“Trabalhamos muito na prevenção para não ter de fazer salvamentos”

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Nero Sena

Nero Sena tem 29 anos e é empresário nocturno em Rio Maior. Mas durante o Verão abraça a profissão de nadador-salvador e desforra-se das noites que passa no seu bar o resto do ano sem apanhar sol.

O também proprietário do “Nova Fonte Velha” Nero Sena tirou o curso de nadador-salvador há três anos, nas piscinas municipais de Rio Maior, e desde o Verão passado que trabalha na Praia D’El Rei.

Em 2008 não chegou a pôr em prática o curso por falta de tempo, mas foi convidado o ano passado para trabalhar na praia concessionada pelo Béltico – Empreendimentos Turísticos, SA, e que é frequentada principalmente por turistas estrangeiros.

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Ao contrário do que acontece noutras praias, onde os nadadores-salvadores também montam e desmontam barracas, Nero Sena apenas tem que fazer prevenção e salvamento.

Apesar de o mar ser perigoso (a bandeira estava vermelha na passada terça-feira, como acontece muitas vezes), Nero Sena ainda não teve que fazer nenhum salvamento este ano. A única tragédia foi a morte, por razões naturais, de um idoso, em Junho. Os nadadores-salvadores encontraram o homem já sem vida ao final do dia.

A Praia D’El Rei vai ter vigilância até 30 de Setembro.

GAZETA DAS CALDAS: O que o que levou a querer ser nadador-salvador?

NERO SENA: Como faço surf e sempre tive muito contacto com o mar e a praia, decidi tirar o curso para aprender mais. Depois tive um convite para trabalhar nesta praia.

G.C.: Onde é que tirou o curso?

N.S.: Eu tirei o curso nas piscinas de Rio Maior com o João Bilhau e este ano vou ter de renovar para poder trabalhar no próximo verão.

G.C.: Consegue conciliar o trabalho no seu bar e aqui na praia?

N.S.: Tenho pessoas que ajudam no bar e por isso só vou lá algumas horas ver se está tudo bem. Durante o dia, das 10h00 às 20h00, estou aqui na praia.

 

G.C.: Vem todos os dias de Rio Maior?

N.S.: Não, às vezes fico em casa de amigos.

G.C.: Que tipo de pessoas vêm a esta praia?

N.S.: Principalmente turistas estrangeiros. Ingleses, espanhóis e russos, que têm casas no resort ou que alugam casas.

Depois também há algumas pessoas que fogem das enchentes do Baleal e vêm para aqui. Aqui o areal é maior.

G.C.: O mar aqui é perigoso?

N.S.: A zona de banho vai sendo mudada de lugar, conforme o mar. Hoje colocámos uma zona de banho mais para sul, mas depois acabámos por ter que colocar a bandeira vermelha.

Todos os dias a areia muda, os fundos mudam e é sempre uma surpresa, cada dia que chegamos. É um mar muito agitado. É bom para o surf.

G.C.: Quais são os meios que têm ao dispor?

N.S.: Nós aqui temos uma prancha de salvamento, a bóia circular, a bóia torpedo, o cinto, pés de pato, o carretel, a vara e o apito, que é o que mais utilizamos.

Este ano não foi atribuída a esta praia a moto 4×4, como houve no Verão passado. Era uma mais-valia e faz falta porque temos uma costa muito grande, desde o Bom Sucesso ao Baleal.

G.C.: Quantos nadadores-salvadores estão ao serviço nesta praia?

N.S.: Somos sempre dois, às vezes três, quando há mais afluência de pessoas.

G.C: As pessoas costumam respeitar as vossas indicações?

N.S.: Sim.

G.C.: Mais os portugueses ou os estrangeiros?

N.S.: Todos. Às vezes é um bocado difícil, mas acabam por respeitar as nossas indicações porque sente-se o perigo que há neste mar.

G.C.: E costumam ser mais os adultos ou as crianças a arriscarem mais?

N.S.: É igual. Crianças, adultos, jovens ou idosos… Basta uma pequena distracção de qualquer pessoa para que possa acontecer algo.

G.C.: É fácil lidar com os turistas estrangeiros?

N.S.: Sim. Por vezes falam línguas mais difíceis, como o russo, mas depois falamos a linguagem gestual que é universal.

G.C.: Já teve que fazer algum salvamento este ano?

N.S.: Não, este ano ainda não tivemos que fazer nenhuma intervenção.

Trabalhamos muito na prevenção. Já conhecemos as condições do mar e prevemos o que vai acontecer se a pessoa se mantiver no local ou entrar mais para dentro de água.

G.C.: E o ano passado?

N.S.: Fizemos alguns salvamentos, mas nunca nada de grave. Estamos sempre em cima do acontecimento para evitar acidentes. A prevenção é o segredo do salvamento.

G.C.: É um trabalho ser nadador-salvador?

N.S.: É um trabalho de muita responsabilidade. Às vezes há amigos que vêm aqui e dizem que tenho um bom emprego, mas todos os dias aqui a olhar para o mar, a apanhar sol e a falar com pessoas muito diferentes, também se torna cansativo.

G.C.: Para alguém que trabalha à noite, não será também uma boa terapia?

N.S.: É isso que também me dá prazer. Trabalhar só de noite torna-se difícil, uma pessoa envelhece. De dia temos a energia do sol e ficamos com mais saúde. Faz-se desporto. Todos os dias fazemos uma corridinha antes de começar.

G.C.: Costumam entrar na água para ver as condições do mar?

N.S.: Sim, claro. Às vezes também vimos mais cedo para fazer um bocado de surf e também costumamos ficar até mais tarde. Para aproveitar e fazer exercício.

 

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