Uma viagem jurássica pela região Oeste

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Dinossauros deixaram vestígios neste território

Região proporciona uma rota que permite conhecer a vida dos dinossauros, tendo na Lourinhã o seu expoente máximo

Esta História começa há 150 milhões de anos, neste planeta, então habitado pelos gigantes dinossauros. A zona da bacia Lusitânica, hoje entre Aveiro e o Cabo Espichel, mas bem diferente do que é atualmente, reunia as condições ideais para os dinossauros viverem, com água e vegetação abundante. Há outra condição relevante que explica a presença de tantos fósseis nesta região: um clima marcado por duas estações, uma seca e uma húmida, sendo nesta última frequentes as grandes inundações, com a deposição de sedimentos que enterrava os dinossauros mortos e alguns vivos, permitindo a sua conservação.
Mas daí seguimos para 1863. Foi há mais de 150 anos que, na Lourinhã, mais precisamente, na praia do Porto das Barcas, se encontravam os primeiros vestígios de dinossauros em Portugal. Eram dentes de um carnívoro batizado como Torvossaurus.
Daí para cá, muitos outros foram encontrados em toda a região, de uma grande diversidade e uma riqueza ímpar. Há saurópodes, ornítisquios e terópodes, estes últimos carnívoros.
Os anos 90 foram o momento de viragem, dado o valor dos achados (entre os quais o Lourinhasaurus, o Dinheirosaurus lourinhanensis ou o Lourinhanosaurus antunesi), mas ainda hoje neste território são descobertas e reveladas novas espécies de dinossauros até então desconhecidas. A Lourinhã tornou-se mundialmente famosa pelo seu património paleontológico e é a “Meca” nestas questões. Portugal é o décimo país com mais espécies de dinossauros encontradas, mas é, no mundo, o país que tem mais espécies por quilómetro quadrado.

Partimos nesta rota, claro, da capital dos dinossauros, a vila da Lourinhã, onde mal chegamos encontramos referência a estes “amigos” em todo o lado. Em réplicas espalhadas pelas ruas, em monumentos, em sinais, logótipos e nomes de estabelecimentos comerciais, etc. É impressionante a forma como a própria população abraçou o fenómeno e o aproveitou para o seu desenvolvimento.
Aqui chegados, torna-se incontornável visitar o Museu, que este ano celebra o 40º aniversário e que dará início à nossa viagem no tempo e no espaço. Nascido de um projeto que hoje seria apelidado de ciência-cidadã, o museu foi criado, de uma forma muito resumida, por um grupo de jovens que decidiu explorar as grutas e foi encontrando achados arqueológicos. Como não existia onde guardar o espólio, foi necessário criar um museu, que nasceu em 1984. A etnografia e a arqueologia mantém o seu espaço, mas o relevo das descobertas relacionadas com dinossauros tornaram estes gigantes nos dominantes também na nossa era.
Com três polos expositivos dedicados aos dinossauros (no museu, no Dino Parque e no Centro de Interpretação do Geoparque Oeste), desenvolvem também exposições temporárias e itinerantes, que permitem levar ao mundo o conhecimento e as descobertas aqui realizadas. É que este museu tem atualmente uma equipa de cerca de 20 investigadores, alguns voluntários, constantemente na busca e na conservação de fósseis. A equipa do museu, que recebe anualmente entre 150 a 200 mil pessoas, é hoje em dia de sete pessoas.
A visita ao museu começa no jardim jurássico, que criaram durante a pandemia. Aí esbarramos num fato de dinossauro, bastante realista, que é manipulado por uma pessoa no seu interior e que utilizam em eventos.
Seguimos para a sala multiusos onde encontramos uma exposição dedicada ao primeiro filme do Jurassic Park, que é fruto de uma doação de Gitta Lankotter, uma alemã que trabalhou na equipa de efeitos especiais do filme e que veio viver para a Lourinhã. Nesta sala há uma coisa que chama a atenção: uma grande janela que permite ver os paleontólogos a trabalhar ao vivo nos fósseis.
É ali que ficam todos os novos fósseis e onde são trabalhados. Quando chegam, terminam-se as escavações e limpezas e faz-se o estudo e a conservação. Nos últimos anos daqui têm saído novas espécies para a ciência e há sempre novidades. Por exemplo, no próximo ano deverá ser anunciada uma nova espécie que foi descoberta em 2015. É que, entre o tempo da descoberta de um fóssil e a sua divulgação, vão sempre anos de trabalho.
Há, para aprender, uma exposição sobre a formação do oceano Atlântico e várias partes de dinossauro que foram encontradas na região para ver. Por exemplo, a perna de um Hesperonyx Martinhotomassaurus, que é a mais recente descoberta, ou a mandíbula de um Torvossaurus, uma peça que permite perceber que este carnívoro, o maior europeu conhecido, mudava constantemente de dentes, como fazem os tubarões.
A visita pelo museu, que desenvolveu também uma rota urbana, com 12 exemplares espalhados pela vila, termina numa peça relevante: uma amostra do dia da extinção através de uma peça de rocha, que permite perceber o impacto sentido naquele momento da História. No primeiro piso há a exposição de arqueologia e no edifício do antigo tribunal a de etnografia.
Daí seguimos para o Dino Parque, que agora estará encerrado entre 4 e 8 de novembro para a realização da manutenção e das melhorias anuais. Aqui encontramos cerca de 200 modelos de dinossauros e outros animais à escala real, e muito para aprender, numa experiência pensada segundo um conceito de Edutainment (que permite aprender enquanto se diverte).
Dividido em seis percursos temáticos, o parque, com dez hectares, tem ainda a parte expositiva e museológica, mas também laboratório de preparação de fósseis. Aberto em 2018, ultrapassou o milhão de visitantes ao fim de apenas cinco anos, com um forte impacto junto da comunidade educativa (cerca de 15% do total).
Depois de momentos bem passados no Dino Parque, aproveitamos a “boleia” da rota do Geoparque do Oeste, que tem o Centro Interpretativo no Bombarral, e partimos, de Norte para Sul, com início em Salir do Porto, nas arribas viradas ao Oceano Atlântico, em busca dos vestígios. A dificuldade de acesso e a falta de segurança do local não são propriamente convidativas a visitas, pelo que as pegadas que ali se encontram ainda são um segredo bem guardado do concelho das Caldas.
De Salir do Porto seguimos pela estrada, em direção à Consolação. Aí também as rochas guardam um tesouro semelhante. Novamente ao caminho, com paragem em Paimogo, famoso pelo ninho com quase uma centena de ovos de dinossauros que ali foi descoberto nos anos 90 do século passado, mas que guarda outros vestígios. Nessas arribas, até à praia de Porto Dinheiro, foram encontrados vários fósseis. Esta última praia apelidou um dinossauro que ali foi descoberto: o Dinheirossaurus Lourinhanensis.
No Alto da Vela fazemos nova paragem, antes de terminar na Praia Azul, onde também foram escavados ossos de dinossauro. É, pois, tempo de partir à descoberta! ■

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