Uma higienista oral caldense em missão humanitária em S. Tomé e Príncipe

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verA caldense Diana Morgado, de 29 anos viveu recentemente uma experiencia solidária em S. Tomé e Príncipe. A higienista oral, através da Associação de Médicos Dentistas Solidários Portugueses trabalhou durante 15 dias em Tomé e Príncipe. Adorou a experiência e diz que quer regressar em 2015. Apesar de identificar que há “tanto por fazer” naquele país, nota que a população “é feliz” e quer continuar a ajudar. A higienista está também a formar-se em Medicina Dentária e quer continuar a apostar nas missões humanitárias.

Diana Morgado é higienista oral há seis anos. Trabalha em clínicas em Lisboa, Leiria e Porto de Mós e está na Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa. Formou-se no Instituto Superior de Saúde do Alto Ave, em Braga, e há muito que desejava partir em missão humanitária.
A oportunidade surgiu em final de Setembro, através da Mundo a Sorrir – Associação de Médicos Dentistas Solidários Portugueses – que lhe proporcionou uma experiência de trabalho em S. Tomé e Príncipe.
Ainda em estudante, Diana Morgado sempre gostou das sessões de educação para a saúde e preocupa-se sobretudo com as questões da prevenção.
Em S. Tomé a caldense trabalhou com crianças dos seis aos 10 anos.
“Tive muita pena de ter que me vir embora. Quinze dias é muito pouco quando há tanta coisa ainda por fazer…”, relatou a jovem, acrescentando que se vai candidatar para repetir a experiência em 2015.
E o que fez então por lá? “Rastreei muito meninos,  distribuímos muitas escovas e muitas pastas de dentes”, disse a caldense. Conta que os miúdos são-tomenses “são muito gratos”. Alguns nunca tinham visto umas escova, enquanto que outros já sabiam pois já tinham tido contacto com outros profissionais. E até sabem o que é que, afinal, é preciso fazer em nome da higiene oral. “Alguns já sabiam escovar e quais os alimentos que são bons e maus”, contou Diana Morgado. Por outro lado, encontraram situações em que “uma escova era usada para toda a família ou, à falta de escova e sabendo que é importante escovar, usavam folhas de couve”.
A higienista também encontrou crianças de zonas do interior da ilha que nunca tinham escovado os dentes e que não tinham cáries. Porquê? “Porque não tinham acessos a doces”.
Na sua opinião deveria ser encarado como um verdadeiro problema de saúde pública o facto de os estrangeiros darem doces aos miúdos locais, o que acaba por se traduzir em prejuízo directo em termos de saúde oral.
Além do mais, para quem ganha 980 mil dobras (cerca de 50 euros por mês) também não vai comprar chocolates que, segundo Diana Morgado, custam à volta dos cinco euros. Isto apesar de São Tomé e Príncipe ser um país produtor de cacau, que é a matéria-prima base do chocolate.
Diana Morgado nem quis acreditar que num dos hospitais que visitou, os dentes eram extraídos sem recurso à anestesia.

“Ser feliz sem ter nada”

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A maioria das pessoas anda descalça, tem pouca roupa e pouco hábitos de higiene pessoal. Diana Morgado conta que é num rio “onde as pessoas se lavam a si, à roupa e aos tachos”.
Apesar da população não passar fome, pois há sempre peixe no mar e muita fruta dada pela natureza, “é notória a falta de condições mínimas como por exemplo de saneamento básico”, contou a caldense, acrescentando que a maioria das pessoas vive da plantação do cacau e do café. Contou também que, em muitas roças, “nunca tinham visto brancos” e por isso muitas crianças “pediam-nos até para nos tocar no cabelo”.
Apesar de tudo, mesmo vivendo sem os mínimos, “as pessoas são felizes, vivem bem, sem nada”, contou a caldense que teve oportunidade de ir até à ilha de Príncipe, e mesmo tendo ficado alojada na casa do pároco de uma das localidades,  constatou que durante a estadia  “não havia água quente”.
Em S. Tomé e Príncipe as estradas “não têm condições” e o trânsito “é caótico”. Além das pessoas e dos veículos, também os animais andam por todo o lado. E ai de quem os tente roubar pois ao fim do dia cada animal vai direitinho para a casa de quem pertence.
Apesar de faltar tudo, e sobretudo por causa do Ébola, “fomos sujeitos a um controlo rigoroso quer em S. Tomé, quer em Príncipe”, contou a caldense. Contudo, quando regressou a Portugal, não houve qualquer acção de controlo.
Diana Morgado quer continuar anualmente a fazer voluntariado. E agora está apostar na licenciatura em Medicina Dentária pois pretende alargar as suas competências, dando sempre destaque ao papel da prevenção. Contou também que no norte da Europa, em países como a Noruega ou a Suécia, a tendência é para substituir as clínicas médico-dentárias por aquelas que se dedicam à saúde oral e que só têm higienistas. Se houver prevenção e uma boa higiene, quase não é necessário dentista.

 

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