No passado sábado, 3 de Agosto, um grupo de antigos alunos, juntou-se na Amoreira para homenagear e confraternizar com o professor de Educação Física, João Silva Bastos, sobre as experiências que viveram entre 1960 e 1973 nas Caldas da Rainha.
Como testemunha dessa experiência, uma vez que iniciei as minhas aulas de Educação Física, em 1960, quando o professor Silva Bastos veio para as Caldas, considero que ele terá sido um dos dois principais protagonistas da implantação das práticas de Educação Física na região na segunda metade do século passado.
O primeiro, nos anos 40, foi o célebre Papa Urso (G. Dobrynine), refugiado que lançou nas Caldas da Rainha o gosto pela ginástica. Mas depois essa prática, de uma forma permanente e sustentada, perdeu-se.
Só em 1960, quando o professor Silva Bastos foi colocado na Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha, essa salutar prática voltou de uma forma mais intensa, uma vez que a partir desse ano a sua actividade alargou-se a todos os alunos rapazes da Escola Comercial e aos do Colégio Ramalho Ortigão. Simultaneamente lançou através dos Bombeiros Voluntários a prática da ginástica para as crianças de ambos os sexos da região, que de forma voluntária frequentavam as suas classes a partir dos seis anos de idade.
Devem ter passado pelas suas mãos, durante aquela quase dezena e meia de anos, alguns milhares de crianças e jovens, que recordam de forma sentida o seu apego, profissionalismo, grau de exigência, disciplina e capacidade de mobilizar vontades.
No passado sábado, Silva Bastos, que comemorou no dia seguinte o seu 84º aniversário, recordava emocionadamente que talvez tivesse sido demasiadamente exigente e austero para os seus alunos naqueles tempos, mas alguns dos presentes lembravam que esse método os tinha marcado positivamente para toda a vida.
Quem viveu nesses anos, recorda que os horários do professor Silva Bastos desmultiplicavam-se, uma vez que começava a trabalhar às 8 horas da manhã e só terminaria cerca das 22 horas, quando terminava as classes dos Bombeiros Voluntários.
Mas a este trabalho escolar e associativo intensivo, juntava ainda uma actividade voluntária de organizar, de forma apaixonada, com os seus alunos os campeonatos escolares, em que as turmas da Escola Industrial e Comercial se batiam semanalmente nas modalidades que eles mais apreciava – Voleibol e Andebol – em verdadeiras provas de campeonato seguidas por todos os alunos, mas respeitando os princípios de sã camaradagem.
A nós, que tivemos o ensejo de partilhar com ele, durante alguns anos, a organização de muitas dessas provas, consideramos hoje quase meio século depois, que foram uma verdadeira escola de hábitos de trabalho e de organização.
Os jovens dessa época foram muito marcados pela personalidade exigente e voluntarista de Silva Bastos, razão pela qual, em poucos dias, foi possível juntar na homenagem várias dezenas de antigos alunos.
Pena que Caldas da Rainha ainda não tenha sabido até hoje fazer-lhe uma justa homenagem. Provavelmente muitos daqueles que têm estado à frente dos destinos da terra não viverem estes tempos heróicos quando, por exemplo, no edifício antigo da Escola Industrial e Comercial (onde funciona hoje os serviços administrativos do Centro Hospitalar), se transformou uma oficina de serralharia num modelar ginásio (onde se podia fazer ginástica no Inverno) e um quintal num parque desportivo, com um campo de voleibol e outro de andebol, respeitando as regras oficiais.
Muitas histórias havia para contar, mas ficará para outra oportunidade provavelmente, utilizando outros testemunhos que viveram a seu modo estas experiências.
Mas gostaria de manifestar hoje o meu grande reconhecimento pelo trabalho e acção de alguém que nunca quis os palcos. Com 84 anos, Silva Bastos, mantém uma forma física excepcional, pelo que Caldas da Rainha e algumas das suas instituições, ainda estão a tempo de lhe mostrarem a sua justificada gratidão.
JLAS
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