Yoni – as pranchas de madeira ecológicas da Amoreira

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José Antunes é o rosto das Yoni Surfboards, pranchas que assentam numa lógica de sustentabilidade | ISAQUE VICENTE

Pranchas de madeira não são uma novidade. Pelo contrário, “trata-se de um regresso às origens, uma vez que o surf surge com um humano em cima de uma tábua de madeira”. Mas já se imaginou a surfar em cima deste material? E já imaginou a possibilidade de ser você mesmo a criar a sua prancha em madeira? Fique a conhecer as Yoni surfboards, pranchas de madeira que são fabricadas na Amoreira (Óbidos) à luz de uma lógica sustentável.

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Entre serras e tubos de cola, prensas, lixas e incontáveis pedaços de variadas madeiras, encontramos José Antunes na sua oficina na Amoreira, acompanhado pelo filho e pelo seu fiél amigo, Skip.
É ele o mentor do projecto Yoni Surfboards. “Quando se ganha consciência das coisas e se aprofundam os conhecimentos, quando não se quer entrar no ciclo vicioso que alimenta a indústria e polui o ambiente e não se quer ser escravo do petróleo, procuram-se alternativas”, explica. Assim, e como defende que o surf tem tudo a ver com a comunhão com a Natureza, há cerca de oito anos, propôs-se a fabricar pranchas menos poluentes do que as que se encontravam no mercado e que são feitas à base de polipropileno.
Após várias tentativas encontrou um método que combina a resistência e a leveza pretendidas. São pranchas fabricadas de uma combinação de dois tipos de madeira: choupo (mais pesado e resistente) e agave (mais leve). Os pedaços de madeira são colados com uma resina 65% orgânica e que é resistente à água. Depois, na tábua inferior, cola-se uma “espinha” de madeira de choupo, onde posteriormente assenta a “tábua” superior. Tudo isto é feito numa bancada com a inclinação pretendida para a prancha, que, dessa forma, vai moldando a madeira. A terminar as pranchas são laminadas com epóxi.

INSPIRADAS EM ASAS DE AVIÃO

As tábuas são ocas, mas a espinha em choupo dá-lhes a resistência necessária. Este processo assemelha-se ao método havaiano “Hollow”, que remonta a 1928 e que se baseia na técnica que era usada na construção das asas dos aviões.
José Antunes realça, no entanto, que ao contrário da Califórnia (EUA) e da Austrália, em Portugal não existe tradição com a madeira “porque o surf já cá chegou com as pranchas modernas”, o que “condiciona o nosso mercado”. Ainda assim, estima já ter fabricado mais de 150 pranchas.
A verdade, defende, é que “não se sente diferença alguma a surfar com uma prancha destas, a não ser na consciência de que se está a usar um material mais ecológico”.
O peso costuma ser uma das grandes barreiras das pranchas de madeira em relação às mais modernas. José Antunes garante que consegue criar uma prancha com uma peso semelhante, “mas não fica tão resistente quanto é suposto. Quero que durem entre nove a dez anos”. E esclarece que “no mínimo consigo fazer uma prancha com três quilos”, ressalvando que tal depende, por outro lado, do tamanho.
O custo depende também das dimensões da prancha, mas pode variar entre os 600 e os 900 euros.
“Uma prancha moderna para ter a resistência de uma destas custa no mínimo entre os 400 e os 500 euros, portanto não estamos a falar de grandes diferenças”, salientou.

UMA ÁRVORE POR CADA PRANCHA

E como o conceito de sustentabilidade é uma máxima para este artesão, por cada prancha que vende, compromete-se a plantar uma árvore. A última vez que o fez plantou cem, da espécie Paulownia, em Oleiros, num terreno da família que tinha ardido.
E como usa desta madeira, que depois de cortada volta a rebentar, José Antunes assegura que por cada prancha vendida planta madeira para dentro de oito anos poder criar mais 15 pranchas.
Além disso, uma percentagem dos lucros é usada no projecto educativo que abriu com a esposa (um jardim de infância Waldorf).
A única coisa que não é ecológica numa Yoni é a cola (à base de poliuretano) e a resina (que só é 65% orgânica).
Como, quando começou, encontrou muita dificuldade no acesso à informação, José Antunes quer disponibilizar os seus conhecimentos, criando os ateliers “Shape and stay”, que possibilitam a qualquer um criar a sua própria prancha de madeira. Duram entre 50 a 60 horas e os preços começam nos 600 euros e inclui o alojamento.

PRANCHAS FORRADAS COM CANAS OU CARTÃO

José Antunes também já criou pranchas em que o interior é forrado a canas e outras com cartão. “Dão um efeito completamente diferente, mas as canas tornam a prancha mais pesada”, explicou.
A ideia de fabricar pranchas com a tão portuguesa cortiça não prosseguiu devido ao peso com que a prancha ficaria. Portanto, tem tentado combinar a cortiça com outras madeiras, considerando, ainda assim, que o cartão tem mais possibilidade de vingar. “Por ser uma madeira macia, a cortiça serve muito bem para certas partes da prancha, como o deck, onde há contacto com o corpo”, fez notar.
Actualmente tem um projecto para criar a carpintaria noutro espaço, por forma a expandir a oficina, que, entretanto, se tornou pequena.
O artesão recebe regularmente estagiários nacionais e internacionais que com ele aprendem estas técnicas. “Já aqui tive estudantes de Rio Maior, de Veneza e de Grenoble e já ensinei sete pessoas que continuaram a fabricar pranchas depois”, contou.
Mas como é que isto tudo começou? O pai de José Antunes vendia mobílias e o filho ajudava, por exemplo, a montar cozinhas. Há cerca de 17 anos começou a trabalhar com madeira e, depois, com o nascimento do filho mais velho, decidiu fabricar brinquedos com o material com que trabalhava. Mais tarde quis iniciar-se no kitesurf. Comprou tudo o que precisava, só faltava a prancha…  “Como era muito cara e eu trabalhava com madeira, decidi fazê-la eu”, contou. “Cerca de um ano depois, portanto, há oito anos, fiz uma prancha de surf, a primeira…”

 

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