, apesar de termos a noção bem certa, que se trata de uma das instâncias hospitalares de maior custo. Mas afinal custam o preço da vida de muitos portugueses.
Provável e compreensivelmente, para a família do João Brochado, estas palavras pouco contarão, porque perderam-no de uma forma à primeira vista repentina e inesperada. Mas para além de sentirmos também muito a sua dor, gostaríamos que este infausto acontecimento possa servir para que no futuro se previnam outros acontecimentos ligados a este tipo de ocorrências como à carência de unidades de cuidados intensivos que podem acontecer a qualquer um de nós.
À família do João Brochado apresentamos em nome pessoal e da Gazeta das Caldas, com quem colaborou por várias vezes, como aquando da colocação recente de um monumento nas Caldas da Rainha, os nossos sentidos pêsames.

JLAS

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