Uma viagem no tempo às origens de Salir de Matos

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salir de matosConhecer a história de Salir de Matos desde as suas origens foi o motivo que levou cerca de 150 pessoas à Adega do Mosteiro, na tarde do passado sábado para assistir a uma palestra de Carlos Querido sobre os 500 anos do Foral Manuelino de 1514.

Um foral é uma espécie de “bilhete de identidade” de uma terra. O primeiro foral de Salir de Matos consiste na Carta de Povoação de 1321, há 693 anos. Este segundo, de 1514, acrescenta poucas e pequenas alterações. Portanto, obrigava os camponeses a pagar ao Mosteiro de Alcobaça um quarto da sua produção de pão, linho ou legumes e um quinto do vinho, do azeite ou da fruta que produziam e ainda uma galinha. Para além disso era paga uma fogaça (imposto pela habitação) em trigo.
O não cultivo da terra significava a sua perda. E se, ao fim de cinco anos de trabalho se adquiria o direito a comprar a terra, por outro lado não se tinha o direito de a vender. E todos os meios de produção (adegas, lagares, azenhas, etc.) pertenciam ao Mosteiro.
A história de Salir de Matos começa ainda no tempo dos romanos, como comprova uma pedra encontrada nesta aldeia.
Já depois da ocupação árabe, D. Afonso Henriques iniciou a reconquista cristã e em 1147 tomou o castelo de Alfeizerão e com ele toda a região que, em 1153, doou à Ordem de Cister. Os coutos de Alcobaça tratavam-se de um vasto território (440 quilómetros quadrados) com dois castelos (Alfeizerão e Alcobaça) e três portos de mar (São Martinho, Paredes e Alfeizerão, sendo que existiria também um porto na Pederneira).
No início do século XVIII os lavradores desta localidade recusaram-se a pagar os impostos ao Mosteiro, tendo a Câmara de Salir de Matos entrado em litígio com o Mosteiro. Posteriormente, em 1722, os autarcas locais vêem os seus bens serem penhorados por incumprimento do pagamento.
No século XIX, em 1821 (um ano da primeira constituição portuguesa) são extintos todos os impostos pagos ao Mosteiro e em 1833 os monges de Alcobaça põem-se em fuga na sequência da Guerra Civil que opôs liberais a absolutistas. Três anos mais tarde o concelho de Salir de Matos é extinto e passa a ser uma freguesia integrante do jovem concelho das Caldas da Rainha.
Readquirir o estatuto de vila

Na opinião de Carlos Querido, orador do evento, a importância de assinalar os 500 anos do foral de Salir de Matos reside no facto de possibilitar às pessoas conhecer a sua história e sentirem-se orgulhosos dela. “Os seres humanos, tal como as árvores, precisam de raízes…  Se nos esquecermos de onde viemos, esquecemo-nos de quem somos”, disse.
No rescaldo do evento o investigador salir-de-matense (autor de obras como a Praça da Fruta ou Salir d’Outrora), referiu ter percebido o quão importante a História pode ser no quotidiano das pessoas. “Agora que estive a falar com alguns dos presentes e vejo o entusiasmo deles, é que percebo isso. Saíram daqui com um sentimento de orgulho muito grande” contou Carlos Querido à Gazeta das Caldas.
Rui Jacinto, presidente da Junta de Freguesia local, salientou que durante estes 500 anos este lugar foi de “cavalo para burro, de concelho passou a freguesia e de vila a aldeia”, lançando o repto aos salir-de-matenses para que se empenhem em voltar a ser vila.
Esta aldeia já reúne várias condições essenciais como o centro de dia, as colectividades, a farmácia, o posto de assistência médica e o posto de correios, para além da caixa multibanco e dos estabelecimentos comerciais e de hotelaria, faltando-lhe apenas chegar aos 3000 eleitores (neste momento conta com 2339). No entanto, este dado pode nem ser condição essencial para subir a vila, revelou Rui Jacinto, lembrando os casos de A-dos-Francos e da Foz do Arelho.
Já o presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, presente no evento, falou sobre as vantagens desta freguesia estar integrada no concelho caldense e denotou que a ideia de chegar a vila só depende da população de Salir de Matos e do seu crescimento.
Num discurso marcado pelo bom humor, fez alguns paralelismos com o passado (como os impostos pagos na altura) e lembrou os actuais casos de fraude fiscal. “Quem não pagava os impostos era condenado, vamos ver agora como é que a justiça evoluiu no país…”.
Isidro Feliciano veio das Trabalhias para assistir a esta palestra. Destacou que é sempre importante perceber como funcionava a época. Contou que já conhecia aquele espaço (a adega do Mosteiro) há muito tempo pois privou com os antigos donos. “Chegou também a ser uma padaria…” revelou.
Actualmente, o espaço foi adaptado para eventos e para turismo rural e Isidro Feliciano afirma que as pessoas da aldeia apercebem-se da actividade e do movimento que a casa traz. “Acho que está aqui uma boa casa que divulga a terra” afirmou. Terra que dispõe, na sua opinião, de tudo o que é preciso para viver bem.

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Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt

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