
Hugo Ribeiro
médico paliativista
Um dos pilares essenciais dos Cuidados Paliativos é o controlo adequado de sintomas. As doenças mais frequentes que necessitam da atuação e da atenção particular dos cuidados paliativos são as doenças oncológicas, neurodegenerativas e as insuficiências de órgão, e os sintomas mais frequentes e também de maior dificuldade no seu controlo são a dor, sintomas neuropsíquicos, sintomas respiratórios e sintomas gastrointestinais. Assim sendo, e tendo em conta que os fitocanabinóides têm uma atuação com eficácia e segurança demonstradas no controlo de muitos destes sintomas, é natural que sejam uma opção válida na abordagem e tratamento multimodal que deve nortear a nossa atuação.
A terapêutica com canábis medicinal não veio substituir nenhuma outra terapêutica, mas veio reforçar o leque de opções que os médicos têm para adequar as suas prescrições às necessidades individuais dos doentes. Porque a abordagem farmacológica com medicamentos que atuem em várias vias, recorrendo a doses mais baixas, cria sinergismos que são essenciais para a eficácia terapêutica e para evitar reações adversas. Contudo, a canábis medicinal não é isenta de riscos e de efeitos secundários: a fadiga, a sonolência e as tonturas são relativamente frequentes, sobretudo se a titulação/dose não for a mais adequada, assim como a confusão mental, a taquicardia, as mudanças no humor e as alucinações.
Em Portugal, neste momento, existe apenas uma formulação de canábis medicinal: a flor seca de THC18, que é administrada com vaporizador. Temos esperança que surjam brevemente doses e, acima de tudo, formulações diferentes, com vias de administração diferentes, assim como a comparticipação adequada, de acordo com a política do medicamento vigente. Só assim é que esta terapêutica será considerada pelos seus efeitos benéficos e pelos efeitos indesejáveis, com a consequente decisão médica, e não pelo seu custo, que é atualmente incomportável para a maioria dos doentes.

































