Há cerca de 20 anos, mais concretamente no último trimestre de 1993, também nas vésperas das eleições autárquicas que decorreram no final desse ano, um conjunto de cidadãos caldenses dirigiu à Câmara das Caldas uma petição para questionar a localização da futura Biblioteca Municipal da cidade.
Nesse documento, que viria a ser subscrito inicialmente por seis distintos caldenses (Ernesto Moreira, médico cirurgião, Deolinda Ribeiro, professora, Pessoa de Carvalho, industrial, Mário Gonçalves, médico cirurgião, Avelar do Couto, engenheiro agrónomo e Gomes dos Santos, comerciante), aos quais se associaram várias centenas de outros caldenses por nascimento ou por adopção, pedia-se que “fosse reavaliada a futura localização da Biblioteca Municipal”, diligência que foi votada ao fracasso, com todas as consequências que se podem observar hoje.
Nos considerandos era referido que o argumento da localização da Biblioteca Municipal junto às instalações nas Caldas do pólo da Universidade Autónoma de Lisboa (na estrada da Foz), não era a mais apropriada pelas seguintes razões:
“1º A construção da Biblioteca Municipal em Caldas da rainha só poderá cumprir o serviço público a que se destina se se situar numa zona central da cidade, isto é, se funcionar junto duma espécie de “centro geométrico” da malha educativa da cidade (Escola Rafael Bordalo Pinheiro, Escola Preparatória de Caldas da Rainha, Escola da Encosta do Sol, Escola Superior de Educação, Escola Empresarial do Oeste, …) e, conjuntamente, propiciar a sua utilização efectiva pela população (tanto a residente como a flutuante que, diária ou sazonalmente, acorre a esta cidade), não esquecendo a sua natural e regular frequência pelos cidadãos da terceira idade, contingente populacional cada vez significativo, que assim a poderão utilizar com menos esforço físico e maior assiduidade.
2º A tal facto acresce a nossa opinião de que a localização prevista é não só iníqua como amputadora, pois limita-se a privilegiar um só estabelecimento, privado, (que por ser “superior”, decerto está equipado com uma rica secção de apoio bibliográfico das matérias específicas que ministra) em detrimento de quase todas as restantes e da maioria da comunidade caldense.”
Num post scriptum referia-se ainda que “não fora a prévia decisão de entregar o presente abaixo assinado antes do arranque oficial da campanha eleitoral que se avizinha, o número de subscritores seria bem mais vasto, tanto em quantidade como em qualidade”, mais de 500 assinaturas.
Mesmo assim, foram reunidas mais de meio milhar de assinaturas, num documento que foi também dado a conhecer ao primeiro-ministro, secretário de Estado da Cultura e Governador Civil do Distrito de Leiria.
Pode hoje verificar-se que Caldas contrariou o que foi feito em muitas cidades deste país, que instalaram a suas bibliotecas municipais no centro das cidades, permitindo a reconstrução e beneficiação de edifícios. Edifícios que, no caso das Caldas, estão ainda hoje ao abandono ou com uma utilização menos interessante.
Na passagem do 20º aniversário desta tomada de posição de um grupo alargado de caldenses, alguns deles já falecidos, Gazeta das Caldas presta-lhes homenagem, apesar da sua atitude ter servido para pouco. Caldas da Rainha é hoje mais pobre porque atitudes destas não foram valorizadas no seu tempo.
JLAS
- publicidade -































