Tragédia na A8 que fez três mortos ocorreu há 25 anos

0
1259
À esquerda o estado em que ficou a viatura do bombeiro João Carlos Pedro

Um animal na autoestrada despoletou uma sucessão de colisões que acabou numa grande desgraça. Três vidas perdidas e oito feridos, dos quais cinco com gravidade, guardaram marcas físicas e psicológicas para toda a vida

Faz este mês 25 anos que ocorreu um dos mais graves acidentes de viação na A8 – Autoestrada do Oeste, que provocou três mortos e oito feridos, cinco dos quais em estado grave, entre os quais três bombeiros da corporação do Bombarral. Foi por volta das 11h20 do dia 7 de novembro de 2000 que a tragédia ocorreu, no sentido Sul/Norte, junto ao nó de São Mamede, na confluência dos concelhos de Bombarral e Óbidos.

Na origem das várias colisões entre as viaturas esteve um cão que deambulava pela autoestrada, segundo relatos de automobilistas no fatídico dia. Um camião de transporte de automóveis, conduzido por António Neves, ao avistar um pastor alemão desorientado na via-rápida, reduziu a velocidade e apitou várias vezes para evitar o animal que acabou por ser atropelado. Isto ocorreu no mesmo momento em que um automóvel procedia à ultrapassagem do camião, pelo que não conseguiu evitar a colisão com a traseira do pesado, perdendo o controlo da viatura, embatendo contra os rails de proteção da autoestrada e colidindo com outro automóvel que seguia logo atrás. Foi o início de uma cadeia de eventos que terminou muito mal mas, na altura, julgava-se que o pior já tinha passado.

- publicidade -

O subchefe dos Bombeiros Voluntários do Bombarral, João Carlos Pedro, viajava para Caldas da Rainha na sua viatura particular, quando se apercebeu do acidente que cortou completamente a circulação na autoestrada. Parou para ajudar alguns dos passageiros e dá o primeiro alerta do acidente à sua corporação que, rapidamente, avisa uma ambulância que transportava doentes para tratamento e que estava a entrar na A8. A tripulação, constituída pelos jovens bombeiros Délio Ribeiro e Marco Martinho, rapidamente chegam ao local e começam a prestar os primeiros-socorros aos acidentados. Foi neste período que surge a grande velocidade um automóvel que passou por todos os veículos que, entretanto, tinham parado à beira da estrada. Bruno Gouxa não percebeu que a estrada estava cortada e acabou por colidir com grande violência nos carros, provocando as mortes e mais feridos dos dois acidentes, entalados entre as viaturas e projetados contra as baias e separadores centrais. “Foi como se batesse contra uma parede”, testemunhou António Neves. O motorista, logo após o primeiro acidente, recuou várias dezenas de metros, a pé, para alertar os automobilistas para o corte da estrada. No local, o cenário era dantesco, com corpos sem vida e feridos no asfalto, no meio de uma amálgama de carros destruídos.

Deste acidente resultou a morte imediata dos bombarralenses Maria José Amaral Branco, empresária e mãe do ex-autarca e advogado Paulo Blanco, que viajava com o marido para as Caldas da Rainha, e ainda do ex-imigrante Adriano dos Reis Carvalho, membro da Assembleia Municipal e da Junta de Freguesia da Roliça, que ao aperceber-se do acidente entrou na autoestrada para prestar auxílio acompanhado de um amigo de São Mamede. A terceira vítima mortal foi um jovem automobilista que residia no concelho de Sesimbra. Ficaram em estado grave os três bombeiros bombarralenses e João Roque Henriques, residente em Adão Lobo, no Cadaval, que quando viajava de Óbidos, no sentido oposto, parou para auxiliar as vítimas. Foi transportado para o Hospital Distrital das Caldas da Rainha e, daqui, para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, dada a gravidade dos ferimentos. Para o Hospital Curry Cabral, também na capital, foi transferido o jovem professor torriense de 28 anos causador do acidente mortal. Entre os feridos ligeiros contaram-se António Blanco, condutor de uma das viaturas e marido da vítima mortal, e o condutor do automóvel que colidiu com o pesado e que originou o corte da estrada, que tiveram alta no mesmo dia. A A8 esteve cortada no lanço Bombarral/Norte – Óbidos durante três horas, o tempo que levou à remoção e limpeza da via, tendo o trânsito sido desviado para a EN8. Este foi um dos vários acidentes provocados pela permanência de animais que entram na autoestrada e, seguramente, um dos mais graves de sempre. No local estiveram 39 bombeiros oriundos das corporações de Bombarral, Óbidos, Caldas da Rainha e São Martinho do Porto, auxiliados por 13 viaturas. A notícia foi publicada três dias depois pela Gazeta, que, na manchete, alertava os leitores para o perigo que os automobilistas enfrentavam todos os dias nas estradas da região.

- publicidade -