Durante os últimos anos sempre nos manifestámos nestas colunas em favor da participação de Portugal no euro, no quadro da integração do nosso país na União Europeia.
Nunca apresentámos dúvidas sobre essa decisão nem sobre o facto de tal implicar comportamentos e disciplina aos portugueses que seria muito dura, mas que achávamos que poderia ser sustentável para o país. Contudo, nesta premissa sempre contávamos que os restantes países da União Europeia, especialmente os mais poderosos e ricos da Europa Central, tal como as instituições europeias, tivessem um comportamento colaborativo e solidário.
Não tínhamos qualquer dúvida que a transição de países mais atrasados e com défices estruturais enormes para alinhar com países que viviam há várias décadas situações económico-financeiras mais estáveis, seria muito exigente e penoso.
Também os muitos erros que foram cometidos a seguir à nossa adesão, foram em grande número consentidos e mesmo partilhados complacentemente com as autoridades europeias, que muitas vezes preferiam o cumprimento de regras formais abstractas do que a flexibilidade de regras mais sustentáveis e inteligentes, que melhor se adequassem às condições concretas do país.
Quem der uma volta pelo país encontrará inúmeros investimentos co-financiados comunitariamente, que obedeceram a todas as regras formais, mas que são insustentáveis economicamente e trouxeram custos enormes para as gerações futuras, quando não muitas vezes, foram dinheiro deitado à rua pela sua inviabilidade.
Para não nos repetirmos muito, lembramos apenas o que sucedeu com os investimentos nas barragens da região, onde se gastaram alguns milhões de euros com um benefício mínimo em apenas um ou dois casos dos quatro investimentos realizados.
Daí que a nossa adesão voluntarista ao euro, dependia de pensarmos que essa decisão iria implicar uma alteração do nosso comportamento, bem como da própria acção de União Europeia em relação ao espaço da moeda única.
Mesmo em relação a alguns dos aspectos mais criticáveis, que levaram à diminuição da produção de bens transaccionáveis na economia portuguesa, como bem foi recordado no debate com o professor João Ferreira do Amaral, defendemos atempadamente outras estratégias a que muitos foram insensíveis.
Achamos que não basta dizer que se deviam manter activos os sectores produtivos tradicionais, uma vez que isso também é uma falácia. Esses sectores deviam antes actualizarem-se e modernizarem-se, ajustando-se aos novos mercados, que entretanto emergiram no mundo. Manter a capacidade produtiva dos anos 80 e 90 intocável, levaria provavelmente aos mesmos problemas.
Mas naturalmente que se deveria pensar nestes sectores industriais (e mesmo agrícolas) de uma forma pró-activa, ou seja, pensando nas novas oportunidades e possibilidades, que lhes eram oferecidas pelos consumos e mercados que então despontavam.
É evidente que havia muitas inércias, algumas resultantes do próprio entendimento do Estado português, das decisões das autoridades europeias, como mesmo de muitos dos actores que tinham um papel activo no contexto económico, fossem empresários, trabalhadores, associações empresariais ou sindicatos.
Em boa hora, em alguns sectores de actividade, houve essa visão e hoje estão a recolher alguns resultados positivos, mas a maioria preferiu ter atitudes da avestruz ou do bombeiro, ou seja, daqueles que enterram a cabeça no chão, ou quando o fogo se declara apenas chamam socorro.
Provavelmente iremos caminhar para alguma das alternativas que João Ferreira do Amaral tão claramente definiu. A incerteza é muito grande e nada nos impede que surja também alguma solução criativa inesperada, que possa resolver com sustentabilidade o nosso problema.
Mas certamente nesse caso, teríamos de afastar muitas das ideias feitas e dos preconceitos, ou atitudes tradicionais, que há em relação à nossa realidade social e económica e ao mundo.






























