Com o aproximar da reabertura da renovada Praça da Fruta, a 10 de Novembro, cresce o desagrado dos vendedores relativamente aos novos toldos que, dizem, têm ferros pesados e tão grandes que não cabem em todos os carros. Para a passada quarta-feira à tarde estava prevista uma reunião na Câmara com os vendedores onde uma empresa deveria apresentar uma proposta para a prestação do serviço de montagem de desmontagem das bancas.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse à Gazeta das Caldas que não irá colaborar na montagem e desmontagem dos toldos e que terão que ser os vendedores a fazê-lo. É que, explica, autarquia já ofereceu os toldos e as bancas que custaram cerca de 70 mil euros.
Desde criança que Regina Carreira vende na praça, primeiro a acompanhar os avós, depois os pais e há 25 anos que começou a vender por conta própria. “Estas mudanças não as vejo como nada de jeito”, disse à Gazeta das Caldas.
Na semana passada a vendedora levou os dois toldos para casa, mas vê muitas dificuldades em conseguir montá-los sozinha. “Durante todos estes anos, desde que eu faço a venda com banca tenho-a feita ao meu jeito, ferro a ferro”, disse, acrescentando que o novo toldo é muito pesado e com ferros muito compridos.
“Como é que vou levantar um toldo inteiro só de um lado?”, questiona, referindo que aquando da entrega aos vendedores, foram precisos dois homens para montar o equipamento. “Se fosse fácil bastava um homem para o fazer”, realça.
Regina Carreira recorda que, quando viu o protótipo na Expoeste, alertou que as hastes não deveriam ser tão grandes para poder caber nos veículos e que, em alternativa, os ferros deveriam encolher e encaixar uns nos outros. “No meu carro cabe porque tem três metros, mas se quiser trazer a outra carrinha já não posso trazer a barraca”, adianta a vendedora, que estava a contar marcar presença na reunião de quarta-feira, para expor as suas dificuldades.
Também Lucete Bernardo, comerciante de frutos secos e azeitonas na praça, é da opinião que a maior parte das pessoas que vendem não têm carros apropriados para transportar ferros tão compridos. Relativamente às barracas, considera que são difíceis de montar, principalmente para as senhoras e, ainda mais, para as pessoas de mais idade.
“As leis para nós exigem tudo. Temos instalado o sistema informático e a praça foi requalificada, mas só um quarto dela é que tem electricidade, e os nossos lugares não estão nessa zona”, queixou-se Lucete Bernardo sobre a falta de condições que continua a ter. Na reunião de quarta-feira a vendedora pretendia bater-se de novo pela energia eléctrica, destacando que a instalação devia ser feita em toda a praça e depois quem queria pagava o serviço.
“Acho que não foram criadas condições nenhumas, nem para quem está a vender nem para quem está a comprar”, disse, acrescentando que a obra já vai em 10 meses e “a única coisa que tem é o pavimento mais direito”.
Para esta vendedora, devia ter sido equacionada a colocação de uma estrutura em fibra de vidro, vidro ou acrílico, que protegesse as pessoas das intempéries. Lucete Bernardo também não gosta dos bancos que foram colocados no novo tabuleiro. “Trata-se de uma praça antiga e aquilo é moderno demais. No Inverno quem se senta fica com o rabo gelado ou encharcado e no verão, com calor a mais pois a pedra está super quente”, explica.
Muita gente comprou lugares “ao engano”
Também Adélia Ferreira se queixa do peso do toldo que, diz, rondará os 100 quilos. “O meu não cabe no carro e também não é uma mulher que vai acartar aquele peso e porção de ferro da arrecadação. Para isso tínhamos que ficar cá toda a noite”, argumentou.
A vendedora de frutas lembra que em quase 30 anos que vende na praça nunca usou barraca, optando apenas pelos chapéus em dias de muito sol ou chuva, para proteger os produtos. Considera que a Câmara podia ter facilitado “um pouco mais” a vida das pessoas, colocando alguém a montar e desmontar os toldos, ou então a permitir que a estrutura ficasse montada. “As bancas poderíamos tirar e levar, mas as barracas ficavam montadas, nem que metessem lá um guarda a garantir a segurança dos equipamentos”, diz.
Adélia Ferreira falou também da dificuldade que vão sentir em termos de espaço para estacionamento pois, como os ferros dos toldos tão compridos, precisam de bastante mais área para os retirar dos carros.
Para o vendedor de fruta António Tiago, as mudanças não se traduzem em nada de bom. “A praça já não é o que era, foi descaracterizada, já não é histórica”, disse, acrescentando que “perde muita graça a arrumação ser imposta pela Câmara em vez de serem os vendedores a fazê-la cada um à sua maneira”.
António Tiago, que vende há 35 anos, não tem lugar comprado pois discorda que a venda ocorra com a praça em arranjo. “Foi precipitado e uma ganância por parte da Câmara, devia ter sido vendido depois das pessoas estarem instaladas e de verem como era”, disse, acrescentando que muita gente comprou “ao engano” e já está a colocar os lugares à venda.
Nos próximos tempos irá comprar o lugar para venda ao dia e, se depois decidir, comprará então o espaço.
“Os vendedores terão que encontrar alternativas”
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, justifica que os toldos tinham que ter um tamanho normalizado e sem estacaria, para impedir que se estrague o tabuleiro. Reconhece que os ferros poderiam ser extensíveis, mas “seriam mais caros seguramente”, acrescentando que os toldos e bancas foram disponibilizados pela Câmara aos vendedores num investimento que ronda os 70 mil euros.
“Os vendedores terão que encontrar alternativas para a montagem dos toldos se não a conseguirem fazer por si”, referiu, destacando que desde sempre foi anunciado que as pessoas ficavam responsáveis pelas suas coisas. O autarca realça que as pessoas, aquando da licitação dos lugares na Expoeste, tiveram oportunidade de ver o equipamento proposto. No que respeita ao estacionamento, Tinta Ferreira afirma que haverá um período para cargas e descargas entre as 5h00 e as 9h00 e entre as 13h00 e 17h00, durante o qual têm tempo para se organizarem entre eles.
Vai ser colocada sinalização no local e um polícia remunerado pela autarquia para acompanhar e ajudar a regular o funcionamento do mercado.
A colocação de parquímetros será feita “mais tarde caso se venha a justificar”, disse o autarca.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt































