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Um vestido de noiva, decorado com Bordado das Caldas acabou por dar o mote ao casamento da caldense Ana Saloio.
A caldense Ana Saloio casou a 8 de outubro e o seu vestido foi verdadeiramente especial. Há vários anos que pedia à sua tia, Cristina Saloio, que o tornasse único, com recurso ao Bordado das Caldas. E ela, também madrinha, cumpriu este seu desejo bordando, durante vários meses, o vestido de casamento da sua sobrinha.
“Sempre cresci com tudo o que diz respeito às Caldas e achei que era uma oportunidade de ter algo especial da minha cidade no meu casamento”, disse Ana Saloio, referindo-se ao facto do seu pai, Joaquim Saloio, ser colecionador de tudo o que diz respeito à cidade termal, dos livros aos cartazes, sem esquecer o bordado.
“Demorei vários meses, dedicava-me a bordar sobretudo aos fins de semana e aos finais de tarde”, disse Cristina Saloio que levou 20 horas a realizar a composição.
“Como foi algo que eu compus fui fazendo com muito entusiasmo e orgulho-me do trabalho feito!”, disse Cristina Saloio sobre este seu projeto original e cheio de simbolismo para toda a família. O bordado foi feito no seu tempo livre, entre o mês de outubro de 2021 e maio de 2022.Passarinhos, corações e flores são alguns dos elementos deste bordado que constam na composição que integra dois medalhões unidos por alguns elementos, típicos do bordado das Caldas.
São em tons de castanho dourado como mandam as regras e os bordados de Cristina Saloio chegaram também às faixas dos vestidos das crianças, que acompanharam a noiva. “Aprendi o bordado na Escola Bordalo Pinheiro”, contou a bordadeira que gostava que este fosse mais conhecido e que se apostasse mais na sua divulgação.
Na sua opinião, este prática artesanal até deveria voltar a ser ensinada nas escolas. “E até poderia dar emprego a alguns, tornando-se numa profissão”, acrescentou a bordadeira, antiga professora primária que se divide a ajudar a criar os netos e a bordar.
Lenço de lapela do pai bordado
“Gostei tanto do trabalho da minha tia no vestido, que ficou espetacular, que acabámos por fazer do Bordado o tema do próprio casamento”, contou Ana Saloio explicando que o bordado caldense decorou os convites e que o seu pai também levou um lenço bordado na lapela.
Gazeta das Caldas pediu a Cristina Saloio que desse uma ideia de quanto poderia custar um bordado como aquele que fez para o vestido da sua sobrinha. “Não é fácil…pois seria necessário contabilizar as horas…”, mas segurante que seriam alguns milhares de euros devido à longa extensão do bordado que ronda os 14 metros no total.
Até nos concelhos vizinhos há quem não conheça o Bordado das Caldas, algo que preocupa quem gostaria de ver esta prática mais conhecida pelo país, onde até está na moda algum retorno às origens das localidades.
A própria responsável pela execução dos vestidos das crianças, de Torres Vedras, ficou muito surpreendida com o bordado caldense “que até agora ainda não conhecia”, contou Ana Saloio.
Ana Saloio, 34 anos, trabalha em na LC Negócios mas é Educadora de Infância e está apostada em divulgar melhor o bordado típico da sua terra natal. O mesmo sente a sua tia, Cristina Saloio, de 66 anos, a quem não faltam ideias para aplicar Bordado das Caldas.
O casamento de Ana Saloio decorreu na Igreja de N. Sra. da Conceição e sem dúvida que o seu vestido esteve em destaque. Ambas dizem que este um dia este será oferecido a um espaço museológico que gostariam que existisse nas Caldas no futuro – e que deveria ser dedicado ao Bordado das Caldas.
Na cidade, há a Associação dos Bordados das Caldas onde atualmente está a decorrer um curso sobre este bordado e que tenta preservar esta tradição local.
Reza a lenda que o bordado das Caldas foi iniciado pela própria Rainha D. Leonor e suas aias e é feito em tons de castanho dourado, pois era tingido com chá de carqueja.
É bordado em linho e das composições deste bordado fazem parte pássaros, carinhas, o pelicano, o camaroeiro e a coroa. Estes três últimos estão relacionados com a vida da própria Rainha e família. Somam-se vários tipos de arabescos, feitos nos tons de castanho que as regras do bordado permitem. Habitualmente esta arte decora naperons, quadros, sacos de pão, quadros, caixas de joias, toalhas, almofadas e máscaras. Também já inspirou coleções de joias, de malas e sapatilhas.
