Uma visita à “idade de ouro” da cerâmica caldense

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Mais de 40 pessoas participaram na visita guiada pelos túmulos de alguns dos nomes maiores da cerâmica caldense

Lembrar e homenagear nomes da cerâmica caldense motivou a visita guiada pela formadora de história da cerâmica do Cencal, Cláudia Feio

Manuel Cipriano Gomes, que recebeu o apelido da terra onde nasceu – Mafra, em 1831, veio para as Caldas com 18 anos e, depois de trabalhar num estabelecimento comercial, foi para a oficina de Maria dos Cacos. Viria a desenvolver um percurso profissional notável, explicou Cláudia Feio, formadora de história da cerâmica no Cencal, durante a segunda visita guiada ao cemitério, na tarde de 26 de julho.

Junto ao jazigo de Manuel Mafra, que foi depois vendido à família de José da Costa Xavier, a especialista contextualizou a visita aos túmulos de alguns ceramistas, da segunda metade do século XIX e a primeira do século XX, considerada a “idade do ouro” da cerâmica caldense.

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Mesmo em frente encontra-se o jazigo de José Alves da Cunha e Henriqueta Sezelina Mendonça, permitindo a Cláudia Feio falar do papel das mulheres na cerâmica das Caldas. Henriqueta enviuvou de António de Sousa Liso em 1873, tendo casado dois anos depois com José Alves da Cunha, que já era oleiro. Ela é identificada como “fabricante de loiça” no registo de casamento, por isso continuou o trabalho do primeiro marido e vai reforçar a fábrica de José Alves da Cunha. O casal teve uma filha, Henriqueta Sezelina da Cunha, que continuou o negócio dos pais. “No óbito, ela é identificada como oleira”, salientou a investigadora.

Na sepultura nº 36 está Amélia Bordalo Pinheiro Lopes de Mendonça, irmã de Bordalo e casada com Henrique Lopes de Mendonça, capitão de fragata e autor da letra do Hino Nacional.

De acordo com Cláudia Feio, morreu nas Caldas, aos 52 anos por síncope cardíaca, “provavelmente provocada pela comoção da perda da Fábrica de Faianças do seu irmão”, lembrando que encontrava-se a prestar apoio ao sobrinho, Manuel Gustavo, que haveria de recuperar o seu recheio. Amélia Bordalo Pinheiro teve um filho, Vasco Lopes de Mendonça, que também dedicou particular atenção à caricatura, à ilustração e à cerâmica.

Junto à sepultura de Avelino António de Soares Belo foram recordadas as suas origens, ligadas à pesca, e como um médico do Hospital Termal, que descobre o seu talento para o desenho e o partilha com Bordalo Pinheiro, viria a mudar a sua vida. Avelino Belo passaria ainda pelo atelier de cerâmica do Visconde de Sacavém até fundar a própria fábrica, em 1899. Escreveu uma série de artigos na Gazeta das Caldas sobre a polémica acerca das chaminés dos fornos de cerâmica e no seu último artigo, publicado após a morte, em maio de 1927, defendia a união dos fabricantes de cerâmica em redor da Fábrica Bordalo Pinheiro, para se conseguir sair da crise daquele sector.

Nascido nas Caldas em 1869, Francisco Elias foi discípulo de Bordalo Pinheiro, tal como Avelino Belo. Iniciou a carreira artística em 1886 e acompanhou o mestre durante quase 20 anos e depois o filho, Gustavo, até 1918, altura em que se dedica em exclusivo às miniaturas. Faz de um dos quartos da sua casa o seu atelier e coze as peças na fábrica do seu irmão Herculano, que também se dedicava à cerâmica. “Teve propostas para ir para Paris, Lisboa e Brasil, mas nunca quis abandonar a sua casa”, explicou Cláudia Feio.

A visita terminou junto da sepultura da família Eduardo Mafra Elias. Este, nascido em 1880, notabilizou-se nas miniaturas, tal como o seu tio, Francisco Elias. Teve um único filho, Eduardo Neves Elias, que viveu apenas 29 anos, tendo sido professor de modelação na Escola Industrial e Comercial Rafael Bordalo Pinheiro. “O jazigo nº 207 é uma homenagem a este homem, prematuramente falecido quando tanto prometia dar ao mundo artístico e da cerâmica em particular”, concretizou a investigadora.

Organizada pela Agência Neves, esta iniciativa pretende ter uma periodicidade mensal. Jaime Neves já está a preparar as seguintes. Para outubro, altura em que se assinala o centenário da Gazeta das Caldas, o empresário gostaria de realizar uma visita aos túmulos dos seus fundadores e profissionais que nela trabalharam.

A iniciativa tem por objetivo dar a conhecer personalidades caldenses, de outros tempos, que estejam sepultadas no cemitério antigo, mas também a arte tumular.

Cláudia Feio fez a segunda visita guiada ao cemitério, uma iniciativa da Agência Neves que terá periodicidade mensal
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