Trabalhadores da cerâmica evocados em monumento

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Antigos trabalhadores do setor e membros do executivo da Junta de Freguesia

Dezenas de pessoas acompanharam a cerimónia. Estrutura tem uma antiga fábrica como pano de fundo

No final da tarde da passada sexta-feira, 1 de julho, foi inaugurado o monumento aos trabalhadores da cerâmica na Serra D’El-Rei, localidade onde esta atividade teve um importante papel no desenvolvimento económico e social.
Localizado a cerca de 100 metros da cerâmica Vale Cavalos, na Rua 4 de Agosto, num espaço verde onde existiu uma eira, que era utilizada para secar as lastras de barro quando o tijolo era feito de forma artesanal, o monumento foi construído com um fumeiro e integra as telhas e tijolos, além de tijolo partido no chão. Ao fundo, na paisagem, surge a antiga fábrica, hoje abandonada, mas com a chaminé ainda imponente no horizonte.
Jorge Amador, presidente da Junta da Serra D’El-Rei, referiu não foi fácil cumprir este desígnio de homenagear os trabalhadores da cerâmica, até porque não existia muita informação relativa a esta atividade. Ainda assim, o autarca conseguiu apurar que, no auge da produção, no final do milénio passado, produzia-se diariamente nesta freguesia um total de 375 toneladas de tijolo, sublinhando que esta homenagem se estende também a todos os antigos trabalhadores já falecidos.
O próximo setor a ser homenageado será o da carpintaria. “A Serra D’El-Rei é uma terra de excelentes carpinteiros e esse será um projeto a desenvolver”, afirmou Jorge Amador.
A inauguração do monumento, que contou com a atuação da Banda Filarmónica “A Serrana”, sob a batuta do novo maestro Gonçalo Sousa, integrava o programa das comemorações do 19º aniversário da elevação da Serra D’El-Rei à condição de vila.
No final da inauguração foram entregues diplomas aos antigos trabalhadores deste setor e aos familiares.

Memórias dos trabalhadores
Quem não faltou à homenagem foi Joaquim Casimiro, mais conhecido como “Gato”. Com 89 primaveras, este serrano começou a trabalhar na fábrica com pouco mais de 20 anos.
“O meu primeiro trabalho na fábrica foi cavar barro e carregar, à pá, ganhava 18 escudos por dia”, recorda. Com o passar do tempo foi subindo de posto na fábrica, a carregar telha e tijolo, a escolher e, depois, a forneiro. Trabalhou na fábrica até 1966, até ter emigrado para França. Quando regressou, há 19 anos, já a fábrica estava encerrada.
“Primeiro o barro era amassado a pé, para fazer telha de canudo e barro e tijolo, depois passou para um cilindro puxado por uma vaca”, lembra. Ao princípio, há cerca de 80 anos, a fábrica era uma coisa pequena e depois foi crescendo.
Quem também ali trabalhou na década de 1950 foi João Sousa, também ele serrano de gema. “Quando saímos da escola, no final da 4ª classe, com uns 11 anos, o Zé Marujo, que é meu primo, foi na bicicleta do encarregado buscar-nos a casa, a mim e ao meu irmão e viemos os três na bicicleta para começarmos a trabalhar”, contou. Mais tarde viria a trabalhar na Cerâmica Rosário.
Ambos se recordam da dinâmica que existia naquela época, com muitos funcionários a trabalhar e com grandes produções. Era comum ver grandes cargas de tijolos nos terrenos próximos das fábricas, à espera de serem levadas pelos camiões. E viram a evolução imposta pela mecanização. No caso de João Sousa, foi vendo o definhar das fábricas até ao estado em que se encontram hoje, abandonadas e sem vida. Mas com história para evocar. ■

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