Amigos e familiares manifestaram-se por melhores condições para Andoni Zengotitabengoa na prisão de Monsanto
O colectivo de juízes do Tribunal das Caldas da Rainha condenou a 12 anos de prisão em cúmulo jurídico o alegado etarra Andoni Zengotitabengoa Fernandez.
O arguido foi condenado pelos crimes de adesão a associação terrorista (nove anos), detenção de arma proibida (explosivos) com vista à prática de terrorismo (cinco anos), três crimes de falsificação de documentos, um crime de furto de veículo (oito meses) e outro de coacção e resistência (oito meses), relativo à fuga e tentativa de atropelamento de um elemento da GNR durante uma operação Stop, no Bairro da Senhora da Luz (Óbidos).
Este tribunal considerou que o crime mais grave foi a detenção de explosivos, pela perigosidade inerente e também pelo local escolhido para os guardar, no meio de uma localidade (Casal da Avarela).
O caso remonta a inícios de Fevereiro de 2010, quando as autoridades policiais encontraram engenhos explosivos na vivenda que era ocupada por Andoni Zengotitabengoa e Oier Gomez Mielgo (este último foi detido posteriormente em França).
Os dois bascos tinham fugido dias antes, depois de desrespeitar a ordem de paragem numa operação Stop da GNR perto da casa onde residiam há meses.Andoni Fernandez viria a ser detido no aeroporto de Lisboa, a 12 de Março, quando se preparava para embarcar para a Venezuela com passaporte falso.
No final da leitura do acórdão, que teve lugar no dia 6 de Janeiro, o advogado de defesa, José Galamba, disse aos jornalistas que vai recorrer do acórdão, considerando que a pena atribuída ao arguido é “elevadíssima”.
A defesa “não concorda nem se conforma” com a decisão do tribunal, disse o advogado, que considera que o tribunal não teve em conta os seus pedidos para um maior esclarecimento da participação da GNR e da Policia Judiciaria nos eventos que levaram à descoberta dos explosivos na casa de Óbidos
José Galamba, que já tinha interposto um recurso, admitiu ainda a hipótese de pedir a nulidade do julgamento por considerar que podem ter sido feitas buscas ilegais na casa de Óbidos, onde foram descobertos os explosivos. A defesa tem agora um mês para apresentar recurso.
BASCOS PROTESTAM
Durante as oito sessões em que decorreu o julgamento o trânsito esteve condicionado na zona junto ao tribunal
A oitava e última sessão do julgamento nas Caldas da Rainha ficou ainda marcada pela manifestação dos amigos e familiares de Andoni Zengotitabengoa, que desde manhã cedo, exibiam cartazes e proferiam palavras de apoio ao jovem basco. À tarde, e dentro da sala de audiência, receberam o arguido de pé e com uma ovação de apoio, o que mereceu uma advertência do juiz presidente, Paulo Coelho.
Após a leitura do acórdão os amigos juntaram-se em frente ao tribunal onde leram um comunicado, primeiro em espanhol e depois em português. Aos jornalistas quiseram denunciar as “agressões” a que tem sido submetido Andoni Zengotitabengoa Fernandez. “Este julgamento carece de garantias e está condicionado politicamente. Tenta-se mascarar a realidade para se forjar um castigo exemplar. Abriu-se caminho a falsidades, omissões, mentiras, interpretações improváveis e oportunistas”, leu Miguel Lopes, amigo e representante do grupo.
Os bascos pediram ainda para que sejam melhoradas as condições de detenção na cadeia de Monsanto, onde o agora condenado se encontra detido desde Março de 2010. Os jovens solicitam que se eliminem restrições às visitas de amigos, e que Andoni Zengotitabengoa Fernandez possa estudar, realizar trabalhos manuais e ouvir música, entre outras actividades. “Consideramos prioritário que se lhe permita o contacto físico com as suas filhas”, concluíram.
No grupo, de cerca de 30 pessoas, encontravam-se a mãe Begoña Fernadez, a sua irmã e a namorada, que não quiseram prestar declarações. Andoni é órfão de pai.
O etarra começou a ser julgado nas Caldas a 13 de Setembro, sempre rodeado de fortes medidas de segurança. Durante cada uma das sessões do julgamento o trânsito esteve condicionado nas imediações do tribunal e as telecomunicações estiveram cortadas.
Este julgamento, o mais mediático que já se realizou nas Caldas da Rainha, contou com a presença assídua de jornalistas espanhóis, além dos portugueses, originando um grande aparato em cada uma das sessões realizadas.