Cada vez em maior número, vemos estudantes universitários nas nossas cidades e vilas. Em Caldas da Rainha, estudam muitos deles, assim como outros, daqui oriundos e da região, estudarão nas grandes cidades universitárias de Coimbra, Lisboa  e outras.
Estando, nos últimos tempos, as praxes académicas na ordem do dia, ocorreu-me discorrer sobre o tema no presente artigo de opinião, pois acho-o transversal a todas as populações e a todos os meios universitários.
Existente há muito anos numa ou noutra universidade, na rua, aos olhos dos cidadãos de outras cidades, a praxe passava despercebida, porque praticamente inexistente.
Tinha expressiva visibilidade pública particularmente em Coimbra (realidade que conheci quando ali estudei na sua Universidade), igualmente alguma no Porto, mas a generalidade das pessoas não se recorda de a ver passar pelas ruas de Lisboa ou de outras cidades do país…
De repente, há poucos anos a esta parte, os universitários de Lisboa (e não só) despertaram para a “praxe”, ocupando com ela os seus tempos, presumo que os tempos livres das aulas e do estudo (presunção ilidível….)  e a cidade passou a assistir, nas ruas e nos transportes públicos, à passagem de cortejos de jovens estudantes conduzindo e comandando pelotões de alunos caloiros mascarados com tintas berrantes fora da época do Carnaval.
Aos olhos públicos, deram-se excessos execráveis, fora do alcance da compreensão de que os mesmos pudessem provir da criação mental de elites intelectuais do nosso país! De tudo se viu na gozação dos caloiros, inclusive indícios  de rituais secretos em lugares recônditos!
Dizem os defensores das “práticas” que elas servirão para a “integração” dos caloiros e serão estes os primeiros a recolher os benefícios da submissão às praxes quando ingressam na universidade.
Não vejo que assim seja, pois se a praxe se destinasse a esse desiderato (altruísta), bastaria um curto acto de praxe logo no início do ano lectivo com a chegada do estudante caloiro, mas o que vemos é que a praxe se prolonga tempo fora, por sessões contínuas, com a passagem do caloiro de mão em mão entre os “praxantes”, repetindo e recriando rituais (qual deles mais requintado!)
Serão os novos estudantes universitários assim tão destituídos que necessitarão de tanto tempo para se “integrarem”?
Não nos iludamos, com malabarismos filosóficos: a realidade (que todos vemos) é que a praxe, nos moldes em que é praticada, conforme as imagens documentam à exaustão, é apenas e somente para gozo exclusivo de quem praxa e muitas vezes, porventura sempre, para sofrimento íntimo de quem a sofre!
Os que querem que as praxes prossigam, têm dito que as imagens que se têm visto não são “praxe”- que a praxe não é isso.
Se isso não é praxe, então o que é? Será uma penitência religiosa? (Se entendem que é, fiquem certos que o maravilhoso Papa Francisco não a recomendará aos fiéis…).
Ao chegar ao final desta reflexão, aludirei à tradição académica da Coimbra do meu tempo.  A praxe de então estava muito longe dos excessos que agora temos visto. Coimbra tinha tradições académicas ancestrais: a capa e batina, as serenatas na Sé Velha e à porta das namoradas, o Fado de Coimbra, o Orfeon Académico, a Queima das Fitas, os bailes da Queima, as Latadas e outras tertúlias académicas de larga tradição e agrado de todos. Essas tradições integravam alegremente os estudantes caloiros no meio universitário, com elas não havia riscos da sua “desintegração”…

Luís do Nascimento Ferreira

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