Velas acesas pela construção de um novo hospital localizado nas Caldas e Óbidos

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A mobilização estava marcada para a tarde de 1 de abril no emblemático Largo do Termal e, embora a chuva tenha levado à transferência para o Céu de Vidro, houve música, algumas intervenções e a vigília, que juntou algumas centenas de pessoas

O som dos bombos da ETEO, dos gaiteiros da Fanadia e Banda de Comércio e Indústria foram atraindo as pessoas, na tarde de sábado, 1 de abril, para o Largo do Termal, onde momentos depois haveriam de começar as intervenções em defesa da saúde e da construção do novo hospital nas Caldas e Óbidos. A música voltaria a ouvir-se, pela voz de Joana Rodrigues, que mostrou que “a saúde é algo que também se canta”. Com o seu adufe, a cantora e profissional de saúde, pegou numa cantiga de intervenção (Canta, canta, amigo canta, de António Macedo), que adaptou à realidade do momento e defendeu que é necessário um “hospital perto de nós e que seja digno para todas as pessoas”. A tarde de mobilização cívica haveria de acabar, já com todos reunidos no Céu de Vidro, devido à chuva, e depois da vigília, ao som da música popular e animada do Grupo Coral da Casa do Pessoal do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha.
O presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, foi o último a usar da palavra, já ao fim da tarde, para apelar à união e manifestar que pretenderam dar voz aos que reivindicam um novo hospital há mais de 20 anos. “O que temos na zona Oeste, a menos de 100 quilómetros de Lisboa e a 10 quilómetros do mar, é a pior resposta hospitalar que existe”, salientou.
O autarca criticou o estudo da OesteCIM, que foi feito de uma “forma encomendada”, em que apenas foram considerados dois critérios (tempo e distância). Também não se revêem nos critérios do território, que inclui Alenquer, que está a cinco quilómetros do hospital de Vila Franca, ou Mafra ou Sobral de Monte Agraço que estão perto de Loures e que hoje já utilizam esses equipamentos. Esses hospitais continuam a ter capacidade de resposta, ao contrário do que acontece com os hospitais de Leiria e Santarém, referiu, acrescentando que é nesta região que existe “um buraco” e que, por isso, há que reivindicar um novo hospital que satisfaça as necessidades do Oeste. E que faça parte da rede nacional hospitalar.
A coesão territorial, a oferta pública, privada e social dos cuidados de saúde, o número de habitantes mas também de turistas e os estrangeiros residentes também devem ser factores a considerar, defendeu o autarca, que rejeita uma solução traçada a “regra e esquadro, como o estudo anterior fez”. Vítor Marques rejeitou também as críticas de proximidade do terreno proposto para o hospital ao quartel da ESE.
“Vamos continuar unidos neste propósito de uma forma ordeira”, disse, reconhecendo que a luta por melhores cuidados de saúde será o maior desígnio deste mandato.
O presidente da Câmara de Rio Maior não pôde comparecer por motivos de saúde, mas o autarca de Óbidos marcou presença e destacou a mobilização de todos na necessidade de uma infraestrutura, que espera que seja concretizada o mais rapidamente possível. Filipe Daniel garante que “não houve bairrismo” na vontade dos três autarcas que se manifestaram publicamente (Caldas, Óbidos e Rio Maior) na defesa desta localização, e explicou que só o fizeram para dar mais um conjunto de argumentos para que a tomada de decisão fosse feita em consciência.
Para além da coesão territorial, o autarca de Óbidos elenca as boas acessibilidades rodoviárias, a proximidade da Linha do Oeste e a dimensão do terreno (parte dele do Estado), que permite a complementaridade da academia, para formação de profissionais.
Carlos Coutinho, vice-presidente da concelhia do PSD, reforçou a necessidade “urgente” de se proceder à revisão do estudo encomendado pela OesteCIM e que consideram “incompleto”. O social-democrata falou sobre a rede hospitalar existente, com a sobrelotação dos hospitais de Leiria e de Santarém, e a resposta a sul, com os hospitais de Vila Franca e de Loures, que abrangem alguns dos concelhos oestinos. “Com a localização de um hospital mais a sul na região Oeste não ficará comprometido o equilíbrio da rede hospitalar nacional e a equidade das populações a norte, no acesso à assistência hospitalar quando comparado com as populações do sul da região”, questionou. O PSD caldense defende a localização Caldas/Óbidos e apelou para que esta seja uma causa de todos, supra partidária e que una a população.
A defesa de uma identidade que tem na sua génese a saúde foi reivindicada pelo presidente da concelhia caldense do PS, Pedro Seixas, que, garante, “não irão abdicar dela, custe a quem custar”. O dirigente socialista realçou que defendem esta localização, “não por bairrismo, mas para garantir que ninguém fica para trás”, realçando que as políticas de saúde “fazem-se com as pessoas e para as pessoas e não com régua e esquadro”.
Um hospital entre Loures e Leiria
A residir há 23 anos nas Caldas, voluntário e dirigente da concelhia do CDS-PP, Rui Vieira, foi o primeiro a subir ao palco colocado no Largo do Hospital Termal para manifestar o apoio à construção do novo hospital nas Caldas/Óbidos por ser uma mais valia esta população. No entanto, é cético quanto à rapidez da sua construção e quer saber, até lá, “como é que vai ser a saúde por estes lados?”, se terão de continuar a “acordar de madrugada” para conseguir uma consulta no centro de saúde, a assistir a urgências fechadas e à falta de equipamentos em serviços como a pediatria. Rui Vieira, que considera que a saúde depende de ações práticas, deixou um apelo à Câmara para que use parte do dinheiro que vai arrecadar com o aumento da tarifa da água, para adquirir um ecógrafo para o serviço de Pediatria.
Para o antigo presidente de Câmara, Fernando Costa, esta manifestação consistiu num momento “muito importante” para as Caldas e que o novo hospital irá servir esta região Oeste norte. “Entre Loures e Leiria, não há um hospital com a dimensão e qualidade que deve haver”, disse, defendendo a construção de dois equipamentos hospitalares, um no Oeste Sul e outro no Oeste Norte.
Adelino Mota, que há 30 anos tem as Caldas como a sua cidade de adoção, destacou o impacto que esta possui na região e partilhou que seria com “muita mágoa” que a via perder o hospital.
Também presente na iniciativa, Vasco Morgado, membro da concelhia caldense do Chega, destacou o movimento extrapartidário que se criou, nos últimos meses, em defesa desta localização do hospital. “Aquilo que é crucial dizer é que não vamos aceitar outra decisão que não a localização entre Caldas e Óbidos”, disse, acrescentando que esta localização fica equidistante entre o norte e o sul do distrito. ■

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