No passado dia 10 de Dezembro os reclusos do Estabelecimento Prisional de Caldas passaram um dia diferente, em que lhes foi dada a possibilidade de jogar à bola, cantar, dançar e desfrutar de um farto repasto. A festa de Natal invadiu os muros da cadeia, que aprisionaram a animação pela tarde fora. Uma mensagem de esperança, força e fé para aqueles que querem reintegrar-se.
Num corredor dentro da prisão há hoje um palco improvisado e cadeiras. Há luzes e arranjos de Natal e há caras diferentes. Os artistas lá estão para animar este dia e os visitadores da Igreja Católica trouxeram um farto lanche natalício.
Na zona prisional o dia é de festa e de partilha, de sorrisos e esperança.
Alguns reclusos, mais atentos, chegam-se aos lugares mais próximos do palco. Outros, com menos espírito natalício, deixam-se ficar para trás a conviver e a fumar. Há até os mais entusiasmados que cantam e dançam acompanhando os artistas. E há também o recluso Jorge Canas, que sabe cantar o fado, e que não conteve o seu entusiasmo. “Esta é a nossa festa!”, exclamou, convidando todos a desfrutar da sua alegria. E de seguida cantou vários fados, um dos quais ele próprio compôs, dedicado a todos os que estão na sua situação.
Houve prémios para os participantes no jogo de futsal, para os vencedores do torneio de sueca e do concurso de quadras de Natal. Os prémios eram pacotes de bolachas, que acabaram por ser partilhados pelos vencedores com os presentes.
A festa contou com a actuação do Coro da Universidade Sénior Rainha Dona Leonor, Emanuel Soares, Terabytes e Pedro Florim e a apresentação de João Carlos Costa, que disse que já está marcado um novo espectáculo para Maio de 2016.
O Natal começou com um concerto surpresa com os Cottas, no dia 8 de Dezembro, em que o jazz invadiu a cadeia das Caldas.
João Carlos Costa, responsável pela organização da iniciativa, afirmou que assim se consegue “entrelaçar a sociedade civil com este mundo” e que “quando saírem daqui estes homens têm de ser livres, porque já cumpriram a sua pena. Não podem sair daqui com um estigma de ex-reclusos”.
Na sua óptica, “este momento de espectáculo é uma terra do nunca que criamos para poderem celebrar o Natal”.
O DESPORTO COMO FORMA DE REINTEGRAÇÃO
Da parte da manhã realizou-se um jogo de futsal entre uma equipa de reclusos e outra da sociedade civil. Gazeta das Caldas associou-se ao evento e decidiu viver a experiência na primeira pessoa.
Esta iniciativa é mais uma parte que integra o plano de reabilitação destes homens, que no campo encontram uma razão para sorrir e para se sentirem úteis.
Foi precisamente isso que Jorge Canas (o mesmo que da parte da tarde animou a festa) que fez de árbitro no jogo, explicou. “Podiam organizar mais vezes estas iniciativas porque nos sentimos orgulhosos e úteis para a sociedade”, disse.
Dirigindo-se à equipa visitante, o guarda-redes da equipa de reclusos destacou que “a vossa presença, faz-nos acreditar que vocês acreditam em nós”.
Joana Patuleia, directora do Estabelecimento Prisional de Caldas da Rainha, referiu que esta “é uma iniciativa muito importante e uma forma de a comunidade exterior mostrar solidariedade e fraternidade a quem está privado da liberdade”. É que “atitudes positivas, geram atitudes positivas”, concluiu.
Já António Marques, da Expoeste (que se associou à iniciativa), afirmou que este encontro é uma forma de “através de um jogo de futebol, perceber que a disciplina é fundamental”. Para além disso, referiu que “civicamente estes momentos de solidarie
dade são de uma importância crucial para uma integração dos reclusos de forma mais consentânea com o século XXI”. Por isso, concluiu, este “é um abraço da sociedade de Caldas da Rainha à sua comunidade prisional” e uma forma de “ajudar a ter esperança”.
O jogo vivido por dentro
Gazeta das Caldas associou-se a esta iniciativa e entrou em campo pela equipa dos visitantes. Ao entrar na prisão, a segurança é apertada e tudo o que entra tem de ficar registado. O nosso cartão de cidadão fica à porta, entramos e dirigimo-nos à Camarata dos Guardas para nos equiparmos.
Quando de lá saímos, vamos para o pátio que, na prática, é o campo de futebol. A equipa da casa já faz o aquecimento. À volta do campo há vários reclusos a ver o jogo, assim como a directora, pessoal administrativo e os guardas.
Por um dos lados o campo é rodeado pelas janelas das celas, dos outros são muros altos com arame farpado.
Entramos em campo e somos cumprimentados pelos adversários, sempre num ambiente bastante amigável e cordial entre todos.
Antes do jogo, as habituais fotografias. Moeda ao ar, a bola sai da equipa visitante. Um discurso a apelar ao respeito e a explicar as regras e soa o apito inicial, dado por António Marques, da Expoeste, que foi o capitão da equipa visitante. E rola a bola.
O jogo foi muito disputado, com bastante equilíbrio e uma primeira parte de incerteza. Ao intervalo o resultado era de 4-3 para a equipa de reclusos.
No segundo tempo a equipa da casa mostrou-se superior física e tacticamente, num jogo em que o menos importante foi o resultado. Acabou a ganhar por 7 – 4.
No fim do jogo todos se cumprimentaram. Só houve um lesionado, na equipa dos reclusos, que meteu mal o pé no chão e feriu um joelho, mas no geral correu tudo bem e já ficou marcado um novo jogo, também para Maio.
Além do jornalista da Gazeta das Caldas, na equipa dos visitantes alinharam António Marques (Expoeste), João Carlos Costa (mentor da iniciativa) e vários empresários e elementos dos Bombeiros das Caldas.































