Hoje, 28 de Fevereiro, pelas 21h30, no Hotel Sana, será apresentado o segundo romance de Francisco Martins da Silva, intitulado Mar de Nuvens. A apresentação vai estar a cargo de Isabel Xavier, presidente do PH.
O romance conta a viagem de um ex-sindicalista, agora candidato do Partido da Lusofonia, que vai fazer uma campanha atípica pelo espaço lusófono.
O arquitecto-escritor, que também é professor na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, faz um retrato irónico e corrosivo da democracia e do espectro político-partidário português.
A obra tem como pano de fundo a descolonização e a Lusofonia. “Creio que já temos a distância suficiente para falar desassombradamente sobre estes temas”, disse o autor que, em 2011, publicou o primeiro livro, “Kifofo Hombo – Cabra Cega” que também abordava o tema das ex-colónias.
Este segundo romance – que tem lugar em Portugal e em todo o espaço lusófono – “é um livro sobre aquilo que nunca acontecerá”, disse Francisco Silva, acrescentando que, por esse motivo, algumas pessoas “poderão ficar descansadas”. E porquê? Porque se conta a história de um dirigente sindical que, cansado da sua actividade e desiludido com a politica partidária, decide tornar-se um político.
Vamos por partes: há no início do livro uma situação de grande convulsão social e, na sequência dessa agitação, cai o governo e há eleições antecipadas. É então que surge um novo partido politico: o Partido da Lusofonia (PDL). O sindicalista, homem reconhecido pelos seus pares, é convidado a liderar o PDL e a concorrer às eleições. “Trata-se de um partido de cidadãos, transversal a esquerdas e direitas e que vai fazer uma campanha eleitoral perfeitamente atípica e até bizarra por todo o espaço lusófono”, explicou o autor que arquitectou o Mar de Nuvens.
“Somos todos mestiços uns dos outros”
O romance – que até então parecia apresentar traços políticos – vai ganhar ares de romance de viagens, ao qual, garante o autor, não vão faltar peripécias ao seu protagonista principal.
Francisco Silva coloca o PDL a querer agir sobre todo o espaço da Lusofonia. Algo que na sua opinião “faz sentido e não vejo porque é que isto não acontece”. É que, refere, “somos todos mestiços uns dos outros, toda a gente tem familiares em países lusófonos”. Por isso, defende mesmo uma Confederação Lusófona, uma cidadania e um passaporte lusófono.
E a propósito de Lusofonia como este autor à adesão da Guiné Equatorial à CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa
“Há requisitos a cumprir para podermos integrar o país. A Guiné Equatorial tem que acabar a ditadura e resolver problemas graves como a pena de morte a falta de igualdade de género”. Isto porque na CPLP “não podemos coabitar com crimes ou com atentados aos direitos humanos”. O acolhimento da Guiné Equatorial deveria, pois, ser uma consequência à resolução desses problemas.
Francisco Silva teve conhecimento da editora Rui Costa Pinto, de Cascais, através da televisão e a forma como viu o editor a defender um livro – também sobre o tema da Lusofonia – agradou-lhe. De tal forma que lhe enviou o seu Mar de Nuvens. “Três dias depois já estávamos a fechar contrato, com um grande entusiasmo”, contou. A primeira edição desta obra conta com 600 exemplares.
“A descolonização faz parte da nossa matriz”
Francisco Silva tem 55 anos, é arquitecto e lecciona Educação Visual na Escola Secundária Bordalo Pinheiro. Faz trabalhos de arquitectura, área que considera que está “parada”. Aparecem-lhe apenas pequenos trabalhos de manutenção ou de alteração de projectos antigos e “pouco mais”. Uma situação que considera preocupante para quem tem esperança no curso da Faculdade de Arquitectura.
Sobre a escrita, conta que já tem material para um terceiro romance, que deverá ser editado em 2016. Mais uma vez o tema será a descolonização. “Nós não podemos ignorar isto. É grande demais e faz parte da nossa matriz”, diz.
Francisco Silva nasceu em Mangualde, mas os pais, professores primários, emigraram para Nova Lisboa (Huambo). É o primeiro de quatro irmãos e toda a família sempre viajou em África de forma muito leve. “Com a roupa do corpo e pouco mais”, recorda o arquitecto-escritor, acrescentando que os professores tinham sempre casa para onde fossem leccionar, o que lhes permitia partir com poucos bens. Depois do Huambo, a família de Francisco viveu em Benguela até 1975, tendo regressado nesse ano na ponte área, em pleno processo de descolonização.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt










