Várias gerações recordaram a Foz do Arelho de outros tempos

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notícias das CaldasDecorreu no sábado, 6 de Agosto, um encontro na Foz do Arelho destinado ao convívio entre antigos e actuais “banhistas”. Os participantes vieram de várias zonas do país, têm idades entre os 50 e os 80 anos e já se reúnem há quatro anos.
Desta vez, por causa das condições climatéricas (um Verão especialmente frio), estiveram apenas 46 convivas, ao contrário dos 60 habitués. “Tivemos 20 desistências de última hora pois de repente começou a chover e as pessoas deixaram de aparecer”, disse João Jales, um dos organizadores desta iniciativa e que também frequenta esta estância balnear desde criança.

“A única coisa que temos em comum é um grande amor à Foz do Arelho”, disse João Jales, organizador deste evento que já decorre há quatro anos e junta pessoas de várias gerações que “muitas vezes nunca se tinham encontrado antes destes convívios”. O local escolhido para o repasto foi o Inatel por causa da belíssima vista sobre a Lagoa e a praia que dá mote a este convívio.
Foi em ambiente descontraído e de amena cavaqueira que Gazeta das Caldas encontrou os participantes da iniciativa que teve início ao final da tarde na Escola Primária da Foz do Arelho. Um pequeno grupo de  convivas apreciou a exposição de postais “A Foz do Arelho desde há Cem Anos”, patente no estabelecimento escolar. A visita foi feita com a presença do presidente da Junta de Freguesia Fernando Horta que durante a refeição se queixou como o exagerado centralismo do país tem prejudicado o desenvolvimento de terras como a Foz do Arelho.
O jantar realizou-se no Inatel e, após o repasto, os participantes vieram para o exterior para conversar numa das esplanadas daquele espaço. Bebe-se descontraidamente e conversa-se sobre a Foz.  Apesar de ter nascido em Lisboa, João Jales veio para as Caldas em bebé e lembra-se bem de vir com a irmã e com a mãe, para esta praia.
“O meu pai, médico, vinha trazer-nos às 8h30 da manhã e era inacreditável pois estava quase sempre um tempo cerrado e quando nos vinha buscar, um pouco antes do almoço, era quando finalmente o tempo abria”. Conta que viveu aquele drama – de apanhar chuva e nevoeiro – durante alguns anos até que a sua mãe tirou a carta e passaram a vir de Mini podendo assim, com esta autonomia, ficar até mais tarde na praia. Já mais velho  vinha à boleia com os amigos e recorda-se que apanhou muitas vezes a camioneta das seis da tarde que transportava então os banhistas entre as Caldas e a Foz.
Mesmo quando vinha cedo e a neblina teimava em persistir, “gostávamos muito disto”, confessou. Até porque nos anos 60, “morávamos nas Caldas muito fechados durante todo o Inverno” e quando chegava o Verão vinha para cá gente de todo o lado, sobretudo do Alentejo e do Ribatejo, que fugiam ao calor, e  havia na Foz gente de várias localidades.
Naquela época “Caldas era mais evoluída do que Leiria e como vinha gente de todo o país passar aqui o Verão, vivia-se uma espécie de mini-globalização”, recordou o organizador, sublinhando o ambiente cosmopolita e de grande liberdade que então se respirava. Recorda, por exemplo, os bailes que organizavam na FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), entidade que antecedeu o Inatel (Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres).
Nuno Mendes, 60 anos, morou muitos anos nas Caldas e a Foz do Arelho sempre foi a sua estância de eleição. Foi no Oeste que viveu entre os cinco e os 17 anos e acha a Foz “uma praia sui generis, óptima apesar do seu microclima especial”, disse.  Sempre que pode vem participar nestes convívios sobretudo “para estar com os amigos”. Foi na Foz do Arelho que Nuno Mendes aprendeu a nadar e tem saudades das travessias que fazia à aberta (zona onde a Lagoa se une ao mar) com amigos, várias vezes por dia.
Carlos Cruz, ortopedista no Centro Hospitalar Oeste Norte, mora na Foz do Arelho desde 1987. A sua intensa vida profissional não lhe permite ter uma grande vivência desta localidade que tanto aprecia. “Durante alguns anos acalentei o sonho de aqui viver”, contou o médico, acrescentando que a Foz “possui uma singularidade própria, por muito mundo que se conheça”. Na sua opinião, esta praia deveria ser mais desfrutada, até pelos próprios residentes, de modo a poder “fazer-se uma pressão diferente sobre os poderes instituídos pois vemos com alguma preocupação o definhar progressivo da lagoa e da praia”. Segundo este participante, parece que não há uma solução à vista para “se salvar este lençol de água que é tão importante economicamente para várias pessoas da região”.

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Histórias de cavalos, cães e pérolas de regresso ao meio natural

Zita Sottomayor, 78 anos, vem para a Foz do Arelho desde miúda, com os pais e irmãos. “Vínhamos para a praia até à hora do almoço”, disse, acrescentando que depois de descansar “íamos para o parque, muitas vezes para jogar ténis”.
Segundo a conviva, para a Foz vinham várias famílias que acabavam por ficar nas mesmas filas de barracas e “toda a gente acabava por se conhecer”. Conta ainda que vinha muita gente do Alentejo e havia quem tivesse casa na Foz enquanto que outros alugavam casas para a temporada.
Recorda-se também que algumas senhoras tinham por hábito tomar banho com as suas pérolas “que assim vinham ao seu meio natural, à água salgada para ficarem prontas para usar no Inverno”, contou. Também os Almeida Araújo, proprietários do palacete que fica sobre a praia, “vinham no início da época balnear com 40 cães que se vinham purgar à Lagoa, isto é, bebiam água salgada e já não o voltavam a fazer”.
Na altura era normal andar a cavalo na praia. Zita Sottomayor diz que alguns convívios ainda se mantêm e, apesar de viver em Lisboa, “sempre que posso regresso à Foz pois com este microclima só me ajuda a ficar “vacinada” e a passar melhor o Inverno”.
Paula Jales vinha para a Foz do Arelho com o irmão e com a mãe e não esquece as picadas dos peixes-aranha e das caminhadas na praia (do lado do mar) até à aberta “que parecia que ficava muito longe”, disse. Quando o tempo estava cerrado “íamos jogar cartas para o Hotel Facho e esperar que o tempo abrisse”. Naquela altura, as jovens para se bronzearem “barravam-se” com Coca-Cola “mas não havia tantos problemas de cancro como há hoje”, disse a conviva.
Ao meio-dia e meia, conta Paula Jales, era altura de regressar às Caldas para almoçar e descansar. À tarde a ida era para o Casino, no Parque.
Gazeta das Caldas deixou o grupo em amena cavaqueira, usufruindo de um serão de Verão pouco amistoso e a ameaçar chuva. “Vamos ficar aqui até às quinhentas…”, informou o organizador João Jales acrescentando que nos últimos anos é já durante a madrugada que os mais resistentes do grupo deixam os bares do centro da vila da Foz.

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Agradecemos à Gazeta a disponibilidade que demonstrou para a divulgação deste encontro.

    A Natacha Narciso capturou bem o espírito da reunião, que descreve com a sua habitual simpatia e profissionalismo. Lá a aguardamos no Jantar de 2012 !