Diabetes – A Epidemia Global do Século XXI

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A Diabetes (Diabetes Mellitus) é a epidemia global do século XXI. Atinge mais de 382 milhões de pessoas em todo o mundo, o que corresponde a 8,3% da população mundial. Em aproximadamente 47% destas pessoas (179 milhões), a diabetes não foi ainda diagnosticada, prosseguindo a sua evolução de forma silenciosa. Em Portugal, de acordo com o Observatório Nacional da Diabetes, a prevalência estimada da Diabetes (ou seja, o número calculado de pessoas com Diabetes), com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos é de 13,1%, o que corresponde a mais de 1 milhão de portugueses. Destes, cerca de 400 mil ainda não sabem que têm a doença.

Torna-se necessário que estas pessoas sejam identificadas através de programas de rastreio ou de diagnóstico precoce, com o objetivo de se reduzir, de forma significativa, o número de complicações graves da doença, nomeadamente, da Retinopatia Diabetes e cegueira. Desta forma, permite também reduzir os custos económicos associados ao tratamento tardio da doença.

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A principal complicação nos olhos da Diabetes é a Retinopatia Diabética. Esta é a principal causa de cegueira evitável na população em idade ativa (é a causa mais frequente de cegueira entre os 20 e os 64 anos, nos países desenvolvidos). A perda de visão por Retinopatia Diabética diminui significativamente com a deteção precoce e o tratamento imediato. Identificar os doentes de risco, permitindo-lhes que sejam submetidos a intervenções terapêuticas, de forma atempada, representa o desafio mais importante para todos os profissionais de saúde envolvidos e para os serviços de saúde.
Do ponto de vista de Saúde Pública o rastreio da Retinopatia Diabética é uma das intervenções em saúde mais eficientes pois consome poucos recursos, poupa visitas aos hospitais e tratamentos onerosos e permite obter melhores resultados de visão.
Há dois tipos principais de Retinopatia Diabética: a Retinopatia Diabética Proliferativa onde o tratamento mais importante é o LASER ou a cirurgia em casos muito avançados da doença e o (Edema Macular Diabético (EMD), responsável pela maioria dos casos de perda visual. O seu tratamento melhorou muitíssimo nos últimos anos graças ao uso dos anti-VEGF e aos corticóides, por vezes associados ao LASER e à cirurgia. Podemos dizer que há sinais de esperança mesmo nos casos mais avançados graças aos novos tratamentos. Mas os resultados serão sempre melhores e com menos gastos de recursos se o oftalmologista atuar nas fases iniciais da doença.
Para isso todos os doentes diabéticos deverão saber que a Retinopatia Diabética não dá queixas nas fases iniciais da doença e a sua descoberta só é possível com a observação do fundo do olho ou por fotografia. Por isso todos os doentes diabéticos deverão fazê-lo todos os anos. Só assim conseguiremos o objectivo de manter a visão ao longo dos anos e continuar com uma vida ativa mesmo sendo diabético.
Dever-se-ão estabelecer prioridades de intervenção e de monitorização, tendo em vista o desenvolvimento de programas de saúde pública eficientes e que consigam chegar aos doentes. Estes programas deverão ser eficazes na detecção precoce e permitir igualmente o tratamento precoce dos doentes com as melhores soluções terapêuticas, adequadas a cada caso e estadio da doença ocular da Diabetes.
ESTUDO RETINODIAB
Em função da ausência de dados no contexto português, procedemos em 2015 à realização de um estudo epidemiológico prospetivo, que pretendeu aferir a prevalência, incidência e progressão da Retinopatia Diabética (RD) em pessoas com Diabetes tipo 2, com base na análise do programa de rastreio implementado na região de Lisboa e Vale do Tejo (englobando os 12 municípios da Região Oeste) e coordenado pela Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP)1so far, there is no study or even accurate data on the prevalence of diabetic retinopathy (DR, 2. Este programa de rastreio específico foi denominado de RETINODIAB e foi publicado no British Journal of Ophthalmology e na revista da Academia Americana de Oftalmologia.
Globalmente, a RD foi detetada em 16,3%). doentes (Destes doentes, 10,4%) tinham Retinopatia Diabética Não Proliferativa (RDNP) ligeira, 2,8% tinham RDNP moderada e 1,3% foram diagnosticados com RDNP grave. Finalmente, 1,8% tinham RD proliferativa (RDP), exigindo referenciação urgente para uma consulta da especialidade e 1.4% foram classificados com EMD.
1. Dutra Medeiros M, Mesquita E, Papoila AL, Genro V, Raposo JF. First diabetic retinopathy prevalence study in Portugal: RETINODIAB Study-Evaluation of the screening programme for Lisbon and Tagus Valley region. Br J Ophthalmol. 2015. Oct;99(10):1328-33 doi: 10.1136/bjophthalmol-2015-306727.
2. Dutra Medeiros M, Mesquita E, Gardete-Correia L, et al. First Incidence and Progression Study for Diabetic Retinopathy in Portugal, the RETINODIAB Study: Evaluation of the Screening Program for Lisbon Region. Ophthalmology. 2015. Dec;122(12):2473-81 doi: 10.1016/j.ophtha.2015.08.004.
Afiliações:

Marco Dutra Medeiros1,2,3,5 
José Henriques4,3,5
1) Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP)
2) Centro Hospitalar de Lisboa Central
3) Instituto de Retina de Lisboa
4) Instituto de Oftalmologia Dr Gama Pinto
5) Clínica Oftalmológica das Caldas da Rainha
www.retinaplus.com

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