A concluir o internato em Urologia no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o caldense Frederico Furriel (neto do ceramista Francisco Furriel, falecido há poucas semanas) falou à Gazeta das Caldas sobre esta especialidade médica, o seu percurso académico e as ligações à sua terra.
Das Caldas da Rainha recorda com saudade o convívio com os amigos e as saídas à Foz do Arelho. Mas são as memórias de infância aquelas que mais marcam: “os passeios no parque com o meu avô, que me levava aos museus, e a ida quase diária à Praça da Fruta com a minha avó”.
Frederico Teixeira Gabriel Furriel só tem 31 anos, mas aquelas que classifica como “as minhas melhores recordações das Caldas” já parecem distantes no tempo porque, de permeio, saiu da cidade, foi estudar para Coimbra e por lá ficou depois de concluído o curso e ter casado com uma colega.
Nas Caldas, o futuro médico estudou do 7º ao 12º ano na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro. Em 2000 parte para Coimbra e licencia-se em Medicina em 2007, tendo feito depois, durante um ano, o internato geral no hospital da Figueira da Foz.
Em 2008 inicia no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra o internato em Urologia, que deverá concluir dentro de meses.
Porquê a Urologia?
“Porque é uma especialidade abrangente. Tem uma parte médica em que estamos com os doentes e podemos tratá-los desde o início da doença e tem outra parte, de cirurgia, da qual gosto muito. As duas complementam-se e realizam-me enquanto médico”.
A Urologia é uma área que tem vindo a ganhar grande importância na Medicina. A razão é simples: muitas das doenças urológicas ocorrem numa idade mais avançada e a esperança média de vida tem vindo a aumentar. Por outro lado, os meios de diagnóstico têm permitido detectar as doenças mais cedo, sobretudo as do fórum cancerígeno, o que aumenta o potencial de pacientes.
“Nos últimos 20 anos houve uma evolução muito grande na Urologia, com taxas de sucesso muito positivas”, diz Francisco Furriel. “Por exemplo, os tumores nos testículos em 90% dos casos são curáveis, enquanto que há uns anos isso era quase uma sentença de morte”.
Daí a importância de os homens fazerem exames regularmente porque, como em qualquer especialidade, quanto mais cedo for diagnosticada uma doença, mais fácil será debelá-la.
Mas a Urologia não trata só cancros. Noutras doenças, como a incontinência urinária ou a disfunção eréctil, tem-se igualmente assistido à introdução de novas terapêuticas que melhoram muito a qualidade de vida dos doentes.
Como urologista, Francisco Furriel acompanha os seus doentes no Serviço de Urologia e de Transplantação Renal do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, visitando-os nas enfermarias, mas não se pode dizer que tenha semanas muito monótonas. Há dois dias que são essencialmente passados no bloco operatório, há um dia por semana passado nas urgências e depois há as consultas e as reuniões de serviço onde, com os seus professores e os seus pares, discute casos clínicos mais complexos.
UM CLIMA HOSTIL CONTRA OS MÉDICOS
A profissão de médico atrai-o. “Gosto muito de ser médico”, reconhece. Mas… “infelizmente há um clima cada vez mais hostil para com os médicos porque são alvo de grande atenção do público, e até atenção mediática, sobretudo nas questões dos litígios médico-legais que são cada vez mais frequentes. E depois há também o ambiente de crise em que vivemos que não ajuda muito”.
Representante em Portugal da Associação Europeia de Internos em Urologia, Frederico Furriel, tem viajado para diversos países para participar em congressos e conferências e conhece a realidade da sua especialidade no estrangeiro. É isso que lhe permite afirmar que “a nossa Urologia pode ombrear em termos de qualidade com o que de melhor se faz na Europa”.
Ainda assim, há coisas que falham em Portugal, não por falta de inteligência ou competência, mas por falta de dinheiro. A cirurgia robótica é uma área apaixonante, mas não existe no país da troika. Frederico Furriel explica: “são cirurgias em que o médico opera o doente através de uma consola, na qual tem visão tridimensional, sendo os movimentos executados por um robot que tem uns braços mecânicos que fazem esse trabalho com uma grande precisão”. Um robot destes custa …2 milhões de euros!
Quando acabar o internato, este urologista não sabe ainda o que vai fazer. Não havendo vagas em Coimbra, restam-lhe os hospitais das zonas periféricas do país, ou ingressar numa carreira privada ou até ir para o estrangeiro.
“Está tudo em aberto, até porque a minha mulher, que está também a acabar o internato [em Pediatria], está nas mesmas condições e não sabemos ainda o que fazer. Logo decidiremos, mas a verdade é que o sector público não é hoje uma carreira muito atractiva”, conta. O casal tem uma filha, a Teresa, de dois anos.
Frederico Furriel já não tem família nas Caldas da Rainha, mas vem frequentemente à cidade, onde dá consultas na Clínica Saúde XXI, e onde tem muitos amigos (há amizades de infância e adolescência que duram para a vida) que gosta sempre de rever.
Nos tempos livres – que não são muitos – tem um predilecção pelo Geocaching, que consiste na procura de pequenas caixas escondidas em vários pontos, através de um aparelho GPS. Uma espécie de caça ao tesouro dos tempos modernos com recurso à tecnologia e que permite visitar e descobrir lugares nem sempre muito óbvios que, de outra maneira, não seriam encontrados.
Carlos Ciprano
cc@gazetadascaldas.pt

Das Caldas da Rainha recorda com saudade o convívio com os amigos e as saídas à Foz do Arelho. Mas são as memórias de infância aquelas que mais marcam: “os passeios no parque com o meu avô, que me levava aos museus, e a ida quase diária à Praça da Fruta com a minha avó”. Frederico Teixeira Gabriel Furriel só tem 31 anos, mas aquelas que classifica como “as minhas melhores recordações das Caldas” já parecem distantes no tempo porque, de permeio, saiu da cidade, foi estudar para Coimbra e por lá ficou depois de concluído o curso e ter casado com uma colega.Nas Caldas, o futuro médico estudou do 7º ao 12º ano na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro. Em 2000 parte para Coimbra e licencia-se em Medicina em 2007, tendo feito depois, durante um ano, o internato geral no hospital da Figueira da Foz.Em 2008 inicia no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra o internato em Urologia, que deverá concluir dentro de meses. Porquê a Urologia?“Porque é uma especialidade abrangente. Tem uma parte médica em que estamos com os doentes e podemos tratá-los desde o início da doença e tem outra parte, de cirurgia, da qual gosto muito. As duas complementam-se e realizam-me enquanto médico”.A Urologia é uma área que tem vindo a ganhar grande importância na Medicina. A razão é simples: muitas das doenças urológicas ocorrem numa idade mais avançada e a esperança média de vida tem vindo a aumentar. Por outro lado, os meios de diagnóstico têm permitido detectar as doenças mais cedo, sobretudo as do fórum cancerígeno, o que aumenta o potencial de pacientes.“Nos últimos 20 anos houve uma evolução muito grande na Urologia, com taxas de sucesso muito positivas”, diz Francisco Furriel. “Por exemplo, os tumores nos testículos em 90% dos casos são curáveis, enquanto que há uns anos isso era quase uma sentença de morte”. Daí a importância de os homens fazerem exames regularmente porque, como em qualquer especialidade, quanto mais cedo for diagnosticada uma doença, mais fácil será debelá-la.Mas a Urologia não trata só cancros. Noutras doenças, como a incontinência urinária ou a disfunção eréctil, tem-se igualmente assistido à introdução de novas terapêuticas que melhoram muito a qualidade de vida dos doentes.Como urologista, Francisco Furriel acompanha os seus doentes no Serviço de Urologia e de Transplantação Renal do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, visitando-os nas enfermarias, mas não se pode dizer que tenha semanas muito monótonas. Há dois dias que são essencialmente passados no bloco operatório, há um dia por semana passado nas urgências e depois há as consultas e as reuniões de serviço onde, com os seus professores e os seus pares, discute casos clínicos mais complexos.
UM CLIMA HOSTIL CONTRA OS MÉDICOS
A profissão de médico atrai-o. “Gosto muito de ser médico”, reconhece. Mas… “infelizmente há um clima cada vez mais hostil para com os médicos porque são alvo de grande atenção do público, e até atenção mediática, sobretudo nas questões dos litígios médico-legais que são cada vez mais frequentes. E depois há também o ambiente de crise em que vivemos que não ajuda muito”. Representante em Portugal da Associação Europeia de Internos em Urologia, Frederico Furriel, tem viajado para diversos países para participar em congressos e conferências e conhece a realidade da sua especialidade no estrangeiro. É isso que lhe permite afirmar que “a nossa Urologia pode ombrear em termos de qualidade com o que de melhor se faz na Europa”.Ainda assim, há coisas que falham em Portugal, não por falta de inteligência ou competência, mas por falta de dinheiro. A cirurgia robótica é uma área apaixonante, mas não existe no país da troika. Frederico Furriel explica: “são cirurgias em que o médico opera o doente através de uma consola, na qual tem visão tridimensional, sendo os movimentos executados por um robot que tem uns braços mecânicos que fazem esse trabalho com uma grande precisão”. Um robot destes custa …2 milhões de euros!Quando acabar o internato, este urologista não sabe ainda o que vai fazer. Não havendo vagas em Coimbra, restam-lhe os hospitais das zonas periféricas do país, ou ingressar numa carreira privada ou até ir para o estrangeiro.“Está tudo em aberto, até porque a minha mulher, que está também a acabar o internato [em Pediatria], está nas mesmas condições e não sabemos ainda o que fazer. Logo decidiremos, mas a verdade é que o sector público não é hoje uma carreira muito atractiva”, conta. O casal tem uma filha, a Teresa, de dois anos.Frederico Furriel já não tem família nas Caldas da Rainha, mas vem frequentemente à cidade, onde dá consultas na Clínica Saúde XXI, e onde tem muitos amigos (há amizades de infância e adolescência que duram para a vida) que gosta sempre de rever.Nos tempos livres – que não são muitos – tem um predilecção pelo Geocaching, que consiste na procura de pequenas caixas escondidas em vários pontos, através de um aparelho GPS. Uma espécie de caça ao tesouro dos tempos modernos com recurso à tecnologia e que permite visitar e descobrir lugares nem sempre muito óbvios que, de outra maneira, não seriam encontrados.
Carlos Cipranocc@gazetadascaldas.pt

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