
Rui Forsado (1893-1969) é natural de Elvas, onde foi caixeiro (atual empregado bancário). Mas foi nas Caldas que se tornou pai, tendo ajudado também a nascer a Misericórdia caldense
Rui Celso de Carvalho Forsado (1893-1969) nasceu em Elvas e morreu nas Caldas, aos 76 anos. Figura “esguia”, mas com uma vida pródiga em atos de solidariedade e de luta pelas classes mais desfavorecidas, está sepultado no Cemitério de N. Sra do Pópulo, onde o neto, João Forsado, o deu a conhecer e à sua obra, a 27 de setembro.
Redator na Gazeta das Caldas – um dos primeiros -, publicou quatro livros e inúmeros artigos em jornais como o Voz do Operário, República, Combate, a par das muitas conferências que deu, como sejam na Sociedade Nacional de Belas Artes (1943) ou mesmo num comício promovido pela Associação de Empregados do Comércio, para “reclamar dos poderes públicos a limitação das horas de trabalho” (1914), contou o neto.
Foi provedor da Misericórdia das Caldas durante 10 anos, fazendo referência a este seu cargo num artigo da Gazeta de novembro de 1930, a propósito do lançamento da primeira pedra do edifício daquela instituição. E, de 1937 a 1941, foi presidente da mesa da assembleia geral do Montepio Caldense.
Republicano, foi militante do Partida Socialista Português e apoiou a campanha do General Norton de Matos, em 1949. Terá sido ainda um dos fundadores dos Inválidos do Comércio (1929), revelando preocupações para com os mais velhos num discurso que profere, em 1949, intitulado “Casas de repouso: solução oportuna para o problema da velhice”.
Publicou “A situação da mulher no comércio” (1914) (uma brochura), “Para o calvário (jornadas dum caixeiro)” (1934), “Gil Vicente nas Caldas” (1937) (uma conferência realizada a 10 de abril de 1937, no salão nobre do Montepio) e “As Ruas das Caldas” (1966).
Os dois primeiros evidenciam a luta pela defesa da classe dos caixeiros, à qual pertenceu enquanto viveu em Elvas; terá sido bancário no Lisboa & Açores (atual Santander). Mais tarde (conforme referência de 1954), terá sido publicista.
O neto não sabe precisar quando nem por que é que o avô se mudou para as Caldas, mas é sabido que teve dois casamentos, o primeiro com a sua avó materna, e o outro com Beatriz Belo, da família dos Belos. Nas Caldas mandou construir um prédio na Rua Dr. Miguel Bombarda, o número 47. A data mais antiga que encontrou remonta ao ano de 1937, ressalvando, porém, que “não me convence” (pensa que a construção será anterior).
Durante uma temporada está na Amadora, tendo pertencido à comissão desta (então) freguesia de apoio à candidatura a presidente do General Norton de Matos.
Aderiu ao então Partido Socialista Português ainda jovem, pois em 1918 já escreve no “Combate”, o jornal “central” do partido; é uma atividade que o continuará a acompanhar nas Caldas. “Apesar de ter sido um revolucionário, não considero o meu avô um ativista político apenas. Ele era ativista a favor dos pobres, dos necessitados”, afirma o neto, orgulhoso.
Esse traço de caráter é visível no seu livro “Ruas das Caldas”. “O meu avô começa o livro com a história da passagem da Rainha D. Leonor por aqui e da fundação das misericórdias, e depois sentiu a necessidade de ir buscar a origem dos nomes das ruas, (muitas já mudaram de nome)”, continua. A obra levou-lhe mais de vinte anos a escrever, tendo-a publicado três anos antes de morrer, com a sensação de estar ainda incompleta. Reeditada pela Gazeta, a primeira tiragem terá sido uma edição de autor, pois a editora é uma tal de “Edições Solidariedade”, sediada na residência de Rui Forsado. “Se houve mais livros publicados por ela, não sei”, confessa o neto.
Foi na biblioteca de Rui Forsado, no prédio da Rua Miguel Bombarda, que o neto encontrou este livro, bem como a maioria dos exemplares de jornais contendo os artigos do avô, que deu a conhecer na visita guiada. Agora, esse espólio, juntamente com tantos outros livros (obras completas de grandes autores portugueses ou mesmo franceses), vai ser doado a Óbidos, onde foi criado um espaço no Convento de S. Miguel das Gaeiras para acolher estes praticamente dois mil livros, bem como a secretária, a cadeira e o cadeirão onde o avô passava longas horas, na sua biblioteca. Está apenas a faltar a aprovação dos termos da doação em sessão de câmara, o que João Forsado espera que seja feito ainda com o atual executivo em funções.
João Forsado destacou um artigo da Gazeta das Caldas de 29 de maio de 1927 para ler aos presentes, a respeito da inauguração do monumento a D. Leonor, para cuja construção foi organizada uma “subscrição pública”.
Terminamos com um pensamento de Sousa Viterbo, que é sempre bom relembrar: “É possível que haja alguém que sorria desdenhosamente do amor a estas velharias e que nos responda que fora melhor tratar dos vivos e deixar os mortos. A esses responderemos que a nação que perdeu o culto dos seus antepassados não pode ter aspirações no futuro”.






























