Utentes ficam horas à espera de atendimento na Segurança Social das Caldas da Rainha

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Quem tem que tratar de assuntos na Segurança Social das Caldas da Rainha já sabe que vai ter que perder toda a manhã ou toda a tarde. Os funcionários não chegam para tanto serviço, em especial desde que entrou em vigor legislação que obriga os beneficiários a comprovar a falta de recursos que justifiquem o recebimento de subsídios estatais.
Contactados pela Gazeta das Caldas, os serviços distritais da Segurança Social em Leiria justificam a morosidade caldense com as férias e doença de funcionários, mas por causa da contenção orçamental não vão investir em mais recursos humanos.

Em frente ao posto de atendimento da Segurança Social das Caldas da Rainha não é difícil encontrar pessoas com ar cansado, aborrecido e impaciente. Quando as ouvimos, têm todo o tipo de reclamações acerca do tempo de espera a que estão sujeitas para serem atendidas, mesmo quando o assunto que vêm tratar é simples e rápido. “Estou aqui desde as dez e a hora de atendimento prevista era às 11h56. Consegui ir ao banco, mas é quase uma da tarde e ainda estou à espera para ser atendida!”, disse Ana Paula Holtreman, desempregada, de 43 anos, residente da Foz do Arelho. À espera para tratar de assuntos relativos ao desemprego sugere que o atendimento devia ser organizado de outra maneira. “Acho que isto é uma vergonha! Mesmo que fosse temporariamente, há tanto desempregado que era fácil substituir alguém que está de férias ou doente” acrescentou.
As reclamações são muitas, de gente que precisa de documentos para voltar a trabalhar ou que vem simplesmente tratar de outros assuntos, mas vê o tempo desperdiçado em horas e horas de espera. Têm receio de sair dali e ir tratar de assuntos noutros locais, não vá, quando voltarem, o número que tiraram já ter passado e ter que esperar mais umas horas com novo número. Ninguém percebe porque se demora tanto tempo.
“Vim para aqui às 10 horas só para entregar uns papéis relacionados com o rendimento mínimo. São muitas horas, só para entregar documentos”, declarou Natália Luciano, de 52 anos, acompanhada pelo marido, Henrique Martins de 67 anos. Algus utentes acham que trabalham poucos funcionários na Segurança Social o que leva à espera prolongada. “Então não se pretende criar emprego? Aqui há gente a menos, logo deveriam ser criados mais alguns lugares”, sugerem como solução.
Tiago Neto partilha da opinião deste casal e realça que o pior dia é a segunda-feira, altura em que se regista maior afluência de utentes àqueles serviços. “Logo que abre pode ser rápido, mas hoje já se passou mais de hora e meia e ainda não fui atendido”, disse o jovem caldense. Daniela Prazeres está há menos tempo à espera, mas não deixa de sublinhar que noutras ocasiões já perdeu uma manhã inteira ali. “E desta vez, mesmo com prioridade, já estou à espera há uma hora. Se não fosse isso, não sei quanto tempo ia esperar, porque tirei o número 140 e estavam a atender o 66”.
Para a jovem de 18 anos, das Caldas da Rainha, o principal motivo desta demora é o tipo de assuntos que as pessoas vêm tratar, talvez morosos e complexos.
O fluxo de pessoas aumenta e diminui com o passar das horas, mas é raro o momento em que não se encontrem pessoas do lado de fora, esperando que os números no ecrã se aproximem lentamente do que têm no papel, enquanto o relógio ultrapassa largamente a hora prevista para serem atendidas.

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Marina Araújo
m.araujo@gazetadascaldas.pt

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Sem solução à vista

Gazeta das Caldas questionou, por correio electrónico, Fernando Gonçalves, director do Centro Distrital da Segurança Social de Leiria, tentando perceber as razões que levam a tais prolongados períodos de espera.

GAZETA DAS CALDAS – Quais são as principais razões que levam os utentes a esperar várias horas para serem atendidos?
FERNANDO GONÇALVES – De acordo com os dados estatísticos disponíveis, relativos ao semestre de Fevereiro a Setembro de 2010, o tempo médio de espera dos utentes do Serviço de Atendimento de Caldas da Rainha terá sido de 46 minutos, e o tempo médio de atendimento de 8 minutos. Contudo, admitimos que em situações excepcionais poderão ter ocorrido tempos de espera superiores.
Os principais motivos ou constrangimentos  que podem contribuir para o aumento do período de espera, serão essencialmente a redução do número de funcionários do atendimento, por férias ou situações de doença (temporária ou prolongada) e um afluxo excepcional de utentes ao serviço, por questões pontuais, nomeadamente a que se verifica neste momento, devido à entrada em vigor do Dec-Lei nº 70/2010 de 16 de Junho, que produziu efeitos a partir de 1 de Agosto e implica a  prova de condição de recurso (é necessário fazer prova que mantêm o direito às prestações sociais).

GC – Os serviços da Segurança Social nas Caldas têm falta de pessoal?
FG – Estão neste momento afectos a este Serviço de Atendimento nove funcionários, sendo que dois deles não se encontram disponíveis para o serviço há vários meses, encontrando-se em situação de baixa prolongada, e um outro funcionário é Eleito Local, pelo que também não exerce funções a tempo inteiro. Assim, verifica-se uma falta de pessoal pontual devido à ausência justificada das referidas funcionárias por motivos de saúde.

GC – Quantas pessoas seriam necessárias para o funcionamento normal?
FG – Os nove funcionários afectos a aquele Serviço de Atendimento.

GC – Os serviços pensam fazer alguma coisa para melhorar esta situação? Se sim, quando?
FG – Considerando os constrangimentos orçamentais que se verificam actualmente, não se perspectiva o reforço de recursos humanos com a integração de novos funcionários.
A reestruturação dos serviços tem passado, fundamentalmente, pela criação de novos canais de atendimento, alternativos ao atendimento presencial, sendo os utentes sensibilizados e encaminhados para recurso aos mesmos, nomeadamente a Segurança Social Directa (www.seg-social.pt <www.seg-social.pt&gt;), o Contact Center da Segurança Social (VIA Segurança Social ), podendo os mesmos serem utilizados por vias diversas, como o telefone, fax ou mail.

N.N.

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1 COMENTÁRIO

  1. Uma sugestão à “Gazeta”: das pessoas obrigadas a este inferno por necessidade de fazerem prova dos seus rendimentos, quantas é que não têm acesso à internet nem computador com internet em casa?
    (Considero que a obrigação de as pessoas fazerem prova de rendimentos pela internet foi uma decisão imbecil e ofensiva do Governo, independentemente das novas regras que, aliás, põem em causa o “Estado social” que o Governo diz defender.)

    Blog O das Caldas – o-das-caldas.blogspot.com/