Crianças felizes, brincadeiras e relação com os pais

0
2370
Saude

Deixar a brincadeira para os tempos livres é um erro comum à maioria dos pais.

Contudo, atualmente são inúmeros os especialistas que consideram as brincadeiras fundamentais para o crescimento e para o desenvolvimento neurológico e o brincar como um dos temas mais relevantes para o desenvolvimento humano. O médico psiquiatra Stuart Brown, um dos muitos defensores destas ideias, refere ainda que “brincar na primeira infância permite que as crianças cresçam mais felizes e mais inteligentes”.
Hoje sabe-se também que o ludo, ou brincar, é uma atividade primitiva do bebé humano, inata e tão biológica quanto o dormir ou sonhar. Deste modo, o bebé precisa que brinquem com ele, o que requer dos pais, alguma flexibilidade, para se entregarem, desde logo, como objeto lúdico ao bebé. As primeiras brincadeiras surgem da interação, bebé-mãe-bebeé, da troca de olhares e sorrisos prazerosos. Quanto mais uma criança for estimulada e mais atrativo for o meio envolvente, mais a criança sente necessidade de explorar e assim estabelecer contacto e intercâmbio social com coisas e pessoas, ou seja, o brincar é a via para descobrir o mundo e os pais são o principal elo de ligação entre ambos. A competência para brincar, está portanto relacionada com a competência para amar.
Brincar permite à criança: desenvolver a capacidade de pensar, aprender a lidar com as emoções, ser mais autoconfiante e ter uma autoestima positiva. Como psicóloga, reconheço a importância do brincar na rotina (vida) das crianças, mas como mãe, sei das dificuldades do dia-a-dia, que nos impedem de disponibilizar tempo para os nossos filhos. Existem, no entanto, estratégias simples, que aplicadas com amor podem contribuir em muito para a felicidade das crianças. Em primeiro lugar, organizarmo-nos de modo a garantir tempo de qualidade para os nossos filhos, e não podemos ficar à espera do fim-de-semana. Em segundo lugar, explorar as brincadeiras com os nossos filhos e inventar brincadeiras de família. Por fim, devemos recorrer ao imaginário sempre que possível, porque é um recurso estimulante e atrativo para as crianças.
Por exemplo: ao final do dia, após chegarmos a casa, comecemos por brincar com as crianças, em vez de começar pelos TPC ou pelo jantar. Bastam 10 a 20m (consoante a idade), da nossa total atenção (para que aconteça sem interferências há que deixar o telemóvel noutra divisão). Não vale dar apenas ideias para as crianças brincarem. Brincar é: ter iniciativa, é envolvermo-nos, deixar de lado crenças e preconceitos, é rebolar no chão, é fingir que somos uma fada, um pirata ou um animal, é cantarolar e pular com os nossos filhos. Este curto período de tempo é suficiente para as crianças acalmarem da excitação do dia, sentirem-se amadas e por isso seguras e tranquilas. A felicidade que surge da brincadeira é para os filhos, mas é também para os pais que se divertem com eles. A partir desse momento, tanto as tarefas dos pais como das crianças serão bem mais simples.
Em suma, brincar com os nossos filhos é divertido, mas é também das coisas mais sérias a que os pais devem estar atentos. Permite criar um vínculo seguro aos pais e o brincar de forma envolvida e interessada podem ajustar e organizar o cérebro infantil de tal modo que vai influenciar coisas como o interesse das crianças pela escola, o seu equilíbrio emocional, e ainda, como recentemente se percebeu, aliar o brincar à saúde.
 
Dra. Dora Afonso – Psicóloga

- publicidade -