Um obidense entre a Estónia e a Finlândia

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notícias das CaldasPara Pedro Reis, 34 anos, obidense por adopção nascido em Angola, apanhar o ferry que liga Tallin a Helsínquia e atravessar o Báltico é quase tão rotineiro como para muitas pessoas apanhar o cacilheiro e cruzar o Tejo. Com residência na Estónia e uma empresa na Finlândia, este empresário auto-didacta diz que vive em part-time nos dois países, retirando o melhor de cada um deles.

Quando em 1996, com 19 anos, Pedro Reis criou a sua primeira empresa – uma loja de bicicletas na garagem da casa dos seus pais na Amoreira – estava longe de imaginar que viria um dia a ser um empresário ligado às novas tecnologias a viver em dois países e a navegar permanentemente na Web com clientes de todo o mundo.

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Nascido em Angola em 1977, viria aos cinco anos para Portugal, com a família que se instalou na Amoreira (Óbidos) após uma curta passagem por Lisboa e pelo Nadadouro. Pedro Reis fez a escola primária na Amoreira e o 12º ano na Escola Secundária Raul Proença.
Muito novo gostou de actividades desportivos e aos 18 anos dava aulas de fitness e ginástica em alguns ginásios das Caldas e de Óbidos. Com 19 anos criou a empresa F-Bikes na garagem dos pais para vender bicicletas e chegou a organizar eventos de BTT com algum sucesso.
A sua entrada no mundo das novas tecnologias aconteceu por acaso quando sentiu necessidade de criar um site na Internet para a sua empresa, algo que há 14 anos ainda era quase uma novidade. “Na altura só havia uma empresa na região, a Janela Digital, que fazia sites, mas eu não tinha recursos para lhes pagar e resolvi fazer eu mesmo. O meu irmão, que é amigo do Emídio [sócio da Janela Digital], mostrou-lhe o que eu fiz e ele gostou. A partir daí comecei a fazer sites por conta própria para empresas”, conta Pedro Reis.
Durante cinco anos o jovem tenta a sorte em Lisboa, onde chega trabalha no El Corte Inglês (na secção de Desporto, claro). Faz webdesigner e começa a trabalhar em publicidade, criando cartazes e posters. Regressa a Óbidos e dedica-se quase em exclusivo à criação de sites a par das aulas de ginástica.
E como nos filmes há sempre uma história de amor que provoca grandes alterações na vida de uma pessoa. Pedro Reis dá aulas no Centro de Juventude e é lá que se enamora por uma finlandesa linda, loira e de olhos azuis (um protótipo das nórdicas), com quem viria a casar. Riikka Virtanene tem 23 anos, estuda Design de Cerâmica e Vidro na Universidade de Kuopio e está a fazer o Erasmus nas ESAD. Cinco meses depois estão ambos na Finlândia, onde registam a Uxte.com, a empresa que Pedro Reis tivera em Portugal e que passou agora a ter sede em Tampere.
Pedro e Riika dedicam-se hoje à consultoria de empresas ajudando-as a criar a sua imagem corporativa. Isso passa também pela concepção de sites e logótipos, mas o casal está a “descontinuar” estas últimas actividades para se dedicar à consultoria.
“O nosso trabalho é conversar com as pessoas, descobrir os problemas que as empresas têm e chegar a soluções. Criamos ferramentas que as empresas podem usar, mas dizer que vendemos serviços de design é redutor porque na verdade o que fazemos é consultoria de negócios. No fundo criamos presença e imagem corporativa, o que implica trabalhar em design, publicidade e gestão de negócios”. Uma consultoria inovadora na qual, explica Pedro Reis, é o próprio cliente que faz parte do trabalho habitualmente imputado ao consultor, sendo também o cliente o gestor do projecto.
Todo este trabalho é feito a partir de Tallin, na Estónia, embora a empresa esteja registada na Finlândia. O casal de empresários tira o melhor partido dos dois países. “A burocracia é menor na Finlândia do que na Estónia, mas desde Tallin pode-se viajar mais facilmente para qualquer ponto da Europa porque os voos são mais baratos. E o preço da habitação é quatro ou cinco vezes mais barato do que em Helsínquia”, conta Pedro Reis.
“Só em último caso é que vamos a uma reunião. Fazemos tudo pela Internet e  vídeo-conferência. Por isso é indiferente estarmos a trabalhar num país ou no outro”. Entre os seus principais clientes, Pedro e Riikka contam com a Fysioline e a Icepower (ambas empresas finlandesas), a Zerply (Califórnia – EUA) e Bile Arquitctos (Portugal).
Auto-didacta, Pedro Reis tem vindo a acumular experiência na área de consultoria e pode hoje gabar-se de fidelizar grande parte dos seus clientes. “Criamos com eles uma relação tão forte que eles ficam a gostar de nós, até porque, por vezes, conhecemos melhor as empresas do que os próprios directores”, conta.

REDE, COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTOS

Na sua actividade diz que as palavras chave são “rede”, “comunicação” e “criar relacionamentos”. E que é por aí que passa o futuro dos negócios. “Acredito que o futuro são as PME e os pequenos empreendedores. A crise financeira, no fim de contas, até tem aspectos positivos porque as pessoas, com medo de perderem os seus empregos, começam a pensar de forma empreendedora e criam o próprio emprego.”, diz.
Empreendedorismo é que não falta a este casal luso-finlandês que pondera regressar a Portugal e daqui partir para Angola. Pedro e Riika têm dois filhos – Ayo, de três anos e Lukas, de um ano – e um terceiro vem a caminho. O mais velho é trilingue: fala português com o pai, finlandês com a mãe e, como os progenitores falam inglês entre eles, também já fala esta língua. Aliás, na inocência dos seus três anos, Ayo Ries diz que o português e o finlandês são línguas muita fáceis e que o inglês é que é difícil.
Mas porquê Angola?
“Sinto-me mais angolano do que português porque toda a minha família é de Angola desde os meus avós. Mas é curioso que só quando fui para a Finlândia é que me senti mais português. Quando parti estava um bocado zangado com Portugal pela forma como tratavam as PME. Mas depois, no estrangeiro, reconciliei-me com Portugal e passei a apreciar as coisas boas do país, sobretudo o clima e a qualidade de vida”.
É por isso que as férias são passadas em Portugal, como agora aconteceu no mês de Junho, com direito a uma semana na Madeira para praticar surf. Depois é o regresso ao Báltico e à vida partilhada entre a Finlândia e a Estónia. Angola é um projecto de médio prazo. O casal pondera mudar-se para este país a fim de desenvolver um projecto ligado à formação na área de Marketing e Design destinado às organizações não governamentais.

 

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