

Os poucos passageiros que frequentam a estação de Óbidos são quase sempre turistas, que ali vão ao engano. Engano porque viajam em comboios velhos e lentos e engano porque desembarcam (ou embarcam) numa estação onde não há água nem casas de banho, onde há falta de informação e onde nada foi feito para combater o isolamento em relação à vila pois não há transportes públicos e a alternativa é um caminho pedestre que sobe até às muralhas.
O cenário merece elogios. Mal chegam, os turistas destacam a beleza natural que circunda a estação. Ao fundo, ao cimo de um verde monte, vê-se o castelo, que desperta logo o imaginário dos seus visitantes. O edifício da estação, decorado com típicos azulejos portugueses a representar locais do país, é característico e, até aqui, o cartão de visita é muito satisfatório.
O problema começa quando, por exemplo, Bruno Lamprati, turista italiano de férias em Lisboa, quer sair da estação. “Quando chegámos aqui foi um problema porque víamos o castelo, mas não sabíamos como chegar até ele”, começa por contar, acrescentando que “não havia sinalização, não havia ninguém na estação e fomos os únicos a descer do comboio”.
Com a esposa, fizeram-se ao caminho e acabaram por encontrar o castelo e a vila que este esconde. A experiência de vida de Bruno já lhe permite “compreender” o fecho de estações como estas, até porque “em Itália o cenário não é diferente em termos de estações ferroviárias”. No seu país, conta, houve investimentos para aumentar a velocidade dos comboios, mas deixaram ao esquecimento os locais mais remotos.
A falta de dinheiro para a manutenção e os contínuos actos de vandalismo são realidades difíceis de contornar, “mas se houvesse sinalização aqui em Óbidos já era uma pequena ajuda”, queixa-se. Por outro lado, fez notar que o portão onde vai ter o caminho do monte estava fechado.
Já depois de descer do comboio de Meleças, Amanda Barbosa, uma turista brasileira que está a passar férias em Lisboa e Ericeira, decide comprar de imediato o bilhete de volta. Não encontra o balcão e não quer perder mais tempo: “vou procurar informação para chegar até à vila”, diz.
Mas não encontra nenhuma sinalização. Por mero acaso, nesse dia encontra-se ali uma brigada de trabalhadores contratados pela Infraestruturas de Portugal (ex-Refer) para fazer alguns arranjos na estação e é a eles que se dirige para perguntar como deve comprar o bilhete de regresso e como pode chegar à vila.
Mas o pessoal que ali trabalha não é da região e apenas sabe informar que o bilhete poderá ser comprado no comboio. Quanto ao caminho, apontam para o monte e dizem que há por ali um carreiro e que existe uma estrada à volta.
AO MENOS UM TELEFONE PARA OS TÁXIS
“Acho que aqui tem falta de informação e de sinalização, que não há nenhuma assistência e que, no mínimo, a casa de banho deveria estar a funcionar, porque é uma necessidade básica”, afirma, destacando ainda que existe uma falta de articulação entre os serviços de transportes. “Ao menos poderia existir uma indicação de números de táxis, por exemplo”, diz esta turista, salientando que, pelo menos no seu caso, fala português.
O jovem inglês Harry Gladwell, que esteve de férias no Porto e em Coimbra e que depois de Óbidos seguia para Lisboa, queixou-se do tempo da viagem entre Coimbra e Óbidos, antes de nos agradecer que lhe indiquemos o caminho porque, “caso contrário, iria na direcção oposta”, seguindo no mesmo sentido que o comboio.
Ainda que considere que o sítio da estação “é muito bonito”, nota que a falta de informação “dá um pouco má impressão”.
“Acho que, não tendo uma pessoa para dar informações, era necessário ter pelo menos um mapa, uma indicação, qualquer coisa…”, defende Harry, que nem estranha que na estação de Óbidos as casas de banho estejam encerradas porque “em quase todas estão!”. Comparando com o seu país, diz que “em Inglaterra existem sempre casas de banho nas estações dos comboios e estão sempre abertas”.
“FICÁMOS CONFUSOS”
De Nova Iorque chega Besmir Osmani. Ele e um colega queriam ir para Peniche e, enganados pelo nome, compraram bilhete para o apeadeiro de A-da-Gorda – Peniche.
Mas não se deram conta da paragem e saíram do comboio na estação seguinte, em Óbidos. “Ficámos confusos”, contaram. Procuraram alguém para lhes dar informação, mas não havia ninguém.
Explicamos que Peniche não tem acesso ferroviário. Besmir e o colega ainda colocam a hipótese de ir a pé para A-da-Gorda, mas tratamos de esclarecer que não era perto e que seria difícil a ligação com Peniche. Optaram então por ir visitar o castelo e procurar a melhor forma de ir a Peniche através da vila.
Criticaram, também eles, a falta de informação e de articulação com os táxis. E não deixaram de notar que “as casas de banho deviam estar sempre abertas, especialmente numa vila que recebe tantos turistas”.
Já a sul-coreana Yeon Jeong Lim, que estuda em Lisboa, não teve problemas de orientação. Mal sai do comboio, procura um local para comer, mas não encontra e como alguém lhe tinha dito que Óbidos tinha um castelo, decide pôr-se ao caminho. Pega no seu smartphone, liga o GPS e lá vai ela. Mas, antes de ir, mostra a sua estranheza por “nalgumas estações, até ter de pagar para ir à casa de banho”.
Já esperava que quando chegasse encontrasse à sua espera um meio rural, “mas seria bom ter alguma informação”. Numa comparação com o seu país, diz que “no interior, mesmo interior, é assim, mas de resto não”.
Estação deve ter um projecto âncora
A estação de Óbidos mantém uma ligação relevante ao sistema ferroviário nacional e, ainda que se tenha desconsiderado o investimento na Linha do Oeste nos últimos anos, esperamos poder assistir, num futuro próximo à modernização desta linha que, nos últimos anos tem visto crescer a afluência ao serviço de passageiros. Este pode ser um meio de transporte capaz de melhorar a mobilidade entre Municípios do Oeste e também de criar uma ligação à zona Metropolitana de Lisboa, o que beneficiará largamente o turismo e a mobilidade de trabalhadores entre regiões.
Quando ambicionamos travar um pêndulo económico entre Lisboa e o Porto, a linha do Oeste é vital para a fixação de empresas na nossa região. Ora, o único meio de transporte capaz de mobilizar a massa crítica dos grandes centros urbanos para a sua periferia, é o ferroviário, pese embora, que não basta termos boas estações.
Será fundamental que o transporte se faça em menos tempo e com carruagens modernas, confortáveis e com acesso à internet, pois os tempos de viagem não podem ser interpretados como perdas.
Por último, as conexões com outros meios de transportes a par com as estações de caminho de ferro, são vitais para a capacitação do território, foi e é por esta razão que sempre entendemos que a denuncia do contracto só deverá ter lugar quando exista entendimento quanto ao projeto que esta estação possa vir a albergar. Será fundamental a coabitação da estação com um projeto âncora, capaz de devolver a vida necessária à polarização dos passageiros.
Desde sempre que nos foi dito que havia um conjunto de investidores interessados no espaço, sem, contudo, nos falarem dos projetos para o espaço!
Celeste Afonso
Vereadora da Câmara Municipal de Óbidos






























