Torres Vedras vai ter campus da Faculdade de Medicina de Lisboa

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Laura Antunes, presidente da Câmara de Torres Vedras, com João Fonseca e Joaquim Ferreira, da FMUL

Estrutura vai ter USF Académica que vai dar resposta a 9 mil utentes sem médico de família e vai desenvolver investigação em saúde

A Câmara de Torres Vedras e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa apresentaram no passado dia 7 de dezembro o Medicina UL – Campus de Torres Vedras, que vai nascer no antigo Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior, no Barro. A estrutura nasce em torno de uma Unidade de Saúde Familiar Académica, que irá servir cerca de 9 mil utentes do concelho que, atualmente, não têm médico de família, mas será, sobretudo, um novo polo de formação de médicos e de investigação em diversas áreas da medicina.
O novo Campus de Torres Vedras da FMUL vai entrar na fase de implementação, numa intervenção faseada que vai demorar cerca de cinco anos a ser concluída. O projeto prevê a ocupação total do antigo sanatório, que foi desativado em 2015, com três polos distintos.
Ainda em 2024 deverá entrar em funcionamento o primeiro, o Polo de Cuidados de Saúde. Centrado numa USF Académica integrada no Serviço Nacional de Saúde, terá ainda a Unidade de Saúde Pública e uma Unidade Interdisciplinar, direcionada a doenças crónicas. A USF Académica, na qual estarão médicos docentes e em formação, irá suprir as necessidades de cerca de 9 mil utentes sem médico de família no concelho, mas terá, quando o projeto estiver em velocidade de cruzeiro, capacidade para servir até 17 mil utentes, adiantou Joaquim Ferreira, diretor do Campus.
O Polo Académico, para formação de médicos pré e pós-graduados, terá um Centro de Investigação Clínica, onde serão conduzidos estudos observacionais e clínicos, e um Centro de Investigação de Tecnologias Aplicadas à Saúde, onde investigadores das áreas da saúde e das tecnologias podem desenvolver investigação e construir protótipos.
O Campus de Torres Vedras terá, ainda, um Polo de Medicina Humanitária, de Emergência e de Catástrofes, que funcionará numa parceria entre a FMUL e a Harvard Medical School para capacitar profissionais nestas áreas da prestação de cuidados de saúde.
O espaço, que tem 25,9 mil metros quadrados de área bruta e mais de 13 mil metros de área de construção, vai ainda ter uma área de residências académicas.
Joaquim Ferreira, que deixou a presidência do Conselho Pedagógico da FMUL para liderar este projeto, realçou que este pretende dar resposta às mudanças que estão a surgir no modelo de prestação de cuidados de saúde. “Queremos treinar profissionais para esse novo modelo, antecipá-lo”, salientou, acrescentando que isso passará pela interligação de tratamentos com atividade física, estimulação cognitiva e também a utilização de tecnologia. Áreas sobre as quais a nova estrutura da FMUL irá desenvolver pesquisa.
Laura Rodrigues, presidente da Câmara de Torres Vedras saudou a concretização do protocolo com a FMUL, que vai permitir ao concelho passar a ter ensino superior público. “É algo muito importante, que tentamos há algum tempo. Faz muita diferença em relação à população que existe, vai atrair população mais jovem, e traz massa crítica, trabalho com professores, investigadores, o que ajuda a transformar as cidades”, sublinhou.
A autarca acredita, ainda, “que o território ganhe notoriedade por ter um campus inovador desta natureza, que vai permitir albergar investigadores estrangeiros e de outras zonas”, o que poderá trazer, igualmente, ganhos para a economia do concelho.
Laura Antunes não esqueceu o papel fundamental do seu antecessor, Carlos Bernardes, que em 2019 lançou o desafio à FMUL. “Foi ele o visionário”, sublinhou.
A criação de um campus da Faculdade de Medicina em Torres Vedras é, para a presidente da Câmara, a correção da “falta de visão” que o território teve no século XVI, quando se colocou a hipótese de a universidade de Lisboa ser para ali deslocalizada.
“Fomos castigados por não querermos a universidade no nosso território, no reinado de D. João III. A universidade andou muitos anos a pular de Coimbra para Lisboa, na altura da peste negra, e D. João III achou que seria interessante a faculdade ir para um local sossegado, onde os ares eram melhores, e foi proposta a Torres Vedras”, contou Laura Antunes. A autarca disse que a posição da população foi, na altura, contrária porque traria desassossego e os vereadores de então escreveram uma carta ao rei a dizer que não queriam a universidade no seu território. “É uma oportunidade que queremos recuperar com esta ligação à universidade pública”, afirmou.
João Fonseca, diretor da FMUL, salientou a oportunidade de poder alargar as áreas de intervenção da faculdade com o novo campus, que vai permitir à faculdade “modificar o ensino da medicina”. ■

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