Um duelo Austrália-Brasil

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Praia repleta, uma constante durante o evento

 

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O Rip Curl Pro Peniche 2012, a penúltima etapa do circuito mundial de surf, foi um grande espectáculo a todos os níveis e teve uma final a condizer, decidida na última onda da bateria, que o australiano Julian Wilson conseguiu transformar em vitória, a primeira no circuito mundial. A etapa de 2012 terminou mas não o trabalho da organização, que negoceia agora a continuidade da prova portuguesa no calendário. António José Correia, presidente da Câmara de Peniche, adiantou à Gazeta das Caldas que isso está garantido a cerca de 85%, mas existe ainda o risco da prova desaparecer se o restante apoio não for conseguido até Novembro.

A etapa portuguesa do ASP World Tour foi transformada num autêntico duelo Austrália-Brasil a partir das meias-finais.
Na primeira, Gabriel Medina encarregou-se de deixar a corrida ao título mundial ainda em aberto, ao afastar o líder Joel Parkinson e impedindo-o de ganhar ainda mais vantagem sobre a concorrência – Kelly Slater, Mick Fanning e John John Florence tinham já sido afastados. Na segunda foi Julian Wilson a levar a melhor sobre Adriano de Souza, também com alguma surpresa.Ficava assim marcada para a tarde do dia 19, o penúltimo dia de espera da prova de Peniche, a reedição da final da etapa francesa de 2011, quando Medina e Wilson tinham já medido forças, com vantagem para o brasileiro.
Foi uma final digna das grandes competições, com a praia repleta de público e os dois finalistas com um aceso espírito de competição, como comprova o facto de terem sido surfadas 26 ondas em 30 possíveis. Sempre com grau elevado de espectáculo, procurando tanto Medina como Wilson pontuações elevadas apanhando tubos e sublinhando-os com manobras técnicas, muitas delas aéreas, muitas vezes falhadas, mas sempre apreciadas pelo público entusiasta.
Medina começou mais activo e marcou vantagem, ganhando prioridade para apanhar as ondas, o que se revelava muito útil sobretudo na parte final, quando a quantidade das vagas com potencial baixava. Mas a cerca de minuto e meio para o final foi-lhe retirada a prioridade por estar a usá-la para prejudicar o adversário.
Julian já desesperava por uma boa onda quando a 20 segundos do fim viu uma perfeita, precisava de uma nota de 7.55 para ganhar. Fez um tubo, do qual saiu já com o punho no ar, mas a onda ainda tinha mais para dar, precisamente mais três manobras. Acabou a manobra a 10 segundos do tempo limite. Ambos saíram da água com enorme expectativa e com um silêncio perturbador entre o público, e quando a nota finalmente saiu foi um 8.43. Alegria enorme de Wilson pela primeira vitória no ASP World Tour a contracenar com a frustração e as lágrimas do jovem Gabriel Medina, grande sensação de toda a prova e que sentiu provavelmente a injustiça que vários amantes da modalidade verbalizaram. Sem grandes palavras para dizer, Medina agradeceu ao público o apoio e disse ainda que se divertiu bastante durante todo o evento, “as ondas estavam mesmo muito boas”, acrescentou.
Julian Wilson elogiou o adversário, que “não tem razão para sair de cabeça baixa”, e elogiou também o público sempre presente na praia dos Supertubos. “Este evento é óptimo, tem uma assistência fantástica, não há nada assim, é óptimo sair da água e ver caras sorridentes, foi uma semana fenomenal”, sublinhou.

Mais de 150 mil na praia

António José Correia, presidente da Câmara Municipal de Peniche, faz um balanço ”muito positivo” quer da prova deste ano, quer do impacto que teve quer na economia, quer na divulgação do seu município e da região Oeste.
“Foi mais um sucesso, é essa a nossa avaliação e pelo contacto que fomos tendo com todos na praia é também a dos surfistas, dos patrocinadores e do público”, comentou.
No início do Rip Curl Pro 2012, a organização definiu como objectivo superar os 120 mil espectadores na praia, o que foi atingido. “Apontamos para os 150 mil no acumulado dos 10 dias”, adianta o presidente da câmara de Peniche, que aponta que só no sábado tenham estado entre 40 a 50 mil pessoas.
A juntar ao facto de o evento ter praticamente esgotado os 11 dias de espera, houve também “vantagens muito interessantes para a actividade económica da região, nomeadamente hotéis e restauração”, acrescenta.
Até em termos desportivos o autarca considera que Peniche poderá ficar na história como um ponto de viragem. “O facto da final ter sido disputada por dois elementos da nova geração pode significar a afirmação desta nova geração com outro tipo de surf, mais criativo”, acrescentou ao nosso jornal.

O ataque da cavala

Uma das imagens mais fortes do evento foi ainda longe da final, protagonizada pelo norte-americano Damien Hobgood e… um cardume de cavalas. O surfista apanhou uma belíssima onda, bem limpa, sem espuma, a descrever um tudo perfeito, do qual saltaram três cavalas que terão ainda atingido a prancha, embora não tenham prejudicado a manobra.
Não foi uma das ondas com nota máxima para os juízes, mas foi uma muito feliz coincidência numa prova que promovia a conserva de cavala, o segundo pescado de maior relevo na economia penichense.
“Passou em directo na televisão, o vídeo foi muito visualizado na Internet e é bom porque é uma imagem que vai ficar na história e as pessoas vão associar os recursos que temos e a nossa identidade”, disse António José Correia. O edil sublinhou que a divulgação correu muito bem, com venda na praia, a mensagem a passar também através dos comentadores das televisões que fizeram cobertura da prova. E foi importante para divulgar um produto de uma empresa que emprega 800 pessoas no concelho.

Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt

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