As fortes rajadas de vento que se fizeram sentir na noite de sexta-feira (dia 18 de Janeiro) e no sábado de manhã provocaram inúmeros prejuízos, sendo de destacar a destruição da cobertura da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro (que obrigou a fechar a escola durante três dias) e de estufas dos produtores horto-frutículas na região que perderam parte das suas colheitas.
Centenas de árvores tombadas, outdoors que voaram, telhados danificados (alguns de superfícies comerciais), inundações, andaimes destruídos e equipamentos eléctricos e de telecomunicações avariados, juntam-se à lista de prejuízos provocados por um fenómeno meteorológico invulgar que os técnicos designam por “ciclogénese explosiva”. As rajadas de vento atingiram os 140 Km/hora no Cabo Carvoeiro e os 120 Km/hora nas Caldas da Rainha, mas um dos motivos que fez aumentar os danos materiais foi a duração da intempérie pois o vento soprou forte durante cerca de 20 horas.
Devido à queda de árvores, em pelo menos dez pontos da via, a linha do Oeste esteve encerrada entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz durante dois dias, sem que a CP assegurasse qualquer transbordo ou serviço alternativo.
Escola danificada e estufas destruídas nas Caldas da Rainha
Nas Caldas da Rainha os maiores prejuízos provocados pelo temporal aconteceram na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, cujo cobertura voou com o vento, deixando o principal bloco daquele estabelecimento de ensino à mercê das águas da chuva, o que provocou infiltrações nas salas de aula e destruição de equipamentos eléctricos e informáticos.
Só o facto de o temporal ter ocorrido num sábado, poderá ter evitado que pudesse ter havido vítimas na escola, uma vez que a cobertura, de grande dimensão, caiu sobre uma parte do recinto escolar, tendo dezenas de pedaços de chapa e placas de fibra de vidro sido projectadas em muitos metros em redor.
Os 970 alunos e cerca de 150 docentes estiveram sem aulas entre segunda e quarta-feira, estando previsto, à hora de fecho desta edição, que a escola reabrisse ontem, quinta-feira.
Fonte oficial da Parque Escolar disse que “ainda durante o fim-de-semana foi accionado um plano de emergência para levantamento dos destroços, identificação dos danos e recuperação da estrutura, visando a rápida reposição da normalidade”.
Embora a cobertura que caiu tivesse sido sujeita a rajadas superiores a 100 Km/hora, causou alguma perplexidade a fragilidade dos parafusos que a seguravam ao tecto do edifício.
A Bordalo Pinheiro foi alvo de obras de requalificação num investimento superior a 10 milhões de euros. A parte que foi destruída pelo vento tinha pouco mais de um ano.
Também a Escola Secundária Raul Proença foi afectada pelo temporal que danificou uma boa parte da cobertura do pavilhão gimnodesportivo.
A cobertura do Pavilhão Gimnodesportivo da EBI de Santa Catarina também não resistiu ao vento. “Estamos a aguardar que a Direcção Regional de Educação reponha a cobertura e as aulas estão a decorrer, mas não há actividades no pavilhão”, disse o presidente da Junta de Freguesia de Santa Catarina, Rui Rocha, à hora de fecho desta edição da Gazeta das Caldas.
No Parque D. Carlos I é ainda visível, vários dias depois, o rasto da intempérie, que fez tombar várias árvores.
Além das estufas de vários produtores agrícolas da região, também as do Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor (CEERDL) não resistiram ao temporal. “Nesta produção 40% da cobertura das estufas está perdida e 33% da cultura não é recuperável”, informou a directora da instituição, Maria João Domingos, acrescentando que também tiveram prejuízos em equipamentos diversos incluindo os de rega.
O CEERDL tem feito um importante investimento na habilitação sócio-profissional e emprego para pessoas com deficiência em actividade de floricultura. Esta estrutura florícola de dois hectares, agora parcialmente destruída, produz coroa imperial para revendedores nacionais e superfícies comerciais.
O presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Fernando Costa, estima que os prejuízos no concelho rondem os 3 milhões de euros. “Foi duro, principalmente nas estufas e nas escolas”, diz o autarca salientando ainda que “muitas árvores, muitos sinais de trânsito e muitos painéis publicitários não resistiram ao temporal”.
Ao final do dia da passada terça-feira, mais de 72 horas após a intempérie, havia ainda duas localidades da freguesia de Santa Catarina sem luz eléctrica: Granja Nova e Casal da Cruz.
Prejuízos de 400 mil euros na agricultura em Óbidos
No concelho de Óbidos os prejuízos estimados nas explorações agrícolas rondam os 400 mil euros, sobretudo em estruturas de estufas e plásticos e à perda de colheitas, especialmente nas freguesias do Olho Marinho e Gaeiras.
A Câmara de Óbidos reuniu na passada segunda-feira com 18 produtores, que tiveram prejuízos avultados, mas admite que hajam mais perdas no concelho. Dessa reunião saiu um documento que foi enviado para a Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo, onde são apresentados os danos e os prejudicados, e é solicitada a declaração do estado de calamidade pública, por parte do governo, que permitirá aceder ao PRODER, nomeadamente à medida de reposição da capacidade produtiva, que apoia em 75% o valor dos danos resultantes da intempérie.
Os produtores aguardam agora a visita de equipas do Ministério da Agricultura ao terreno a fim de identificar os prejuízos.
No passado fim-de-semana registaram-se em Óbidos 50 ocorrências, referentes a quedas de estruturas e de árvores, tendo algumas delas cortado a circulação automóvel, como foi o caso da EN115 na Zona Industrial de Óbidos. No terreno estiveram 104 bombeiros e 26 viaturas, que foram apoiados por 17 funcionários da autarquia, com sete viaturas e duas máquinas pesadas.
Quinze famílias desalojadas em Peniche
Em Peniche, o temporal deixou desalojadas 15 famílias de etnia cigana que residiam em barracas. Na noite de terça-feira, e de acordo com informação da Câmara Municipal, apenas quatro famílias permaneciam nas instalações temporariamente cedidas pelo Município. “As restantes já reconstruíram os seus espaços e regressaram ao acampamento”, explicou a autarquia.
Na zona da Ribafria há registo de dez estufas destruídas. O vento fez ainda estragos nos telhados de várias empresas e espaços comerciais, na cobertura da Igreja de São Pedro, em casas de particulares e nos armazéns da Câmara e dos Serviços Municipalizados. O presidente da autarquia, António José Correia, lamenta ainda a destruição de “muitos pinheiros no pinhal municipal”.
Os Bombeiros de Peniche acorreram a 75 ocorrências, 51 das quais relacionadas com danos em imóveis e quedas de estruturas. Na terça-feira ocorreu a derrocada parcial de uma habitação devoluta e trabalhava-se já na reposição de sinais de trânsito que ficaram destruídos e no levantamento das árvores em risco de queda, no pinhal municipal, sobretudo nas mais próximas das vias de comunicação.
António José Correia diz que a autarquia está “a acompanhar os agricultores afectados pela intempérie”.
Duas famílias desalojadas em Alcobaça
O concelho de Alcobaça foi um dos mais afectados pela intempérie, que deixou duas famílias desalojadas no concelho, em São Martinho do Porto e na Burinhosa. Na noite de segunda-feira as duas famílias tinham já regressado a casa.
O presidente da Câmara, Paulo Inácio, apontou “inúmeras quedas de árvores” que obrigaram ao corte de várias estradas. Na zona da Fervença a Estrada Nacional 8-5 esteve cortada durante todo o dia de sábado. O mesmo aconteceu, ainda que durante menos tempo, no IC2.
Quanto a estruturas, os maiores estragos verificaram-se nas coberturas do Hospital de Alcobaça, no Mercado da Benedita, na Associação do Acipreste, no Grupo Desportivo Concha Azul, na Igreja da Cela, “em diversos cemitérios”, referiu o autarca, sem conseguir apontar um valor para os prejuízos no concelho.
Em São Martinho do Porto, cuja barra estava ainda encerrada à hora de fecho desta edição, a maior preocupação foi com as embarcações que estavam na baía e que acabaram por ser rebocadas para o areal na madrugada de sábado.
O presidente da Câmara referiu ainda as “roulottes completamente destruídas” no parque de campismo local. “Testemunhei em Vale Paraíso um pinheiro enorme que só por milagre não destruiu uma casa” acrescentou.
Passado o temporal, as atenções viraram-se para a reposição da luz eléctrica e do abastecimento de águas, que só na segunda-feira ficou garantido em todo o concelho. Em alguns dos locais, como na Benedita, o abastecimento foi garantido com recurso a geradores e à intervenção dos Bombeiros Voluntários.
Quanto à luz, Paulo Inácio reconhece que a EDP teve que enfrentar “enormes dificuldades”, não só devido ao grande número de infra-estruturas afectadas, mas também à falha na rede de telemóvel que os colaboradores da empresa usam para comunicar entre si, e que não funcionou durante todo o dia de sábado, pelo que “a comunicação com os funcionários foi caótica”. No início da semana ainda havia localidades sem luz, nomeadamente nas freguesias de Montes e Alpedriz e em alguns pontos do Vimeiro. Outra prioridade é a reposição dos muitos sinais que foram arrancados pelo vento.
O presidente lamenta ainda uma morte que, de forma indirecta, está relacionada com o temporal de sábado. Na localidade de Silval, freguesia de Turquel, um homem de 72 anos morreu depois de cair de umas escadas enquanto reparava o telhado da garagem no domingo, dia 20. Aguardava-se o resultado da autópsia para definir as causas da morte.
C.C. / J.F. / N.N. / P.A. / F.F.
Ondas de 19 metros na Nazaré
Na Nazaré, a fúria do vento, à qual se juntou a força das ondas, deixou um verdadeiro rasto de destruição na Avenida Marginal, que ficou debaixo de um enorme manto de areia. Os maiores estragos verificaram-se no molhe norte do Porto de Abrigo, deixando em risco iminente a queda do farolim. Por isso a Câmara da Nazaré já solicitou às autoridades competentes a sua reparação urgente “para garantir a segurança da navegação”, de acordo com o documento saído da reunião do executivo camarário da passada segunda-feira.
Nas lojas e edifícios da Marginal, bem como na Praça Sousa Oliveira, os prejuízos também são avultados.
Foi na Nazaré que o Instituto Hidrográfico verificou o valor máximo de altura de ondas no dia 19 de Janeiro. A bóia oceânica ao largo da Nazaré registou ondas de 19,4 metros e rajadas de vento de 107 quilómetros por hora, o que de acordo com o Instituto Hidrográfico se trata de “valores característicos de tempestades severas”.
Numa declaração assinada pelo presidente do executivo, Jorge Barroso, a autarquia solicita que “caso haja uma linha de apoio governamental para a recuperação e reparação dos estragos provocados por esta intempérie, que os empresários do concelho da Nazaré sejam incluídos, bem como todos os prejudicados, que possam beneficiar de algum apoio”. O executivo camarário aprovou ainda um voto de solidariedade com todos os que “tiveram um papel determinante na minimização de estragos e no apoio à população”.
Na passada terça-feira a Nazaré mantinha-se em alerta vermelho, o mais grave numa escala de quatro, devido à previsão de condições climatéricas adversas, nomeadamente ventos fortes associados a fortes marés no resto da semana. Num comunicado da protecção civil municipal, admitia-se que, “por precaução e salvaguarda de pessoas e bens”, a circulação automóvel poderia ser interrompida nalgumas ruas da vila, sobretudo na marginal. Era ainda aconselhado que as pessoas se mantivessem afastadas das zonas de maior risco.
“Parecia que um cilindro estava a calcar aquilo tudo”
Não foi aquela situação de chegar lá de manhã e ver tudo destruído. Não. Na manhã de sábado só duas ou três estufas tinham voado e Sérgio Constantino, proprietário da Frutas Classe, na Serra do Bouro, até ficou um bocado aliviado porque temia o pior depois da noite de vendaval.
O pior foi que entre as 8h30 e as 13h00 as rajadas aumentaram de intensidade e o empresário acabaria por assistir, desesperado, à destruição das suas plantações de morangos – dez hectares de terreno plantados com morangos, cujos túneis de plástico e ferro foram arrasados pelo temporal.
“Parecia que um cilindro estava a calcar aquilo tudo”, contou Sérgio Constantino que assistiu a tudo dentro do seu carro, que abanava com a intensidade do vento.
Os prejuízos calcula-os em um milhão de euros. Diz que entre morangos perdidos e equipamentos destruídos (incluindo sistemas de rega e de electricidade), são cerca de 10 euros de prejuízos por metro quadrado. Como ficou sem dez hectares de área coberta, a coisa ascende a um milhão de euros.
A colheita ficou comprometida porque, sem a cobertura de plástico, os morangos ficaram expostos à chuva e ao frio e estragaram-se. Sérgio Constantino, que com o seu irmão Vítor Constantino, gerem a Frutas Classe, diz que espera obter do governo subsídios para colmatar estas perdas, uma vez que não encontra nenhuma companhia de seguros que queira segurar esta actividade. “Ainda este ano tentei, inclusive na Caixa Geral de Depósitos que também tem seguros, e dizem que não têm seguros ou então nem respondem”, conta.
A resposta das autoridades foi “rápida e eficaz”. No sábado esteve na sua plantação o delegado local do Ministério da Agricultura, no domingo foi visitado pelo director regional de Lisboa e Vale do Tejo e na segunda-feira, logo de manhã, estava uma brigada de técnicos da direcção regional para fazer um levantamento dos estragos.
A Frutas Classe tem uma área de cultivo de 20 hectares, 10 dos quais cobertos. No ano passado produziu 800 toneladas de morangos, equivalente a uma facturação de 4,3 milhões de euros. Cerca de 30% das vendas são para a exportação, sobretudo França e Holanda, e o restante é escoado para as grandes superfícies portuguesas, das quais Sérgio Constantino diz não ter razão de queixa.
O empresário contava produzir este ano 1200 toneladas, meta que ficou comprometida depois deste desaire.
Natural da Vigia (Santa Catarina), este empresário agrícola apostou na produção de morangos na Serra do Bouro porque os terrenos, arenosos, têm condições ideais para este cultivo. Daí os projectos de expansão num negócio que, embora trabalhoso, é rentável.
“Isto aqui tem capacidade para, com mais uns hectares cultivados, acabar com o desemprego no concelho das Caldas da Rainha”, diz, apontando os terrenos à volta.
Nos períodos de menos actividade trabalham nestas estufas cerca de 80 pessoas, um número que chega aos 150 nos picos de trabalho.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt
Plantações de morangos com mais prejuízos
Se Caldas da Rainha tem na Serra do Bouro uma das maiores explorações de morangos do país, é no Ameal (Torres Vedras) que se concentram grande parte dos produtores deste fruto na região Oeste.
Nesta freguesia quatro empresas são responsáveis por 60 hectares de plantações de morangos, grande parte deles cobertos com estufas, que não resistiram aos ventos fortes do fim-de-semana passado.
“O problema é que foram 20 horas de vento e com rajadas muito fortes”, diz Luís Ricardo, 33 anos, cuja empresa, a Morangoeste, explora 20 hectares de terreno. Por comparação com o temporal que em 2009 assolou a região, o de sábado passado não foi tão forte, mas durou mais tempo e as estufas não resistiram a tantas horas de intempérie.
“Ainda hoje de manhã andei cá com 27 homens a tentar segurar alguma coisa, mas ficamos todos encharcados. Não se consegue trabalhar assim e ao almoço mandei todos para casa”, conta o empresário agrícola ao director regional.
Ao lado estão mais cinco produtores que irão conduzir o director regional de Agricultura de Lisboa e Vale do Tejo, Nuno Russo, por caminhos enlameados para lhes mostrar as suas explorações. A chuva fustiga a pequena comitiva que se faz deslocar em carrinhas e viaturas todo o terreno. Luís Ricardo explica que não tem alternativa a não ser meter mãos à obra e reconstruir tudo. Só produz morangos. Entre 600 a 900 toneladas por ano, grande parte delas para a exportação. Espanha e França são a alternativa às grandes superfícies nacionais, das quais diz que foge devido aos preços e prazos de pagamento por estas praticados.
Estes produtores (Luís Ricardo, Luís Rodrigues, Artur Correia e José Rodrigo Serra) dizem que os prejuízos terão atingido 1,8 milhões de euros, fazendo um cálculo breve de três euros por metro quadrado.
O director regional, que já durante a manhã estivera no Ribatejo e nas Caldas da Rainha, explica que os danos do temporal cobrem praticamente todo o território do continente e não foram específicos da zona Oeste. Durante esta semana, os seus técnicos terão estado a visitar as explorações afectadas nesta região para fazer um levantamento que será entregue ao ministério de Assunção Cristas. Depois o governo decidirá sobre a abertura de uma linha de apoio para estas situações no âmbito do PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural).
Como qualquer linha de apoio terá uma componente de financiamento nacional, no estado actual das finanças públicas, o agricultores não sabem se poderão contar com a mesma generosidade e solidariedade do governo que tiveram aquando do temporal de 2009.
C.C.































A “Gazeta das Caldas” ignora hoje olimpicamente os apagões da EDP no fim-de-semana dos temporais. Que, como sabem todos os afectados, não são fenómeno isolado. Mesmo às portas da cidade de Caldas da Rainha, nos seus pequenos subúrbios, também há apagões com frequência.
Nesse sábado, a cidade tinha luz mas as zonas à sua volta num raio de vinte e tal quilómetros estiveram, até de madrugada e depois de novo no domingo, mergulhadas na mais abjecta escuridão. O temporal completou aquilo que o desinvestimento e a falta de manutenção da EDP gerou.
Seria natural que esta situação fosse noticiada, quanto mais não fosse no quadro das notícias e das apetecíveis fotografias relativas aos estragos provocados pelo mau tempo. Mas não foi o caso.
A “Gazeta” imita os políticos e as restantes criaturas que se têm por importantes no desprezo que votam ao “país real” que os rodeia. É uma reprodução melancólica da célebre frase “Lisboa é Lisboa e o resto é paisagem”, que também traz consigo a arrogância que ajudou ao empobrecimento do país.