Jonas Böhlmark, que tem síndrome bipolar, vive uma aventura épica há mais de três anos
Há mais de mil dias que Jonas Böhlmark vive em plena natureza, numa jornada que começou quase por acaso e que se transformou numa missão de vida. O sueco de 37 anos, que passou pelo Oeste na semana passada, tendo pernoitado em São Martinho e Peniche, leva na sua prancha de stand up paddle uma mensagem de superação e consciência sobre a síndrome bipolar, condição com que convive desde jovem.
Tudo começou, contou à Gazeta das Caldas, como uma simples escapadinha com um amigo. “De início, era apenas umas férias de três dias. Estávamos a correr nas montanhas do norte da Noruega e a descer um rio de caiaque. Depois, o meu melhor amigo voltou para casa e eu continuei”, recorda o “Viking”, como já é conhecido. Começou a correr diariamente a distância de uma maratona. Passou pela bicicleta e depois à prancha. Acabei preso a esta vida de aventura. Estou fora há três anos e ainda não parei”, disse.
Jonas diz que se move por objetivos, a começar pela própria aventura. “Adoro estar na natureza, sobreviver, e aprender a ser grato pelas pequenas coisas”, disse, apontando um exemplo: “ficas grato por comida simples quando tens fome há muito tempo”.
O segundo objetivo é mais pessoal. “Quero fazer a aventura mais difícil que algum sueco já fez, e acho que já alcancei isso”, afirma. Mas para o aventureiro, a viagem é também uma forma de transmitir uma mensagem sobre saúde mental. “Tenho síndrome bipolar, mas nesta jornada não tenho problemas com isso. Acho que é importante mostrar que a medicação é apenas uma parte. Se tens bipolaridade e bebes álcool, não é bom. Se não treinas, não é bom. Se tens drama na tua vida, também não é bom. A medicação de nada serve se não tiveres o estilo de vida certo”, adverte, sublinhando a importância do equilíbrio.
A disciplina, o exercício físico, a exposição ao sol e um propósito diário são, diz, pilares essenciais. “Todos os dias acordo com um propósito, que é chegar a Gibraltar. Muitas pessoas não têm um propósito e precisam de encontrar o seu. Não é preciso ter bipolaridade para uma pessoa se sentir mal. Se não tiveres um propósito na vida, sentes-te mal”, aponta.
A ligação à natureza é outro grande motivo que o move. “Nunca tive medo no oceano. Para mim, a natureza é uma religião. Acredito que se tratares bem a natureza, tens sorte na vida. Se a tratares mal, tens azar”, afirma. É também por isso que recusa grandes marcas como patrocinadores. “Já viajei pelo mundo em três anos, sem patrocínios. Não quero fazer publicidade para que as pessoas comprem mais coisas. Os poucos apoios que recebo são de pessoas que acreditam na causa”, refere Jonas Böhlmark, que tem um livro pronto a publicar sobre a síndrome bipolar.
Ao longo da travessia, o sueco tem colecionado encontros e histórias, que reforçam a sua fé no lado humano da aventura. “Por todo o lado encontro pessoas boas. Aqui na costa portuguesa encontrei ondas grandes e pessoas simpáticas”, resume.
Enquanto segue rumo ao sul, Jonas Böhlmark continua a remar contra ventos, marés e preconceitos, usando a sua jornada como um manifesto vivo de resistência, gratidão e equilíbrio. O objetivo é chegar a Gibraltar, mas já sabe que, quando lá chegar, “vou continuar!”, rematou.
































