
“Todas as acções que possam atentar contra a vida, desde a interrupção da gravidez até à eutanásia, nós somos contra”. Palavras do médico Hugo Pissarra, convidado da sessão intitulada “Bioética: os desafios actuais”, que teve lugar a 15 de Fevereiro na Igreja Paroquial e que contou com o salão cheio de gente de todas as idades.
Hugo Pissarra trabalha no Centro de Saúde da Lapa e é docente na Universidade de Lisboa. Fez parte da direcção da Associação de Médicos Católicos e defende a preservação da vida humana em todas as situações.
Na sua opinião, é preciso trazer à reflexão as temáticas relacionadas com a vida, desde a interrupção da gravidez até à eutanásia. Para o médico, a vida humana “é um contínuo” e por isso não entende a decisão do legislador para decidir que, por vontade da mãe, a interrupção pode ser feita até às dez semanas.
Hugo Pissarra afirmou “que há mulheres a fazer abortos, sem qualquer juízo crítico”. Do ponto de vista científico a interrupção da gravidez é “a morte de uma vida”, mas o orador aceita a lei que diz que até às 16 semanas uma mulher vítima de violação pode abortar. No entanto, questiona: “isto quer dizer que se passar um dia desse tempo já não pode ser feito?”
O especialista diz que não está de acordo com algumas premissas aceites na lei portuguesa sobre a procriação medicamente assistida. Se uma pessoa não sabe quem é o pai, pode até um dia mais tarde casar com um familiar. Por exemplo, pode dar-se o caso de um homem com 40 anos casar com uma mulher de 20 e “esta, eventualmente, ser sua filha”.
Não se mostrou também a favor da investigação médica com a congelação de embriões que “provoca danos e aumenta muito a probabilidade de mal formações futuras”. Também a investigação sobre células estaminais com embriões são “imorais”, dado que esta poderia ser feita com células estaminais de adultos. Na sua opinião, é preciso perceber se “tudo o que é legal é justo, ou se tudo o que é cientificamente possível é eticamente aceitável”.
A doação de órgãos também foi tema em análise. Hugo Pissarra recordou que “todos somos dadores de órgãos e só se a pessoa não quiser doar é que terá que se inscrever na lista de não dadores”.
CONTRA A EUTANÁSIA

O convidado também se manifestou contra a eutanásia. Sobretudo porque em países onde esta já se encontra legislada (como é o caso da Holanda), “há uma banalização da morte e até um certo descontrolo”.
O médico questionou-se sobre as definições e os limites que levam a esta acção, ou seja, o que leva um ser humano doente a pedir a um profissional de saúde para o matar. E diz que um sofrimento insuportável é sempre algo subjectivo. “Se for do ponto de vista psicológico, se for alguém que sofre de depressão, essa pessoa está doente e estará em condições para pedir para a matarem?”, questionou Hugo Pissara, acrescentando que tem conhecimento de gente “que pede para morrer e que está a viver o luto de um familiar”.
Referindo de novo o exemplo da Holanda, o orador afirmou que naquele país o acesso à eutanásia “é demasiado simplista” pois basta uma pessoa pedir três vezes ao mesmo médico para morrer para dar início ao processo. Este último tem que ser assistido por outro colega, “que não tem que conhecer o doente e isso é o que basta para se fazer a eutanásia”.
Hugo Pissarra mostrou-se preocupado pelo facto de haver partidos com assento parlamentar que querem trazer o tema a debate na próxima legislatura. Na sua opinião, é preciso ter cuidado com as propostas de lei que são feitas “dado que podemos resvalar para esses regimes mais simplistas, que não são benéficos para o ser humano e para a sociedade em geral”. Para o orador “o que é tecnicamente possível fazer, tem que ser questionado se é moral ou lícito”.






























