Brincar com os pais será sempre mais estimulante para as crianças do que ver televisão

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Gazeta das Caldas
Bruno Gomes é psicólogo e trabalha diariamente com crianças

“Posso ver desenhos animados?”, “Deixas-me jogar no telemóvel?”, “Podes meter aquele vídeo que gosto muito no tablet?”. Se é pai de crianças pequenas, certamente conhece estes pedidos. Mas sabe como responder-lhes? Gazeta das Caldas falou com o psicólogo infantil Bruno Gomes, que nos ajudou a perceber quais os perigos das novas tecnologias no dia-a-dia das crianças e como é importante que os pais arranjem tempo para brincar com os seus filhos.

“A brincadeira com os pais é a verdadeira Disneyland das crianças”. Quem o afirma é Bruno Gomes, psicólogo da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens e responsável pelo gabinete de Psicologia do Instituto Português de Pedagogia Infantil. Segundo Bruno Gomes, os pais devem procurar proporcionar aos filhos actividades divertidas que sejam uma alternativa aos aparelhos tecnológicos. Mas nem é preciso muito: basta que desçam ao mesmo nível das crianças (o nível do chão) e procurem brincar com elas. Às vezes só sair de casa já é um programa muito estimulante para os mais novos.
Nos primeiros anos de vida, é fundamental que as crianças tenham brinquedos adequados à sua idade. “Mas não precisam de ser muitos, nem de ser muito elaborados, até porque às vezes esses brinquedos provocam stress nas crianças”, explica o psicólogo, realçando que é mais essencial ainda que os petizes tenham “contacto com o outro”. Principalmente com os pais.
Ora, uma das principais limitações das televisões, dos tablets e dos smartphones é que roubam tempo de brincadeira às crianças. “Nos primeiros anos de vida é importante que a criança explore os seus próprios limites, se aventure a conhecer o mundo, desenvolva o seu corpo e criatividade”, afirma Bruno Gomes, garantindo que muito do que somos em adultos se deve àquilo que fomos em pequenos.  A criatividade, a boa comunicação oral, o trabalho em equipa e a capacidade de negociação são desde logo competências que se desenvolvem nos primeiros seis anos de vida.

“Quando a criança é colocada em frente à televisão está parada, quase hipnotizada, e às vezes nem tem capacidade para entender aquilo que está a ver”, explica o psicólogo infantil, realçando que a televisão não é suficientemente interactiva com a criança. Isto é, não lhe responde. Não comunica. “Quando um bebé olha para a mãe e sorri, esta tende a sorrir também, isto é comunicação. Mas quando a criança sorri para a televisão, esta não lhe sorri de volta”, exemplifica Bruno Gomes.
Aquilo que a American Pediatric Association recomenda é que até aos dois anos as crianças não devem ser expostas às novas tecnologias. É que até essa idade é essencial que os bebés desenvolvam a sua motricidade grossa (os músculos dos braços e das pernas) e a sua motricidade fina (movimentos mais precisos, como saber segurar um objecto). Tudo isto só é possível se a criança estiver em movimento e em contacto com brinquedos. “Às vezes não temos noção da importância destas pequenas coisas, mas uma criança que não desenvolva correctamente a sua motricidade fina pode vir a sentir mais dificuldades na escola em aprender a escrever”, adverte Bruno Gomes.

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AS TECNOLOGIAS SÃO COMO DOCES

Tal como é recomendado que as crianças só comam doces de vez em quando, também o uso das novas tecnologias deve ser limitado. “Os pais devem limitar o tempo que os filhos passam em frente à TV, controlar os programas que eles vêem, pois nem todos são pedagógicos, e se possível, ver televisão em conjunto com eles”, diz o psicólogo, salientando que as regras devem ser coerentes e estabelecidas logo ao início. Também é fundamental que os educadores dêem o exemplo, pois as crianças são peritas em aproveitarem-se das incongruências dos pais para tentarem negociar.
Contraditório é que a actual geração de pais é a mais informada de sempre, a melhor preparada e com mais conhecimentos, mas ao mesmo tempo aquela que mais teme dizer “não”. “Temos muito medo que os nossos filhos deixem de gostar de nós porque lhe dizemos que não, mas a verdade é que ao não definirmos regras estamos a criar pequenos tiranos que mais tarde não vão saber lidar com a frustração”, afirma Bruno Gomes, que aconselha: quando um pai diz não ao seu filho, deve fazê-lo dando a entender que essa decisão é a melhor para ele.

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