Trabalhar e estudar muito foram o segredo de Pedro Silva que já colaborou com Obama

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Pedro Silva

“Queria entrar no Instituto Superior Técnico, mas não me aceitaram, tendo acabado por ingressar no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL)”, recorda Pedro Silva, natural de São Martinho do Porto, que anos mais tarde veio a trabalhar com os conselheiros do presidente dos EUA, Barack Obama. Mas comecemos por contar a sua história do princípio.

Nos finais dos anos 70, Pedro Silva já se distinguia no liceu do Parque de Caldas da Rainha, onde fez o 12º ano, pelas suas excelentes notas. No entanto, estas não foram suficientes para ser aceite no curso de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico, pelo que o ISEL foi a sua segunda opção.

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Esta foi a primeira grande marca na vida deste jovem estudante. “Eu queria mesmo ir para o Técnico, tanto que quando entrei no ISEL conheci um professor e disse-lhe que o meu objectivo era ir para o Técnico e ele disse-me que para isso, tinha de ser ali o melhor aluno e eu percebi que então teria de ser o melhor aluno de Portugal”, conta Pedro Silva, que acredita que aquele foi o estímulo que precisava para começar a trabalhar ideias novas de estudo na área da engenharia civil.
Durante o primeiro ano do curso, Pedro Silva fez também a tropa durante o dia e era à noite que se ocupava as cadeiras do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. “Não foi fácil, mas eu sabia o que queria”, recorda hoje o professor associado de engenharia da área sísmica da Universidade George Washington.
Mas também nas histórias de sucesso, há histórias de amor que ajudam à sua concretização. E foi assim com Pedro Silva. Nas férias de Verão do primeiro ano do ensino superior, Pedro conheceu a sua actual esposa na praia de São Martinho do Porto, que apesar de portuguesa, residia e estudava na Califórnia e no ano seguinte resolveram casar.
De malas aviadas para os EUA

De malas feitas e com 23 anos, Pedro Silva mudou-se para os EUA para começar uma nova vida. “Queria continuar a estudar, mas tive de esperar mais um ano, porque na Califórnia este é o tempo necessário para esse objectivo, porque de outra forma as propinas eram muito caras”, explicou.
Os primeiros tempos não foram fáceis. “Comecei por limpar escritórios, inclusivamente as retretes, mas sabia que não era isso que queria para mim”. E essa certeza cresceu ainda mais quando numa festa de portugueses um compatriota, que morava nos EUA há 20 anos e que lhe perguntou o que fazia. Disse-lhe então que esse trabalho de limpeza era um trabalho muito bom e que ia ser bom para si.
“Aquele episódio marcou-me e eu lembro-me de pensar que não era isso que eu queria, o que me deu ainda mais força. Eu sabia que aquilo não era verdade”. Com esta ideia em mente, Pedro Silva continuou a procurar trabalho e descobriu dois anúncios num jornal que pediam arquitectos para uma empresa recente na área.
Pedro lembra que comprou inclusivamente um fato para ir à entrevista, mas que não o queriam empregar porque o seu inglês estava “um pouco fraco”. “Os trabalhos que levei para apresentar eram bons, porque eu já tinha trabalhado nessa área para a Câmara das Caldas e também na Benedita. Fazia desenhos à mão em três dimensões e depois quando estudei no ISEL desenvolvi ainda mais as minhas capacidades. A primeira casa que desenhei tinha 14 anos. Hoje esta idade corresponde para aí a uns 25 anos passados”, recorda.

Braço direito do patrão

Apesar das reticências iniciais em o empregarem, acabaram por contratá-lo. “Eles não tinham nada a perder e eu dei tudo. Logo ofereci-me para trabalhar lá sem ganhar nada e caso algo corresse mal podiam despedir-me”, conta Pedro Silva, que acabou por se tornar o braço direito do patrão. “Ele recorria sempre a mim quando era preciso fazermos trabalhos que iriam competir com os de outras empresas. Acho que era porque os meus trabalhos se diferenciavam dos outros”, diz.
Com o final da licenciatura da esposa em Biologia e a necessidade desta fazer um estágio antes de poder começar a trabalhar num hospital, Pedro Silva e a mulher mudaram-se para Long Beach, onde este continuou a trabalhar noutra companhia de arquitectura e voltou a estudar à noite disciplinas como o Inglês, Matemática e Físicas, que eram necessárias para ingressar na universidade.
As suas boas classificações levaram-no a ganhar uma bolsa de estudo com que entrou na Universidade da Califórnia de Irvine, para fazer o curso de Engenharia Civil e mais tarde o mestrado.
“Nessa universidade tive um professor que me perguntou o que é que eu queria fazer e eu disse-lhe que gostava de vir a ser professor. Então ele disse-me que para isso eu teria de trabalhar com um dos indivíduos mais conceituados na área da engenharia sísmica, Frieder Seible, o que para mim era um sonho. Acabei por ir estudar com esse professor para a Universidade da Califórnia, em San Diego, onde fiz lá o doutoramento”, conta.
Durante os cinco anos de formação para a conclusão do doutoramento, Pedro Silva fez um ensaio à escala real de pontes. “Estudei uma nova maneira de desenhar pontes, porque na Califórnia há muitos sismos e as pontes estavam a cair e a partirem-se e decidi estudar uma nova forma de as desenhar. Projecto que ainda hoje estou a desenvolver”, explica Pedro Silva.
Actualmente, Pedro dá aulas na Universidade George Washington, sedeada junto à Casa Branca, na capital americana,  na área da engenharia sísmica e faz a avaliação dos estudantes que pretendem fazer o doutoramento ou estágio no gabinete do presidente dos EUA ou dos senadores.
Quando teve lugar o tremor de terra no Haiti, Pedro Silva foi convidado por um dos conselheiros directos do presidente Obama para se reunir com todos eles, para debaterem quais as causas, riscos e problemas causados pelo terramoto.
“O presidente Barack Obama tem um grupo de oito a 10 conselheiros que se reuniam todas as segundas-feiras com ele para o aconselharem sobre os passos que deviam ser dados depois do tremor de terra, quais as doenças que estavam a surgir, etc. Mas esses conselheiros são também aconselhados por outro grupo de pessoas, para o qual eu fui convidado”, explica o professor da área sísmica.
Pedro Silva está actualmente a trabalhar em conjunto com o professor Joaquim Barros, da Universidade do Minho, num projecto em que se pretende estudar a forma como o corpo humano consegue equilibrar a temperatura para transferir alguma dessa ciência para a construção de casas. “Quando estamos numa sala quente, provavelmente não precisaríamos de estar a essa temperatura, porque os materiais e a forma de construção são arcaicos”, explica Pedro Silva, adiantando que, “pretendemos também fazer casas que não consumam energia, onde é possível aquecer água e não tenham esgotos, por exemplo. Se conseguimos evoluir tanto nos últimos anos ao nível da informação e das tecnologias, algo de errado se passa com a construção das habitações. Talvez o problema esteja no ensino e na forma como ensinamos os nossos alunos”, diz.
Embora admita que este é um projecto ambicioso, Pedro Silva lembra que muitas vezes nestes projectos o importante são os pormenores que se encontram pelo caminho. O professor recorda que “isto é como nos anos 60 em que conseguiu levar o homem à Lua, é quase a mesma coisa. Nem sempre é preciso fazermos tudo o que ambicionamos. Há materiais e técnicas que conseguimos trazer da ida do homem à Lua, como os fechos de velcro, algumas tintas, canetas, e outras coisas, que se desenvolveram a partir daí”, diz Pedro Silva.
A viver a 36Km da Universidade onde dá aulas, o professor vai diariamente para a escola de bicicleta. “É como de Tornada às Caldas. Lá muitas pessoas deslocam-se neste meio, desde doutores a carpinteiros”, diz Pedro Silva, que garante que é durante estas viagens que mantém a sua sanidade mental e onde resolve muitos problemas e tem muitas das suas ideias para novos projectos.
Pedro Silva, com 49 anos, não considera a hipótese de regressar definitivamente a Portugal. Aliás, quando lhe perguntamos o que tanto o fascina nos EUA, explica que “os meus pais passaram muitas horas a alimentar-me, a cuidar de mim, foi preciso muito trabalho. É como apanhar uma maçã. Primeiro temos de plantar, regar, cortar a árvore e só depois quando as maçãs estão prontas para comer é que se podem apanhar. E nos EUA é assim, tiram as maçãs da árvore, isto é, indivíduos como eu, quando estes estão prontos. Têm a grande riqueza de aproveitar a matéria-prima e de a fazer florescer”.

Ana Elisa Sousa

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