“Ulisses” do CEERDL é uma grande lição de vida

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A vitória de Ulisses na Guerra de Tróia

Elenco da peça surpreendeu e arrancou calorosas palmas e algumas lágrimas aos presentes. Representação chama a atenção para a saúde mental

O CCC acolheu, a 30 de junho, a peça “Ulisses ou eu também sou capaz de transformaARte ilha minha”, interpretada por utentes do Fórum Sócio Ocupacional do Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor (CEERDL).
As aventuras de Ulisses, imaginadas por Homero, têm uma adaptação de Maria Alberta Méneres. O livro foi um dos objetos que o protagonista, Paulo Chaves, trouxe para as sessões de ensaio, a pedido da encenadora Inês Fouto. Logo ficou decidido que o grupo iria levar ao palco as aventuras do rei de Ítaca, que fez muitas viagens à volta do mundo. Ardiloso, Ulisses ficou na história também por ter sido um valente marinheiro e de nunca baixar os braços.
No pequeno auditório, a plateia esteve repleta de amigos e familiares dos atores que “navegaram” e trouxeram ao CCC, muitas das situações passadas por Ulisses e os seus marinheiros, entre ciclopes e sereias encantatórias ou ainda tentando libertar-se da feiticeira Circe para poder regressar à sua mulher, Penélope.
Ulisses e os homens que o acompanham enfrentam inúmeros obstáculos e perigos, lutando sempre contra as adversidades. Imediatamente o público está a torcer pelo protagonista, um simples mortal, que sem poderes sobrenaturais sobrevive pois está sempre disposto a inventar encontrar soluções para os problemas, lutando até ao fim.

Inclusão e contra o estigma
Segundo a diretora executiva deste projeto, Sandra Oliveira (CEERDL), o espetáculo tem o intuito de chamar a atenção para a saúde mental e contou com o apoio do Instituto de Reabilitação Nacional e da Câmara das Caldas.
“Pretendemos combater o estigma e dar uma oportunidade de inclusão”, referiu a responsável, contando que esta representação quis dar visibilidade a pessoas que “têm grande capacidade”. “Só pedimos que quem assiste que não julgue nem traga preconceitos, pois quem sofre deste tipo de problemas sente quando não é bem-vindo ou olhado de lado. Lutamos contra isso e por uma mentalidade diferente, de aceitação e de inclusão”, disse a técnica, que considera que a peça merece ser vista por toda a comunidade local e não apenas pelas escolas, como já está a ser planeado. Sandra Oliveira recordou que as questões relacionadas com a saúde mental “são transversais a toda a sociedade”.
Preparar e ensaiar “Ulisses ou eu também sou capaz de transformaARte ilha minha” teve a duração de um ano, um período que foi atravessado pela pandemia. Tal como o protagonista, o elenco e a equipa que coordenou este trabalho teve de ser resiliente e não desistir nos momentos mais duros quando se reiniciavam os ensaios para a peça.
Tudo acabou por se compor, foi encontrado o elenco fixo da peça e no final “estavam ansiosos por este momento”, disse Inês Fouto, a responsável pela encenação, presente e com alguma ação em palco. Na sua opinião, este espetáculo “é uma metáfora forte sobre a vida e, como tal, merece voltar a ser representado”. Uma vez decidido que se iria apostar nas aventuras de Ulisses, assistiram a um dos filmes com a adaptação da obra, assim como trabalham em conjunto nos cenários e figurinos, coordenados por Filipa Vicente. Nota máxima para o barco das viagens que se monta e desmonta, que é destruído em tempestades mas que se reconstrói e permite aos heróis o seu regresso a casa. O facto de se compor em várias partes faz com que dê outras possibilidades cénicas aos atores.
A interpretação foi exemplar, narrador e intérpretes estiveram muito à vontade e, por isso, no final não podiam estar mais satisfeitos com os calorosos e merecidos aplausos e com vontade de fazer regressar este Ulisses ao palco no futuro.
Sofia Bernardo é uma criadora independente, faz stand-up e foi responsável pelas grandes marionetas que fazem parte da história. Também esteve em cena, deu corpo e alma a várias personagens e deu segurança aos restantes atores.
Na sua opinião, uma representação única não é suficiente e por isso também acha que este Ulisses deverá voltar a palco.
“Foi muito bom para a autoestima deles e também como se veem com capacidade, resiliência e muita vontade de realizar projetos”, rematou.
O elenco integrou António Lemos, José Colaço, Catarina Enxuto, Lucília Cardoso, Domingos Rego, Paulo Chaves, Elisabete Andrade, Susana Nazaré, Francisco Antunes, Vitor Pronto, Hugo Vinagre e Joana Santo. ■

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