Em 1925 um caldense tornou-se herói nacional ao ganhar o II Grande Circuito Hípico de Portugal. Um século depois o bisneto vai recriar o percurso, numa iniciativa do centenário da Gazeta das Caldas
10 de outubro. Jockey Club, Campo Grande, em Lisboa. Em 2025, como há 100 anos, daí se fará a partida para a Volta. O percurso é exatamente o mesmo. São 25 dias em que se percorrem 70 vilas e cidades do país, numa extensão total de 1458 quilómetros.
Há um século eram 39 os cavaleiros, que ali iriam iniciar uma grande aventura. Apenas três dos quais não eram militares e um desses era José Bernardo Tanganho, caldense cuja história pode ser lida no suplemento publicado na última edição da Gazeta das Caldas, da autoria de Carlos Querido e de Miguel Macedo e que conta com uma ilustração de João Belga na capa.
Agora, cem anos depois, e por ocasião das comemorações do centenário da Gazeta das Caldas (jornal fundado a 1 de outubro de 1925 nas Caldas da Rainha, o bisneto de José Tanganho, o também caldense Pedro Bernardo, propõe-se a recriar o percurso que elevou o seu bisavô a símbolo popular e herói nacional.
Consigo vai João Belga, outro caldense ligado ao mundo das artes. Partem numa aventura, agora não a cavalo, mas num automóvel, da marca Porsche. Vão recriar todas as etapas do percurso, planeando chegar às vilas e cidades nos horários em que, há um século, o cavaleiro o fez, com o Favorito, o seu cavalo. Tal implica, por exemplo, chegar a alguns locais a meio da noite.
Uma particularidade: os participantes no circuito hípico de 1925 tinham que carimbar uma caderneta, que atestava a sua passagem pelas 70 vilas e cidades do percurso, algo que também será recriado agora por esta dupla de artistas.
Pedro Bernardo e João Belga leverão recordações das Caldas para distribuir pelas vilas e cidades onde páram e propõem-se a fazer um registo visual e sonoro das paisagens, da cultura e das pessoas destes locais por onde volta a passar a Volta, cem anos depois.
As peripécias desta vitória caldense, digna de um filme, têm vindo a ser contadas e escusamo-nos a voltar a repetir todos os detalhes, mas recordemos o trajeto feito, que será agora recriado. Trata-se de uma autêntica Volta a Portugal, partindo de Lisboa rumo a Sul, até Faro. Depois começam a subir o país, por Évora, Portalegre e Castelo Branco.
Sobem até Bragança, vão a Viana do Castelo e depois voltam a descer novamente, pela costa, passando pelas Caldas já perto do final da volta, que terminará novamente no Jockey Club, na capital.
No final destes 1458 quilómetros, a recolha e produção artística da dupla irá dar origem a uma exposição, que será apresentada no CCC. A mostra terá como título “Não navega, cavalga”, um verso de Mário Cesariny, do poema “O Navio de Espelhos”.
Leonídio Ferreira, diretor adjunto do Diário de Notícias, realça à Gazeta das Caldas que “a Volta a Portugal a Cavalo, há um século, é uma extraordinária demonstração da capacidade de intervenção da parte do Diário de Notícias na sociedade portuguesa, num entendimento muito alargado do papel do jornalismo, herdado de Eduardo Coelho, nosso fundador em 1864” e que “não por acaso, a título de exemplos, o jornal organizou também a primeira Volta a Portugal em Bicicleta, e até hoje, com a RTP, promove o Natal dos Hospitais”.
Leonídio Ferreira refere ainda que “a forma como o caldense José Tanganho ganhou em 1925 a inovadora Volta a Portugal a Cavalo é admirável, pelo esforço e determinação mostrados numa prova muito exigente, e isso consta das páginas do DN na época” e acrescenta que “a homenagem que a Gazeta das Caldas agora faz em 2025 é merecida” e que “o nosso jornal tem todo o gosto em associar-se, estando previsto já para agosto a publicação de um artigo de Carlos Querido sobre o cavaleiro José Tanganho”.
Carlos Querido, que assumiu a coordenação da Comissão para o Centenário da Gazeta das Caldas, recorda esta figura que atingiu um patamar de figura nacional ao ser o vencedor improvável do circuito, mas que tem vindo a cair no esquecimento. Agora pretende-se, “com a ajuda e o apoio do bisneto, que nele tem um tremendo orgulho”, trazer de volta a história desta personalidade “para a rua, para as páginas da Gazeta das Caldas e do Diário de Notícias, para eventos como a exposição no CCC e para o percurso pelas 70 vilas e cidades”. O projeto terá o apoio da GNR e do Jockey Club, que acolhe a iniciativa na partida e na chegada, como fez há um século. Atualmente a comissão está a tentar reunir mais apoios e patrocínios para a realização desta aventura.
































