A dor altera-nos. Não há vergonha em admiti-lo. Por mais de uma vez, tive pessoas a pedir-me desculpa pelas coisas que disseram e como se tinham comportado em consultas anteriores, consultas em que entraram para o consultório com dores de dentes.
Não há nada para desculpar, digo eu. Cada ser humano pode ter uma percepção diferente da dor, e o que uns conseguem suportar, para outros pode ser insuportável.
Como médicos, o dever dos dentistas é entender, e simpatizar, com o sofrimento das pessoas. Cada pessoa é diferente, e não me cabe a mim – ou a qualquer um – julgar a reacção dessa pessoa às dores que tem, desde que essa reacção respeite as liberdades individuais e não prejudique ninguém.
A dor é uma coisa horrível – faz-nos ficar menos pacientes, mais irritadiços, mal-dispostos. Muitas vezes impede-nos de dormir, o que cansa o cérebro, e portanto nem conseguimos pensar bem. Tudo isto sensibiliza o nosso sistema nervoso, o que nos faz sentir ainda mais a dor. Este conjunto de factores faz com que por vezes seja muito difícil funcionar no nosso estado normal.
Deve-se tomar antibiótico para combater a dor? Depende. As infecções são coisas complexas, e os antibióticos são medicamentos que devem ser tomados com o devido cuidado e da forma certa. Para mais, nem sempre as dores de dentes são causadas por infecção, e o antibiótico pode estar a ser mal aplicado.
A auto-medicação é um risco. Compreendo as pessoas que, no desespero da dor, se auto-mediquem com analgésicos e anti-inflamatórios (embora também prefira que procurem a recomendação de um especialista antes de o fazer).
O antibiótico, no entanto, não deve ser tomado sem expressas instruções do médico. Nos últimos cinco anos, nunca chegou até mim uma pessoa que, tendo tomado antibiótico por própria decisão, o tenha feito da forma correcta.
O que fazer, então? Para além dos anti-inflamatórios que podem ser obtidos sem receita médica (atenção à dosagem recomendada!), há alguns métodos que se podem aplicar enquanto não chega a hora da consulta com o dentista – essa sim, a solução definitiva.
O calor e o frio, por exemplo – em casos de inflamação, e dependendo do tipo de inflamação, se um aumenta a dor, o outro pode aliviar. Vale a pena fazer a experiência com bochechos de diferentes temperaturas, e sacos de gelo ou de água quente.
Ficar em silêncio, sentada ou deitada, também é uma ajuda. Durante este tempo, com os olhos fechados ou focados num objecto bonito e estático (nada de televisão), inspirar fundo, enchendo bem os pulmões até o estômago também começar a expandir, lentamente – contar até dez ajuda – e depois expirar, também devagarinho, contando novamente até dez. Repetir este exercício durante dez minutos ou mais vai acabar por fazer o sistema nervoso focar-se no ciclo da respiração, e diminuir um pouco a sensibilidade à dor.
Importante é lembrar-se que você não é você mesmo. Está cansado e alterado. Tome isso em consideração ao falar com as outras pessoas; tente agir com o máximo de calma e cordialidade possível. Os dentistas podem compreender bem o sofrimento de uma pessoa com dor de dentes, por experiência profissional, mas muita gente não compreende, e não merece que os nossos problemas lhe estraguem o dia.
Certamente que a consulta chegará em breve, e com ela, o alivio!

Luis Magalhães
luis.falcao.magalhaes@gmail.com

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