O relatório técnico da auditoria da empresa espanhola Frasa Ingenieros ao sistema de captação, adução e distribuição de água mineral natural do Hospital Termal, encomendado pela Câmara das Caldas, releva que são necessários 396 mil euros para a reabertura imediata das termas caldenses. Uma verba que o presidente do município, Tinta Ferreira, diz ter disponível para esse efeito.
Sem grandes novidades em relação ao que tem vindo a ser proposto para a reabilitação do sistema de captação, adução e distribuição, mas dando-lhe um cariz mais técnico e com boas práticas recomendadas, o relatório refere que as práticas locais de higienização da adução e das captações “não foram as mais apropriadas” e sugere que no futuro as Caldas da Rainha aproveitem também a sua capacidade geotérmica como fonte de energia.
Entregue a 16 de Fevereiro, o relatório acaba por confirmar grande parte das medidas que têm vindo a ser defendidas para a captação, adução, distribuição e exploração da água termal. Mas só com esta auditoria, que custou à autarquia cerca de 20 mil euros, poderá ser possível avançar com as obras necessárias para a reabertura do Hospital Termal, de acordo com as exigências do delegado de Saúde Regional de Lisboa e Vale do Tejo, António Tavares.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, diz que, face aos valores envolvidos nesta intervenção, será necessário o visto do Tribunal de Contas e por isso as obras só poderão avançar depois de adjudicado o projecto e seguidamente de ser aberto o concurso para a realização das mesmas. Por outro lado, tudo estará também dependente da passagem do património termal para a autarquia, um processo que há um ano se arrasta sem grandes desenvolvimentos e que antes das eleições autárquicas de 2013 era dado como certo. O edil caldense tem já agendada uma reunião para esta semana com a Direcção Geral do Tesouro e Finanças, a partir do qual espera que surja uma nova proposta de cedência por parte do Estado central.
Segundo Tinta Ferreira, a Câmara tem disponível a verba necessária para avançar com as obras.
A Frasa Inginieros entende que, após as intervenções a curto prazo que propõe, o valor previsível de facturação, com os equipamentos instalados, poderá ser de cerca de 600 mil euros por ano. “Difícil é quantificar os custos de exploração e manutenção, porque não se conhece a estrutura operacional e de custos do Hospital Termal”, refere o relatório.
O relatório apresenta as actuações prioritárias a realizar no curto prazo, mas também acrescenta algumas medidas a tomar a médio e longo prazo. “A satisfação de procuras superiores às do passado, a médio e longo prazo, conduz-nos a uma questão que ultrapassa os limites desta auditoria pois tem a ver com uma decisão política, apoiada no sentir do povo e da percepção local, que é a da inserção do termalismo Caldense, e do seu Hospital Termal nas Caldas da Rainha, no século XXI”, referem nas considerações finais.
Para além de colocarem várias perguntas relativas a qual poderá ser o futuro das termas caldenses, salientam que as futuras intervenções terão de ter em conta também o potencial representado pelas águas termais para usos directos, em aquecimento e climatização, para além das utilizações balneoterápicas “considerando não apenas as águas minerais naturais que brotam naturalmente das várias nascentes, mas ainda os próprios efluentes resultantes da exploração termal”. O aproveitamento geotérmico do recurso existente poderá trazer benefícios a alguns edifícios envolventes.
O relatório refere ainda que “de acordo com os resultados da exploração do Hospital Termal, nos moldes agora propostos, e sem prejuízo de serem buscados caminhos alternativos de maior fôlego, como a construção de novas instalações, poderão ser decididos eventuais obras de reforço se a procura o vier a justificar”.
Segundo o documento, o objectivo da auditoria foi o de “definir as medidas tendentes a manter a água mineral natural das Caldas da Rainha em condições de potabilidade, nos termos legais, de molde a que possam ser realizadas as necessárias intervenções para a reabertura do Hospital Termal das Caldas da Rainha”.
A auditoria incluiu a componente higiénico-sanitária, de projecto das instalações existentes e de hidráulica desde as captações até a distribuição de água mineral natural dentro do balneário.
Para este estudo, os técnicos espanhóis realizaram uma série de reuniões com responsáveis locais e visitas de reconhecimento ao sistema de captações que fornece a água ao Hospital Termal, incluindo todos os furos, e dos circuitos actuais de adução e distribuição de água mineral natural e dos dispositivos de controlo dos mesmos.
A empresa realizou sondagens, visitando apenas os locais e trabalhando a partir dos relatórios técnicos anteriormente elaborados, incluindo os resultados das análises bacteriológicas realizadas periodicamente em amostras dos furos que estavam em funcionamento. Uma parte deste documento acaba, assim, por ser uma compilação de outros que já existiam.
“Práticas de higienização da adução e das captações não foram as mais apropriadas”
Em relação à descontaminação dos furos, o relatório refere que “depois de uma ampla pesquisa internacional entre colegas de diferentes países, e de uma ampla revisão bibliográfica, podemos dizer que não conseguimos informações favoráveis relativas a tratamentos de descontaminação com recuperação de furos afectados pela presencia de Legionella”. Por isso, defendem que, numa política de prevenção, as captações devem ficar afastadas do foco de contaminação, que se manifesta na envolvente imediata do Hospital Termal “onde confluem águas residuais de procedência urbana e, é óbvio, também dos esgotos de águas sanitárias das instalações termais”.
Outro aspecto que focam como provável ponto de contaminação, com recurso a fotografias do local em que é visível bastante lixo, é a da água na obra de Ferreira da Silva junto ao Hospital das Caldas.
Por outro lado, o abastecimento de água mineral ao Balneário Termal tem que contar com um mínimo de dois furos de captação, para evitar o risco de quebra no abastecimento, frente a acidente no furo ou avaria da bomba “com a consequente suspensão dos tratamentos no Hospital Termal, grandes transtornos para os aquistas, e implicações económicas importantes para a administração do complexo hospitalar”.
É ainda proposto “um novo paradigma de exploração” baseado na extracção de pequenos caudais, repartidos por duas captações (inicialmente JK1 e AC2), e na prática de medidas de manutenção preventiva, visando dispensar operações de higienização agressivas.
“Os furos que não apresentarem condições higiénico-sanitárias, e/ou qualidade físico-química adequada da água mineral natural termal requerida, serão paulatinamente desactivados e substituídos por uma nova captação logo que tal se justifique”, refere o relatório, que apresenta uma série de soluções para a reabilitação dos furos de captação e a sua manutenção.
No entanto, recomendam que a médio prazo seja feita a construção de um novo furo de captação.
Esta nova perfuração teria de ser realizada, “quando a procura o justificar, com as melhores tecnologias hoje disponíveis, que permitem garantir plenamente o isolamento do aquífero a captar”.
Subaproveitamento
dos furos
O relatório fez também um levantamento das necessidades de água para o funcionamento do Hospital Termal, com base no número de tratamentos realizados em 2008 (295 tratamentos/mês), concluindo que o consumo de água é “extraordinariamente mais baixo” do que a capacidade dos furos. “A capacidade de extracção, instalada nos furos, é francamente excedentária em relação à procura necessária da água para atender a todos os requerimentos, directos e auxiliares, das instalações termais”. É ainda proposta a instalação de uma nova rede adutora.
Em relação às desinfecções, o relatório refere que “os episódios reiterados de contaminação bacteriológica evidenciam que as práticas de higienização da adução e das captações não foram as mais apropriadas”. Em alternativa ao que tem vindo a ser feito, propõe que o sistema a instalar utilize diferentes soluções, para higienizar e desinfectar equipamentos e redes. O documento explana todos os passos a serem dados para essa desinfecção.
Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt









