Thomas Oschwald é um professor de ensino primário na Suíça, mas é também um aventureiro que gosta de viajar a pé ou de autocaravana. Desta vez fez 4000 quilómetros a pé, a carregar um carrinho de mão onde trazia, entre outros pertences, uma prancha de surf. Saiu de Lucerna, na Suíça em direcção ao Oeste de Portugal e três meses depois cá estava ele a surfar as ondas das praias oestinas.
Thomas Oschwald é um suíço de 39 anos que era webdesigner e fotógrafo, tendo mudado a sua vida e começado a dar aulas há cerca de um ano. “Queria ter mais liberdade, tinha a minha empresa, mas sentia-me prisioneiro e este trabalho permite ter mais aventuras”, explicou.
Hoje contamos uma delas. Thomas nasceu na Suíça, onde não há mar e onde apenas se pode surfar em rios e lagos, em ondas criadas pelos barcos, ou em ondas artificiais.
“Go West: How Far Would You Go To Surf a Wave” é o nome da expedição que trouxe Thomas em busca da onda perfeita, mas mais do que isso, da história da viagem até à onda. “Quis desafiar-me física e psicologicamente”, contou.
Em meados de Setembro saiu de Lucerna com um carrinho de mão onde tinha roupa, comida, uma tenda, uma prancha de surf e stand up paddle, um skate e outros bens essenciais.
Nos primeiros quilómetros o carrinho foi puxado pelos seus alunos na Suíça, que foram dar força ao professor. Thomas seguiu em direcção ao Norte, entrando na Alemanha e virando para a França, andando e puxando o carrinho pelas margens do rio Loire até à costa de Saint Nazaire. Aí chegado, tinha andado mil quilómetros a puxar o carro de mão, sem surfar uma única onda.
Foi na costa francesa que levou a prancha à água pela primeira vez. Daí foi descendo em direcção a Espanha, sempre pela costa, fez o Norte de Espanha, passou por Bilbau e desviou para Santiago de Compostela.
Dormia numa tenda, em campismo selvagem, e uma vez por semana num hostel ou parque de campismo para lavar as roupas e dormir mais confortável.
De Santiago continuou para Vigo, e entrou em Portugal em Caminha. Em terras lusas, desceu sempre pela costa, viu o pôr-do-sol nas areias da Foz do Arelho e depois seguiu até ao Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa continental, e surfou e fez stand up paddle em Peniche. Andou cerca de 50 quilómetros por dia e diz que gastou tanto dinheiro quanto gastaria se tivesse ficado na sua casa na Suíça. Ao todo, foram 2000 euros, incluindo o hotel onde ficou alojado em Peniche. Regressou a casa na passada terça-feira, de carro, com a namorada que o veio “resgatar” a Portugal.
Foi em Peniche que Thomas Oschwald falou à Gazeta das Caldas. “Foi muito divertido. A forma como viajo não é normal e muita gente perguntava, por exemplo, o que andava ali a fazer com uma prancha longe das ondas. Andar permite entrar quase num estado de meditação, até porque durante vários quilómetros não se contacta com outras pessoas e não se fala com ninguém. É uma óptima forma de viajar, porque és lento e isso é importante, a bicicleta já é muito rápida”, referiu.
Acresce que “o bom de andar a pé, além de permitir apreciar tudo, é que dá a liberdade para escolher os caminhos”. Por exemplo, inicialmente não tinha previsto ir a Santiago de Compostela, mas como fez grande parte do Caminho do Norte decidiu fazer esse desvio. “Não sou um peregrino religioso, mas sou um peregrino do surf e pensei que era uma boa ideia”, afirmou.
Por outro lado, andar a pé também tem os seus dissabores. Por exemplo, chegar a um sítio para surfar e não haver ondas. “Aí é frustrante não teres carro para andar dez quilómetros e encontrar ondas”, fez notar.
Thomas tinha previsto demorar entre três a cinco meses e foi o facto de trazer o skate que lhe permitiu encurtar o tempo pois sempre “dava para relaxar as pernas”.
Um pormenor curioso: Thomas tinha sido avisado para os maus comportamentos dos condutores portugueses, mas chegou a Peniche sem queixas. “Todos os condutores foram super amigáveis comigo”, referiu.
Pelo caminho conheceu muita gente, mas nem sempre é fácil, porque não fala português e muito pouco francês. Essa é uma das melhorias a fazer na próxima expedição: aprender primeiro a língua do país de destino “para perceber as pessoas e também para contar a minha história”.
Um dos episódios caricatos que passou em Portugal foi quando ele e a namorada se viram a falar com um casal de idosos e não conseguiam perceber. “Dizíamos que não entendíamos, mas eles continuavam a falar, sempre muito afáveis e acolhedores”, disse, entre risos.
Entre as pessoas que conheceu refere um jornalista alemão que ia até à costa francesa de bicicleta. “Ele parava para apreciar os sítios, mas eu continuava sempre a andar, pelo que nos encontrámos mais que uma vez pelo caminho”, contou Thomas Oschwald, que foi o autor das fotografias publicadas nesta reportagem.
Era inevitável perguntar a alguém que andou 4000 quilómetros para surfar as ondas oestinas como tinha sido a sensação. “Peniche é perfeito porque tem muitos sítios com ondas diferentes e se não houver de um lado, há do outro. Gostei muito das ondas e tanto em Portugal como em Espanha há falésias e pequenas praias, ao contrário da costa francesa em que são grandes praias”, descreveu.
Thomas já tinha estado em Portugal numa autocaravana e pretende voltar na Primavera. “Agora conheço mais sítios onde quero voltar. No caminho para o Cabo da Roca só pensava em continuar a andar. Tinha o sonho de dar a volta ao mundo, agora tenho a certeza de que vou ser capaz”, disse.































