A escolha de “ser professora”

0
338

 Sandra Santos
diretora do Colégio Rainha D. Leonor

Recentemente, no final de uma aula de Português do 11.º ano, falava com os meus alunos sobre a escolha de “ser professora”. Dizia-lhes que desde pequena afirmava que queria ser professora, algo que, nessa altura, exprimia com a convicção de que a escolha de uma profissão era como uma ciência exata e um compromisso para toda a vida… O discurso hoje é indiscutivelmente e necessariamente diferente, porque, se, por um lado, é necessário traçar objetivos e descobrir perfis vocacionais, por outro é preciso compreender que o futuro reserva desafios e oportunidades que surgem a cada instante.
De acordo com um estudo da Kaspersky Lab., de 2018, 40% dos nossos alunos estão a preparar-se para empregos que ainda não existem, afirmando que, durante os próximos 20 anos, todas as carreiras sofrerão algum tipo de alteração, diretamente ligada à evolução tecnológica. Se pensarmos o quanto mudámos tecnologicamente em 2 anos, por força de uma pandemia, conseguimos perceber como esta afirmação é plausível. Mas, se pensarmos que há pouco tempo não havia Community Managers, a Engenharia de Dados, os Motoristas que mapeiam as ruas para a Google, então entendemos que ela será verdadeira. Como preparar, então, os nossos alunos para esta flexibilidade? Como os preparar para assumirem responsabilidades que não estão nos “programas”; para trabalharem para um país da Europa a partir do Oriente; para serem versáteis; para serem capazes; para serem empreendedores; para darem o seu melhor nas funções que vierem a assumir; e para, principalmente, se conseguirem adaptar a qualquer carreira que acabem por escolher?
A importância que a escola deve dar à aquisição dos saberes académicos é inquestionável, contudo, o papel da escola vai para além de ensinar conteúdos. As múltiplas inteligências do indivíduo devem ser tidas em conta no processo de formação da criança, de forma a potenciar todos os perfis. A inteligência emocional, a título de exemplo, tem vindo a ser apontada como chave para o sucesso de adultos no mundo do trabalho. As oito inteligências de Gardner começam também a ser tidas em conta na Educação, pois apenas tendo por base este pressuposto se conseguirá explorar todas as potencialidades da criança/do jovem e contribuir para a sua formação plena. À luz destes conceitos e tendo como objetivo potenciar todos os perfis e formar cidadãos capazes, críticos, realizados, empreendedores, resilientes e criativos, a escola deve criar projetos que trabalhem diferentes inteligências e diferentes competências, não deve descurar as Soft Skills, porque estas serão determinantes e farão a diferença no processo de recrutamento do jovem adulto; na sua capacidade de resolver problemas; na sua capacidade de questionar e pensar criticamente; na criatividade que colocará nos seus projetos; na sua capacidade de se adaptar; na diferença que fará na sociedade.
No Colégio Rainha D. Leonor, realidade que melhor conheço, o projeto Skills 4.0 é a base de todo o projeto educativo e tem como princípio formar crianças felizes e jovens completos do ponto de vista académico, intrapessoal e interpessoal, desenvolvendo múltiplas inteligências. Este objetivo é desenvolvido de forma gradual e contínua, através de disciplinas, projetos sociais, metodologias de trabalho, tarefas de sala de aula, a introdução do ipad em sala de aula, atividades de complemento curricular, trabalho de campo, visitas de estudo e outras iniciativas. São tidas em conta competências e conhecimentos requeridos na sociedade, como conhecimentos digitais, matemáticos e lógicos, trabalho colaborativo, a comunicação, o empreendedorismo, entre outros.
Em suma, este é um dos muitos desafios que temos hoje, enquanto educadores, mas que, concomitantemente, nos enche de orgulho, quando vemos que os nossos alunos se transformam em adultos capazes de nos ensinar e dar tanto.

- publicidade -