Uma viagem aos sabores medievais em Óbidos

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4-grupototalDecorreu a 5 de Março, junto ao castelo de Óbidos, no pólo da Escola de Hotelaria do Oeste (EHTO), um jantar muito original que surpreendeu a meia centena de convivas não só pela comida mas também pelo local escolhido para a refeição – um pátio próximo do castelo com uma vista privilegiada sobre a vila obidense.

Damas, cavaleiros e senhores da corte, foram recebidos num dos pátios junto à muralha do castelo de Óbidos. Os convivas tiveram as boas-vindas dos alunos da EHTO, que também estavam trajados a rigor.
Trouxeram amêndoas torradas (com sal e pimenta), peixe do rio, queijo de ovelha curado, entre tantas outras entradas, que foram degustadas enquanto apreciavam uma vista privilegiada sobre a vila. Entre os comensais houve quem quisesse participar, trajando a rigor e sentindo o espírito de outras eras também na forma de vestir.
O próprio espaço, agora transformado em salão de refeições ao ar livre, foi decorado com elementos de outrora, como grandes candelabros e uma armadura medieval que foi colocada no centro do pátio. Eis um espaço ideal para recriações históricas sobre o burgo de Óbidos.

Quanto faz falta um garfo

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A mesa em U estava iluminada com velas e ao sentarem-se os comensais repararam de imediato num pormenor: havia pratos, copos, colheres e facas, mas faltavam os garfos…. utensílio que não existia na época medieval! De seguida vários alunos da escola trouxeram grandes travessas apresentando os vários sabores de outrora.
Castanhas com figos e erva doce, couve cozida em caldo de carnes, papas de abóbora e legumes, grão de bico com cebola e salsa, arroz com ervas aromáticas.
Foram igualmente degustados borrego em folha de couve, leitão recheado, coelho com molho doce, javali assado, carnes cozinhadas a baixas temperaturas tal como se fazia na Idade Média. Foi o que explicou Luís Tarenta, chef e formador da EHTO, sobre esta refeição especial, que fechou ao sabor de pêra cozida em vinho, manjar branco, pão de ló e laranja com canela e compota.
“Recriámos pratos que eram cozinhados desta forma entre os séculos XII e XV e fomos fieis aos métodos”, disse o chef Tarenta, que está a frequentar o mestrado em Alimentação – Fontes, Cultura e Sociedade e aproveitou a disciplina de Época Medieval para se inspirar para este serão.
A base destes evento é pedagógica já que “queremos que os nossos alunos conheçam técnicas como as baixas temperaturas, formas de trabalhar que voltam e  que se calhar o que fazemos hoje já não é tão moderno assim”.
Os pratos das carnes estiveram muitas horas no forno, o que as tornou suculentas. Por exemplo, o javali, por exemplo, esteve 14 horas.
Luís Tarenta é originário da zona de Coimbra e como tal toda a ementa foi pontuada por sabores típicos daquela zona tais como o queijo  da serra ou a perdiz de escabeche. A truta frita, servida como entrada, era um prato comum na época medieval por toda a Europa (onde houvesse rios). O responsável ainda comentou como se faz o Manjar Branco, uma das sobremesas que foi feita com caldo de frango, farinha de arroz, leite e açúcar. É uma receita do convento de Sta Clara que neste repasto foi servida em folha de laranjeira, tendo assim aromatizado o doce.
Os vinhos propostos para acompanhar este menu de degustação – tanto o tinto como o branco – foram servidos quentes e aromatizados com canela.
A EHTO teve como responsáveis nos aromas e sabores os chefs formadores Luís Tarenta e Jorge Guilherme  e como parceira, a empresa Óbidos Criativa, a quem se deve a caracterização do espaço da recriação histórica.

As opiniões dos comensais

Para Manuel Gil, um cliente habitual das refeições temáticas da EHTO, este foi um serão “muito interessante” pois apesar da noite “um pouco fria de Março” e da falta dos garfos, foi, sem dúvida,  “uma oportunidade para saborear uma culinária menos conhecida”.
Márcio e Maria Teresa Dalbo vieram do Brasil para conhecer Portugal. Ficaram alojados na Pousada do Castelo e ficaram muito contentes em poder participar nesta experiência de degustação gastronómica. Já tinham visitado a região do Douro e tinham vindo para Óbidos para conhecer a região durante uma semana.
“Viemos do sul do Brasil, de uma zona de colonização italiana e estamos encantados em poder conhecer os vossos sabores de outros tempos”, disse Márcio Dalbo que salientou os pratos de coelho, de javali e o acompanhamento dos figos com as castanhas. Após terem experimentado a Ginga de Óbidos, algo que tinham grande curiosidade, o casal Dalbo afirmou que pretende voltar à região e trazer a restante família.
Luísa Neto, das Caldas, também gostou deste serão dedicado à gastronomia de séculos passados e afirmou ter apreciado de igual modo as entradas, os pratos de carne e as sobremesas. A conviva salientou que o cenário e o ambiente que foi criado contribuiu para “um jantar excelente que eu adorei. Foi lindo”, rematou.
Para Ana Paula Pais, directora do Agrupamento das escolas do Centro do Turismo de Portugal, o jantar não podia ter corrido melhor. “Foi uma excelente iniciativa da escola para estimular os alunos em aprendizagens diferentes”, disse a responsável que considera que se conseguiu “recriar o ambiente de época quase fielmente”. Uma experiência a repetir. .

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

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