O falecimento do caldense João Brochado no hospital de Abrantes, a 24 de Fevereiro, depois de ter sido operado no hospital das Caldas e de ter sido recusada a sua transferência para vários hospitais (centrais e regionais), veio tornar ainda mais premente a necessidade da existência de uma unidade de cuidados intensivos (UCI) nas urgências caldenses.
O caso foi denunciado na passada semana pelo Diário de Notícias, a quem a família do falecido manifestou a sua indignação, e depressa se tornou num caso com a atenção mediática nacional.
De tal forma que a morte de João Brochado será investigada pela Inspecção-geral das Actividades em Saúde e os hospitais das Caldas e de Abrantes abriram processos de inquéritos internos.
João Brochado, de 60 anos, foi operado à vesícula e vias biliares a 12 de Fevereiro, pelo cirurgião Pedro Coito, na sequência de outra intervenção cirúrgica realizada em Agosto passado a um tumor de origem rara no aparelho digestivo, e terá contraído uma infecção que o colocou em perigo de vida, necessitando de ser transferido para uma unidade de cuidados intensivos dois dias depois.
Segundo uma nota de imprensa do CHO, foram nessa altura contactados, sucessivamente, o Hospital de Santa Maria, o Hospital de Loures e o Hospital de Leiria, que não tinham camas disponíveis nas suas unidades de cuidados intensivos. O CHO salienta que os contactos foram iniciados cerca das 16h00 e meia hora depois já tinha sido identificada uma vaga em Abrantes, tendo o doente saído das Caldas às 17h00. “Os tempos decorridos estão de acordo com os circuitos habitualmente realizados e necessários à transferência segura dos doentes”, diz o documento do CHO.
Já em Abrantes, João Brochado foi alvo de mais duas intervenções cirúrgicas, mas acabaria por falecer no dia 24 de Fevereiro. Segundo o Diário de Notícias, a certidão de óbito que já está na posse da família diz que o caldense terá morrido após “peritonite, problemas de tensão e ampuloma (cancro da ampola de vater, no sistema digestivo)”.
À Gazeta das Caldas Pedro Coito disse que tem a consciência tranquila em relação a todo o processo e que poderá explicar tudo no âmbito dos processos de averiguações que forem abertos, não tendo querido entrar em mais detalhes por se tratarem de aspectos demasiado técnicos.
“As complicações só não surgem a quem não trabalha. Qualquer procedimento cirúrgico, mesmo o mais simples, pode ter uma complicação”, comentou ainda, lamentando que o desenlace não fosse o melhor.
Na qualidade de presidente do conselho distrital do Oeste da Ordem dos Médicos, Pedro Coito salientou que o problema com a falta de uma unidade de cuidados intensivos nas Caldas “é recorrente e não é novidade nenhuma”.
Segundo o cirurgião, há sempre dificuldades, devido à falta de vagas, em transferir doentes das Caldas para um hospital que tenha UCI. Na sua opinião, o caso das Caldas acabou por ser notícia nacional por causa das situações em que houve doentes a fazerem vários quilómetros até que conseguissem vaga num hospital com UCI. “Parece-me é que não há camas suficientes para acudir a todas as necessidades”, afirmou, salientando também a necessidade de uma unidade destas na região Oeste. “Há anos que andamos a dizer que faz falta um hospital novo e uma UCI na região”, disse.

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

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