Sobre ensino e cidadania

Jorge Graça
diretor do Agrupamento
de Escolas D. João II

Ao assumir-se as funções inerentes ao cargo de Diretor, deve perspetivar-se fazer de cada Agrupamento de Escolas (AE) uma unidade escolar de referência quanto à educação dos jovens, quanto aos resultados escolares e ao sucesso educativo dos alunos, bem como de referência enquanto organização educativa, designadamente, no que concerne à gestão dos recursos humanos e financeiros e ao planeamento e desenvolvimento de atividades, projetando uma verdadeira educação de qualidade.
“Qualidade” é, sem sombra de dúvida, um atributo em que cada AE deve apostar, implicando satisfazer o(s) cliente(s): alunos, pais e/ou encarregados de educação, cidadãos em geral e outras entidades parceiras, todos os elementos da organização e que se aplica na organização escola.
É de salientar o papel decisivo dos órgãos intermédios que, face à contínua e crescente delegação nos seus representantes, têm um papel decisivo na construção de um AE que se pretende ser uma referência no âmbito da Educação.
Deve ser sempre implementada a autoavaliação, para que o AE preste contas do que faz, da maneira como faz e do modo como está a atingir ou a deixar de atingir os objetivos, bem como decidir o que tem de fazer para melhorar. Para, que se possa constituir como um elemento agregador das sinergias, vontades e expetativas de toda uma comunidade escolar, interessada em tornar o seu AE numa instituição de excelência que, “olhando-se, continuamente, ao espelho”, é capaz de reconhecer não só as suas virtudes, mas também, e acima de tudo, as suas fragilidades e, face a essa imagem projetada num plano dimensional da sua vida, sabe que pode, com a interajuda de todos, metamorfosear-se e auto remodelar-se, de forma a afirmar-se na sociedade como um AE inovador, ecológico, preocupado pelo sentir dos seus atores e, sempre, promotor do sucesso escolar e da formação integral dos seus alunos!
Se é grande a importância da Família no desenvolvimento de disposições mais ou menos favoráveis à adesão à escola, não será menos relevante a importância do efeito da Escola.
A Família molda e condiciona as disposições e os desempenhos escolares dos filhos, através da transmissão dos conhecimentos e dos “saber-ser” e “saber-fazer”, das expetativas depositadas em termos de trajetórias de sucesso e do acompanhamento da vida escolar. A Escola influi sobre o sucesso escolar dos alunos, através de fatores relacionados com as práticas pedagógicas dos docentes e a criação de um clima de tranquilidade propiciador de um bom ambiente educativo. Quando as duas vertentes “Família” e “Escola” partilham o ideal formativo e as expetativas de sucesso assentarem em torno de um projeto escolar, estarão reunidas condições propícias para que os jovens atribuam sentido positivo à Escola.
Sendo a autonomia um processo contínuo de construção, que resulte efetivamente da participação ativa de todos os atores, para que o sintam como um importante mecanismo de edificação e de afirmação do AE, quanto à qualidade e dignidade da sua função educativa, é importante que haja claramente, por parte de todos os atores da comunidade educativa, um profundo sentido de pertença, colocando num patamar secundário a necessidade de implementação de um processo em resultado, exclusivamente, de uma autonomia decretada. A autonomia, enquanto processo em construção, participativo e apropriado por toda uma comunidade, permite a abertura de novas perspetivas ao AE, no sentido de, através de competências próprias em vários domínios, poderem ser tomadas decisões que, tendo em conta a especificidade, cultura e identidade própria do AE, concorram plenamente para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, incentivando práticas inovadoras e que permitam a melhoria dos resultados dos alunos.
Termino com uma citação de António Nóvoa: “…não há cidadania se os alunos não aprenderem, se não formos capazes de integrar todos numa escola com regras claras e democráticas de funcionamento, se a escola não comunicar com o exterior e não prestar contas do seu trabalho à sociedade…”.