
A tradição ainda vai sendo o que era… pelo menos na Benedita onde no passado fim-de-semana (dias 5 e 6 de Fevereiro) se voltou a comemorar a festa dos padroeiros da vila, Santa Maria e São Brás. Sempre de mãos dadas, as vertentes popular e religiosa da festa mostrou que as pessoas estão empenhadas em conservar a única festa religiosa que se realiza na sede da freguesia, enchendo não só as celebrações religiosas como o restaurante improvisado no Centro Comunitário e Pastoral, uma obra para a qual revertiam as receitas da festa, parte das quais obtida no peditório pela freguesia e entregue nas tradicionais fogaças.
O ponto alto da festa aconteceu ao final da manhã de domingo, depois da celebração da missa, quando as imagens de São Brás e de Nossa Senhora da Encarnação, a Nossa Senhora do Leite, saíram à rua em andores devidamente engalanados, na tradicional procissão que junta os estandartes e os santos padroeiros das várias localidades da freguesia e na qual participaram algumas centenas de pessoas. Nas janelas viam-se ainda algumas colchas, um hábito que se mantém dos tempos de outrora, embora com cada vez menos adeptos.
O que também se mantém inalterada é a bênção dos bebés que todos os anos se celebra depois da procissão. E embora a bênção seja destinada sobretudo às crianças nascidas no último ano, são muitos os pais que ali regressam com os seus filhos, ano após ano. E mais uma vez, a igreja paroquial da Benedita encheu para uma das mais concorridas celebrações religiosas dos festejos.
Pinhões voltaram a marcar presença
Celebrada invariavelmente no primeiro fim-de-semana de Fevereiro, a Festa de Santa Maria e São Brás conserva ainda hoje um hábito do qual se perdeu já a origem: a venda de pinhões, que os populares compram para oferecer aos que mais gostam. Na Praça Damasceno Campos, mesmo no centro da vila, sucedem-se as bancas de vendedoras, algumas das quais presença habitual nesta festa há largas décadas. Além dos pinhões, que vendem avulso (nas tradicionais medidas de madeira) ou em fiadas (os cordões que durante estes dias rodeiam os pescoços dos mais pequenos), trazem consigo outros frutos secos para vender: amendoins, pistácio, alperce, ameixas, entre outros.
Maria de Lurdes e Manuel Vieira vêm de Maceira-Liz há mais de meio século vender frutos secos à festa beneditense, uma ocupação herdada da mãe dela. Noutros tempos, as vendas eram bem melhores, agora são “assim-assim, é tudo muito puxado”, reconhece a vendedora. O preço dos pinhões, que vendia em medidas de seis ou doze euros, tem uma explicação: é que as pinhas e os seus frutos vendem-se bem lá fora, no mercado externo. Na sua banca o pinhão é todo nacional, vindo das zonas de Vendas Novas e Coruche.
Além da feira da Benedita, o casal é também presença habitual no mercado semanal da Nazaré e na Festa de S. Amaro, em Alfeizerão, “Mas já não é a mesma coisa, antes vendia-se lá muito pinhão, mas agora não. Aqui as pessoas ainda vão tendo o hábito de comprar para oferecer aos familiares”, diz Maria de Lurdes.
Maria Alice Filipe também vem da Maceira vende pinhões na Benedita há mais de três décadas. “Mas isto está muito fraquinho”, queixa-se a vendedora, admitindo que a tradição do pinhão vá acabar por morrer, mais tarde ou mais cedo, “porque os pinhões são caros e a malta não tem dinheiro”. Mesmo assim, diz que “ainda compensa” e garante que continuará a vir à festa “se tiver saúde”.
Além da Benedita, é presença habitual nas feiras do Cadaval e Atouguia da Baleia, na Feira de São Simão e na Feira de São Bernardo (em Alcobaça) e aos domingos está junto ao Mosteiro da Batalha. “Isto é a minha vida”, diz.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt






























