Em 2009 quando me especializei nesta matéria pouco se falava no tema, a maior parte da literatura existente era em inglês e os estudos também. Hoje cada vez mais esta problemática está presente, não só pelos estilos comportamentais e parentais existentes, como pela influência dos media e redes sociais, factores externos que ampliam naturalmente este fenómeno.
Sabe-se que ‘um em cada quatro jovens envolve-se em situações de bullying como vítima, agressor ou ambos’.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, divulgados em novembro de 2017, revelam que entre 31 e 40% dos jovens portugueses, dos 11 aos 15 anos, foram intimidados na escola pelo menos uma vez a cada dois meses.
Desde sempre que esta problemática existe, não lhe era atribuída esta terminologia e era pouco identificada, no entanto sempre existiram lutas e brincadeiras agressivas ou de mau gosto, sendo que fazem parte da dinâmica infantil e juvenil.
Há que ter claro é que tudo o que limita a liberdade do outro, o humilha ou atenta contra a sua vontade, deve ser percepcionado como abuso ou mau trato.
Quando este tipo de situações ocorrem de forma persistente, e intencional normalmente provoca efeitos negativos nomeadamente medo, recusa e fobia à escola, baixo rendimento escolar, doenças psicossomáticas e depressão.
Existem diversos sinais aos quais os pais e educadores devem estar atentos. Estudos revelam que mais de 60% das vítimas de bullying não contam aos pais nem aos amigos o que estão a sentir.
Há que estar atento e não desvalorizar.
O diálogo é fundamental no apoio às crianças e jovens que poderão estar neste tipo de situação.
Deixá-los sozinhos nunca será opção, muito menos dizer coisas como: “ignora”, “tens que te defender” ou “estás a exagerar”.
Do ponto de vista da intervenção escolar é fundamental envolver toda a comunidade educativa. Sabe-se que escolas que desenvolvem programas antibullying e envolvam os encarregados de educação conseguem reduzir os índices de bullying em pelo menos 50%.
Não só é importante intervir com as vítimas, mas também com os agressores, não nos podemos esquecer que muitas vezes eles próprios são vítimas de violência física e psicológica em contexto familiar. Acabam por modular os comportamentos dos seus progenitores e replicam-nos com os seus pares.
Não menos importante será ativar mecanismos no que diz respeito ao Cyberbullying, tanto em casa através da supervisão parental e hábitos saudáveis no que diz respeito à utilização das redes sociais e da tecnologia, como ao nível escolar com medidas preventivas e informativas acerca dos perigos da Internet. Por exemplo, a este respeito tenho tido ótimas experiências de intervenção, em parceria com a Escola Segura. No meu entender são ótimos aliados para uma eficaz intervenção nesta matéria.
Igualmente importante é o papel dos Assistentes Operacionais e da Equipa Técnica das escolas, nomeadamente os Psicólogos, que podem e devem ser um apoio crucial às crianças e jovens, vítimas e agressoras.
Tenho tido também experiência na minha prática que quanto mais atentos e próximos estivermos dos nossos alunos, mais fácil será eles confiarem em nós e pedirem-nos ajuda. Acabamos por funcionar muitas vezes como agentes facilitadores e ‘desbloqueadores’ das situações de conflito.
Não acredito em escolas sem bullying, que camuflam números para as estatísticas e quadros de honra, acredito em escolas que reconheçam o problema, que atuem de forma concertada, e sistémica, que tomem medidas preventivas, intervindo junto dos encarregados de educação, técnicos e agentes educativos.
Temos de encarar que este é um problema sério, que existe e continuará e existir. Temos o dever não só como educadores, encarregados de educação, técnicos e cidadãos, estar atentos e denunciar este tipo de situações. Deste modo e para além da escola segura existem outros meios de ajuda:
Linha Ajuda do Centro Internet Segura: 800 21 90 90
Linha da Criança (Provedor de Justiça): 800 20 66 56
APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima:
707 200 077.
Patricia Oliveira
– Assistente Social
– Mestre em Serviço Social especializada em bullying pelo Instituto Superior Miguel Torga de Coimbra
– Especializada em Aconselhamento Parental, Intervenção com crianças e jovens em risco e Play Therapy pelo ISPA.


































