Inês Felizardo Lopes – A jovem médica apaixonada pela área social

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2016-05-06 Primeira.inddInês Felizardo Lopes está a trabalhar desde Janeiro no Hospital de S. José, em Lisboa, como interna do primeiro ano da especialização em Medicina Interna. Durante a sua formação, a jovem estagiou por diversas vezes no Hospital das Caldas e na Unidade de Saúde Familiar Rainha D. Leonor, de onde guarda as melhores recordações. Com apenas 26 anos, a caldense tem já um vasto currículo, com experiências em países tão diferentes como Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Alemanha, França e Brasil.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt

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O gosto pela área social levou Inês Felizardo Lopes a integrar o núcleo caldense da Cruz Vermelha assim que este arrancou, em 2003. O voluntariado e os cursos de primeiros socorros em que participou levaram-na a aperceber-se de que gostava muito do contacto com as pessoas e que tinha vocação para lidar com elas. Cumprido o ensino secundário nas Caldas, Inês ingressou em Medicina. A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (a funcionar no edifício do Hospital de Santa Maria) foi a sua “casa” durante seis anos. O ano passado fez o internato do ano comum de formação geral no Hospital das Caldas e desde Janeiro deste ano que está a fazer o seu internato em Medicina Interna no Hospital de S. José, em Lisboa. Inês Felizardo Lopes escolheu Medicina Interna, a disciplina que sempre gostou mais, a que tinha melhores notas e, depois, melhores propostas. “Desde cedo que o meu coração já batia pela Medicina Interna, uma área muito desafiante e extremamente exigente, mas ainda muito pouco reconhecida em Portugal”, conta, dando como contraponto França, onde é considerada uma especialidade de elite. A jovem médica reconhece que os próprios médicos desta especialidade por vezes têm dificuldade em explicá-la pois é tão abrangente e, ao mesmo tempo, tão específica. “É uma dualidade entre ter que saber muito sobre tudo e gerir patologias e medicações muito diferentes”, concretiza a jovem que gosta do desafio de nunca saber como será passado um dia no serviço de urgências. A Medicina Interna tem ainda outro atractivo para a jovem médica: está muito relacionada com a área social. “Vemos a fragilidade humana nas suas mais diversas formas, não só pela doença, mas por todo o contexto em que o doente está inserido e isso é uma coisa que me fascina”, revela.

EXPERIÊNCIAS PELO MUNDO
Quando foi para a faculdade, Inês Felizardo Lopes ligou-se a um grupo de voluntariado, que mais tarde se tornaria numa Organização Não Governamental para o Desenvolvimento, a GasNova. Foi através deste grupo de acção social que fez a sua primeira missão, em Cabo Verde, frequentava na altura o segundo ano no ensino superior. No ano seguinte um intercâmbio levou-a até Berlim, ao Hospital Charité e, mais tarde, rumou até ao Brasil no âmbito de um estágio internacional. No quinto ano Inês Felizardo Lopes candidatou-se a um programa nacional (resultado de um protocolo entre a AMI e o BES) destinado a estudantes de medicina para partirem em missão. Nesse ano abriram apenas duas vagas e a jovem estudante foi uma das seleccionadas, partindo para S. Tomé e Príncipe, onde trabalhou num hospital. Dois meses depois de regressar a Portugal voltaria a partir, desta feita para França, no âmbito do programa Erasmus, onde esteve nos hospitais de Tenon e Pitié-Salpêtrière, em Paris. “Passei de um hospital em S. Tomé que tinha, por vezes, galinhas na sala de internamento, para um dos maiores hospitais de França”, recorda, destacando que ambas as experiências foram igualmente importantes para a sua formação, pois “é o ver diferentes realidades que nos faz depois ter maior julgamento crítico”. A jovem médica lamenta que em Portugal seja dado pouco valor ao currículo das pessoas em detrimento das notas e resultados dos exames. “O que faz de nós o que somos são as experiências que vamos adquirindo e que nos permitem ver as coisas de maneira diferente”, considera. No entanto, estas experiências exigiram muito trabalho da sua parte e também superação de objectivos. Em Paris, por exemplo, Inês Felizardo Lopes teve que vencer a barreira da língua. Quando chegou mal falava francês e a primeira semana no hospital foi difícil, mas acabou o intercâmbio a fazer uma apresentação, em francês, num congresso nacional. A experiência na capital francesa também a ajudou bastante para a realidade que vive actualmente no Hospital de S. José, que serve uma população idosa, sobretudo dos bairros mais antigos de Lisboa, e também migrante, oriunda da India, Bangladesh, países africanos e asiáticos. “Na zona do Martim Moniz e Intendente temos muitas pessoas que não falam português nem inglês”, explica, recordando que existem estratégias para superar esse problema, como é o caso dos sistemas de traduções por telefone, que usavam muito no hospital em Paris, onde mais de 60% das pessoas internadas não são francesas. O seu futuro nos próximos cinco anos deverá passar por aquele hospital, onde é interna, e quer continuar a ter experiências profissionais e sociais, em Portugal e no estrangeiro. “É uma área muito exigente, mas a paixão pela profissão e pelas pessoas, compensa essa exigência. Adoro a multiculturalidade e aqui em S. José tenho muitos estrangeiros”, conclui Inês Felizardo Lopes.

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