Um professor da escola secundária Raul Proença, de 39 anos, faleceu na manhã de 28 de Abril, depois de ter sido encontrado pela sua mulher em casa, no Casal Vau (Campo) quando estava com hemorragias e em paragem cardiorrespiratória. O facto de não ter sido assistido ainda em casa pela VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação), por esta ter estado inoperacional durante duas horas nessa manhã, levou a que o Centro Hospitalar voltasse a ser notícia de destaque nos principais órgãos de comunicação social.
O caso foi manchete no Diário de Notícias, a 2 de Maio, e rapidamente foi replicado por todos os jornais nacionais e televisões, apesar da família do professor, Henrique Caetano, ter referido que nada tinha a apontar contra os meios utilizados no socorro.
Segundo o comandante dos bombeiros caldenses, José António Silva, à hora do alerta, às 8h27, o CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) deu ordem para a ambulância do INEM (gerida por aquela corporação) se deslocar ao local, informando logo que a VMER não estava disponível.
“Quando a tripulação lá chegou verificou que era uma situação grave e enviámos para o local mais uma ambulância, que teve como objectivo reforçar o socorro, mas a situação estava muito complicada e optaram por transportar o doente para o hospital, até porque a VMER não se poderia deslocar ao local”, contou. A casa do falecido dista cerca de cinco quilómetros do hospital das Caldas.
De acordo com José António Silva, a diferença que a VMER faria seria a presença de um médico, e dos seus conhecimentos da melhor forma de actuar, mas as ambulâncias são equipadas com um desfibrilador “e foram aplicadas todas as manobras de reanimação possíveis”. A própria mulher de Henrique Caetano, que é enfermeira no hospital das Caldas, iniciou essas manobras de reanimação.
Henrique Caetano foi transportado para o serviço de urgências do hospital das Caldas, onde foi confirmado o seu óbito. A causa da morte será apurada pela autópsia, realizada pelo Instituto de Medicina Legal.
Taxa de operacionalidade de 97%
O comandante dos bombeiros salienta que não é a primeira vez que a VMER não se pode deslocar a uma ocorrência em que é necessária, até porque tem uma extensa área de cobertura. “A VMER das Caldas dá apoio a seis concelhos e muitas vezes está num local e não pode ir a outro”, referiu, apesar de se saber agora que neste caso foi porque esta não tinha médico disponível.
O comandante salienta ainda que o socorro à população através das ambulâncias, “é realizado por profissionais durante 24 horas por dia” com a formação devida. De qualquer forma percebe as notícias que vieram a público porque “todos nós estamos a contar com o facto de termos uma VMER 24 horas por dia”.
O Conselho de Administração do CHO salientou que a VMER das Caldas tem uma taxa de operacionalidade de 97%, mas confirmou o ocorrido.
“Lamentavelmente, apesar desta taxa de operacionalidade, na manhã de 28 de Abril, a VMER das Caldas da Rainha esteve inoperacional por um período de cerca de duas horas, entre as 8 e as 10 horas, por falta de médico”, explicou Carlos Sá.
Um recente despacho do Ministério da Saúde, em resposta às conclusões preliminares de um processo de averiguações da Inspecção Geral de Actividades em Saúde (IGAS) às inoperacionalidades das VMER, define novas regras para este serviço.
Este despacho determina que os directores dos serviços de urgência passam a ter a responsabilidade de manter, com conhecimento do INEM, uma lista com o pessoal apto para tripular as VMER, as escalas de serviço e a operacionalidade permanente do meio.
Todos os médicos e enfermeiros dos serviços de urgência, com formação em emergência dada pelo INEM, podem ser chamados para integrar a escala de profissionais que asseguram a tripulação das VMER, em detrimento de outras actividades hospitalares.
Segundo Carlos Sá, para cumprimento das determinações definidas pelo diploma, o CHO está a fazer o levantamento dos recursos humanos médicos existentes com a formação exigida.
Tal noutras situações do género, a IGAS também já instaurou um processo de averiguações sobre o caso das Caldas.
Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt
PS contesta e PSD critica “aproveitamento político”
Segundo jornal Público o PS já anunciou que vai requerer os resultados dos inquéritos às falhas no Serviço de Emergência Médica. “O PS vai requerer institucionalmente o resultado desses inquéritos, dessas inspecções, para que o senhor ministro não possa lavar novamente as mãos como Pilatos, para que compreenda que o Serviço de Emergência Médica não pode ter falhas, é para salvar vidas, tal como os controladores aéreos não podem ter falhas, porque estão vidas em jogo”, afirmou o deputado do PS José Junqueiro, citado pela Lusa, em declarações aos jornalistas no parlamento.
Os socialistas caldenses também emitiram um comunicado sobre o assunto, publicado nesta edição, em que referem que o facto da operacionalidade da viatura de emergência ter sido avaliada em 97% do seu tempo “não acalma a nossa indignação face à passividade das autoridades competentes, nomeadamente do INEM, no apuramento da responsabilização pela sua paragem e impossibilidade de prestar cuidados de emergência seja qual for o tempo em que tal se verifique”.
Entretanto, a deputada e vereadora caldense Maria Conceição Pereira falou em nome do PSD nacional, na Assembleia República, criticando o “aproveitamento político” feito após as mortes resultantes de falhas no Serviço de Emergência Médica. Segundo a agência Lusa, a social-democrata afirmou que o “grande respeito pelas famílias” exige que se aguarde pela conclusão dos inquéritos.
“Não deve haver em momentos destes qualquer tipo de aproveitamento político que sirva para destabilizar e criar insegurança nas pessoas, pelo que devemos calmamente aguardar os inquéritos que estão a decorrer, as informações que hão-de chegar e ajudar a compreender o que aconteceu verdadeiramente”, disse.
P.A






























