João Santos: “Queremos influenciar positivamente o desenvolvimento da região”

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A escola de artes das Caldas celebra o 30º aniversário e pretende crescer e aliar-se a outras escolas internacionais

O diretor da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha analisa, em entrevista à Gazeta das Caldas, as três décadas de existência da entidade e perspetiva os desafios de futuro.

Quantos alunos e professores tem a ESAD.CR neste momento?
Atualmente temos 1.760 estudantes, que inclui 40 estudantes do curso TeSP em Design para Media Digitais que funciona em Torres Vedras. Temos crescido com os alunos que integram os mestrados, onde ainda podemos aumentar um pouco mais. Não pretendemos aumentar os estudantes das licenciaturas. Somam-se mais 50 estudantes Erasmus e de outros programas de mobilidade. Acolhemos atualmente três estudantes da Ucrânia. Contamos com 130 professores, que são os necessários para o funcionamento da escola e 35 técnicos, que dão suporte administrativo e ao funcionamento das oficinas. Este número é escasso face às necessidades, mas somos todos vítimas do Orçamento de Estado e estamos à espera que seja possível a abertura de novos concursos.

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A escola mantém parcerias com que entidades da cidade?
Temos mantido relações com o Teatro da Rainha, o CCC, o Museu do Ciclismo e continuamos com a relação com a Câmara, na cedência de espaços para a Molda (antiga fábrica Bordalo Pinheiro), onde atualmente decorrem aulas de Artes Plásticas. Na escola do Parque funcionaram atividades relacionadas com o mestrado em Design Gráfico mas, neste momento, a autarquia está a terminar obras que vão permitir que o espaço possa ser usado para atividades de alunos, ter uma sala de exposições e uma outra área que será para atividades abertas à comunidade. Serão organizadas conferências, conversas, exposições e mostras de filmes. Há aqui uma ideia de ligação à comunidade que para nós é importante nutrir.

Quais são as ambições da escola para os próximos tempos?
Com o recurso ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e dos programas “Impulso Jovens STEAM” e “Impulso Adultos” estamos a pensar na ampliação da própria escola. Ainda é um projeto, mas temos falta de espaço. Gostaríamos de ter, no futuro, mais um edifício, dentro do próprio campus. Pretendemos alargar o espaço da escola, pois pretendemos apostar nas áreas da Animação e da Animação Digital. Atualmente os cursos de Som e Imagem e de Artes Plásticas têm algumas cadeiras nessa área, mas gostaríamos de ter uma formação mais focada. Estamos a estudar qual será o melhor formato da formação.

Que outros objetivos gostaria de alcançar?
Temos de aprender a comunicar melhor os projetos que desenvolvemos com várias empresas e entidades. Por um lado, para acrescentar algum valor ao que fazemos e para termos cada vez mais colaborações com melhores empresas. É necessário valorizar mais o que já fazemos. Gostávamos de estar neste papel de poder contribuir para influenciar positivamente o desenvolvimento da região. É uma missão do Politécnico de Leiria e que é nossa também.

A aposta na internacionalização é para continuar?
Sim, sem dúvida, não só na mobilidade de alunos como também de professores. Fazemos parte da Regional University Network (RUN), que integra escolas de arte e design de Portugal, Irlanda, Holanda, Finlândia, Hungria e Áustria. Vamos receber professores irlandeses de uma escola que já fomos visitar e com a qual partilhámos experiências. Os austríacos que integram a rede têm um modelo mais próximo do nosso, mais digitalizado e, por isso, temos interesse em explorar complementaridades. Pertencer à rede permite-nos testar parcerias e modelos de ensino internacionais.

E haverá formações conjuntas?
Sim, o futuro da formação académica será mais móvel e com alianças entre universidades europeias. Iremos apostar no upskilling e na micro acreditação. Estas formações devem reunir duas instituições europeias que trabalhem com empresas nos seus territórios. O parceiro finlandês, por exemplo, trabalha na área da sustentabilidade agrícola dos espaços cultivados e, por isso, creio que poderemos estabelecer uma aliança inovadora. Teremos em novembro ou dezembro o início de ações na área da cerâmica, formações de curta duração que decorrerão online e presencial.

Como vai a Cátedra da UNESCO e o trabalho referente às Caldas Cidade Criativa que também conta com o apoio da ESAD.CR?
A Cátedra em Gestão das Artes e da Cultura, Cidades e Criatividade foi atribuída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2018. Estamos agora numa fase de avaliação para a renovação do programa e para lhe dar novo fôlego. Há um contrato que pressupõe um relatório e que será entregue este ano. A Cátedra pressupõe, ainda, o trabalho em rede e em cooperação com outras universidade internacionais. Poderá resultar no desenvolvimento de estudos e formações avançadas como pós graduações e mestrado. Ter a cátedra é algo prestigiante e que qualifica as parcerias. Sobre a Cidade Criativa da Unesco já tivémos algumas reuniões com a Câmara das Caldas da Rainha e a ideia é termos uma colaboração mais ativa neste processo, que conta agora com novas pessoas e também novas circunstâncias.

Quais são os problemas com que a escola se confronta?
Temos falta de pessoal e de espaços. Também precisamos de trabalhar na eficiência energética de várias áreas e ainda temos passos a dar na climatização da escola. Deveríamos também apostar na autossuficiência energética.

Como vê a ESAD daqui a dez anos?
Vejo uma ESAD que seja uma escola mais internacional, com um curso de doutoramento, uma formação renovada e adequada à realidade que termos daqui a uma década. Gostaria que tivesse outra presença dentro da cidade com alguma atividade pedagógica e de serviço à própria comunidade e a trabalhar em colaboração com outras entidades caldenses. Vejo a ESAD reconhecida como polo que pode contribuir para o desenvolvimento desta região. Temos que manter o espírito de inovação e de experimentação que é apanágio desta escola. É preciso ainda trabalhar na fixação de jovens na região com a criação de espaços de encubação. Era importante ter um local para desenvolver trabalho sobre o tecido económico da região que ainda ajudasse a renovar e a animar o centro das Caldas da Rainha.

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