Volta a Portugal a cavalo foi recriada um século depois

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A chegada ao Jockey Club, em Lisboa, 25 dias depois da partida, tal como há um século

Viagem do bisneto de José Tanganho, com o artista João Belga, terminou no Jockey Club, em Lisboa, na manhã desta segunda-feira, com festa e emoção. Segue-se, a partir de dia 15, a exposição “Não navega, Cavalga”, a ser apresentada no CCC

Na manhã da passada segunda-feira, 3 de novembro, tal como há cem anos, a Favorita (uma carrinha decorada, com uma exposição itinerante, que recebeu este nome em homenagem ao cavalo com que José Tanganho venceu a Volta a Portugal a Cavalo em 1925) chegava triunfalmente ao relvado do Jockey Club, no Campo Grande, em Lisboa. É certo que esta Volta não teve o impacto popular do Primeiro Circuito Hípico, mas cumpriu a missão de levar José Tanganho, as Caldas da Rainha e a Gazeta das Caldas a todo o país, sendo amavelmente recebida por onde passou.

No local esperava-a, entre outros entusiastas, familiares e amigos, Irene Lima, filha do jornalista que cobriu a Volta em 1925 para o Diário de Notícias e que preserva um diário das notas que este tirou e fotografias. Foi a ela que coube colar o último autocolante no mapa na lateral da Favorita. Foram 70.

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Pedro Bernardo, bisneto de José Bernardo “Tanganho”, acabara de recriar o feito do seu bisavô, numa viagem que, um século depois, levou quase o dobro dos quilómetros. Acompanhado pelo artista plástico João Belga, foram embaixadores da História, apresentando-a em locais instituicionais, como universidades, escolas e autarquias, mas também onde paravam a carrinha para dar a conhecer a quem passava a exposição itinerante.

À Gazeta das Caldas o bisneto de José Tanganho recorda, entre os vários episódios, a GNR em Bragança espantada com esta missão, bem como uma subida em Vinhais que era tão íngreme que causou instabilidade à Favorita. Na baixa do Porto a dimensão da Favorita foi à justa para passar na largura das estradas existentes, mas também na sua altura, dadas as varandas das casas. Em Beja, junto à zona do castelo, valeu um simpático habitante que ajudou nas manobras. Já de Penafiel recorda uma paragem para deixar um livro de Mário Lino sobre Tanganho na Sociedade Recreativa. Quem o recebeu, viu e disse: “José Tanganho! Saiu nas palavras cruzadas no outro dia!” Mas um pouco por todo o lado onde este trio passava ouviam histórias relacionadas. Em Braga jantaram onde há cem anos foi oferecido um banquete aos participantes da Volta. Em Elvas apareceu um senhor que se apresentou como o neto de um antigo dono do Favorito, o cavalo que com Tanganho venceu a Volta. Falou das éguas a passar o Guadiana com os poldros atrás e contou que este cavalo não seria bom para trabalhar a terra e terá sido vendido e revendido, nesta segunda venda para o Ribatejo. Já em Vinhais, João Belga estava a tirar fotografias e um senhor abordou-o a convidar para ver fazer aguardente e ofereceu-lhes um lanche com chouriço e queijo. “Encontrámos pessoas muito simpáticas”, afirmou. Em Alcobaça vemos Mário Freire, apaixonado do mundo dos cavalos, aparecer com um recorte da Gazeta com 35 anos, emoldurado. Fala sobre Tanganho, claro.

Em Alfeizerão, na centenária Casa do Pão do Ló, que foi parceira, a comitiva cresceu para a passagem nas Caldas, em festa, como há um século. A viagem “permite ver as diferenças e conhecer o país”, referiu o bisneto, explicando que conheceu muitos locais que não conhecia. “O Pedro que saiu no dia 10 de outubro, não é o mesmo que regressou”, disse. Sendo alguém que já atravessou o Atlântico, já subiu montanhas e já fez os caminhos de Santiago, alguém que percorreu a freguesia num burro, estando “habituado a fazer muitas coisas, esta foi verdadeiramente especial, enche-me de orgulho”. E, recordando a história do bisavô, diz que “se há valor que herdei foi o da liberdade”.

Pedro Bernardo salientou ainda que “a imprensa local é fundamental” e que quiseram também levar essa mensagem. Nesta Volta, em que levaram a História aos locais onde ela aconteceu, houve outras particularidades, como a coincidência com as eleições autárquicas, que proporcionou histórias engraçadas, como a chegada a Mochique, a meio do ato, e a São Brás, na hora da celebração da vitória.

No final da Volta, agradeceu os apoios que teve, mas deixou um reparo à falta de mais apoio da autarquia caldense.

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